Qual a mensagem do documentário Libelu – Abaixo a Ditadura? (2020, de Diógenes Muniz)



Antes de questionar um documentário que brada em seu título ABAIXO A DITADURA, quero deixar claro que sim, a principal ideia do documentário é de fato vilanizar a ditadura e ir contra qualquer aceno ao período, contando a história da tendência estudantil universitária Liberdade e Luta, que teve sua origem na Universidade de São Paulo no ano de 1975 (segundo o documentário), ou 1976 (segundo a sinopse disponibilizada pela distribuidora), supostamente indicando que há esperança nas universidades públicas do país de ainda surgirem movimentos parecidos para criar uma nova oposição ao atual governo proto-ditatorial. 


Primeiramente, que saudade do Temer,  adiantando a questão cinematográfica do documentário, ele não foge muito de um padrão já muito famoso pra quem está habituado com esse gênero: é filmada a entrevista de alguns dos participantes e são usadas fotos e filmagens de arquivo pra colocar o espectador a par das respostas dadas ao cineasta. O pouco que o inexperiente diretor Diógenes Muniz tenta fazer de diferente neste formato não ajuda, na verdade, chega a atrapalhar minimamente a desenvoltura do projeto, como linhas de áudio surgindo antes da imagem em tela em alguns momentos.

Marcos Sokol, um dos membros da Libelu e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores


Então vamos para a contextualização: o documentário nos mostra linearmente como foi formado a Libelu, através de uma organização política trotskista no Brasil após as derrotas da luta armada em 1975. Os seus fundamentos iam de desencontro a outros movimentos estudantis da época que prezavam valorizar a música nacional e tinham uma postura mais sisuda no combate a ditadura. A partir deste contexto, o documentário começa a ouvir a opinião de algumas pessoas que encabeçavam o movimento, e outras personalidades da mídia  que já passaram pelo movimento. Entregando a eles o mesmo material e construindo a narrativa através de suas lembranças. 

O documentário vai se arrastando por essa dinâmica durante os seus 90 minutos de duração até finalizar, explicitando algo que é senso-comum atualmente: as pessoas são revolucionárias na época de faculdade, mas depois que “a vida adulta chega”, quase ninguém consegue se manter preso a seus ideais. E chega a seu fim como começou, sem muita razão para existir. 


Mas afinal,  qual é a mensagem que o inexperiente diretor quer passar com esse insosso e simplório documentário?

A resposta mais curta é: nenhuma, parece que ele só queria contar uma história sem nenhuma invencionice ou toque pessoal. 

Mas a que eu realmente acredito, mas mais pelo exercício de escrever uma crítica a esse documentário,  é a de que é possível encontrar dois valores principais no documentário, a primeira, e inofensiva, é que o diretor começa a se enxergar com alguém que começa a perder seus ideais da juventude e conseguiu, de maneira pouco inspirada, transpor isso para o seu primeiro trabalho. A segunda, e muito mais ambiciosa, talvez seja ser mais um braço da ideia de que precisamos renovar nossas lideranças de esquerda, claramente com a ideia de enfraquecer o PT para a eleição de 2022. Tentando mostrar que seus membros hoje em dia, ou não seguem mais as ideologias de esquerda pois amadureceram, ou os que ainda fingem seguir, são extremamente passíveis de corrupção como Antonio Palocci, ex-chefe da casa civil e preso por crimes de caixa dois e que foi um membro atuante da Liberdade e Luta de Ribeirão Preto – SP, antes de entrar para o Partido dos Trabalhadores. 



Independente da perspectiva, e da ideologia trotskista ir de desencontro a minha, creio que o filme não deixa claro em momento nenhum sua intenção, e pra um espectador mais desatento, quase nada separa o documentário de um programa especial da GloboNews.


Nota em cima do muro, assim como o documentário.

Título Original: Libelu – Abaixo a Ditadura

Direção: Diógenes Muniz

Duração: 90 minutos

Elenco: Cleusa Turra, Antonio Palocci, Reinaldo Azevedo, Ricardo Pereira de Mello, Laura Baptista, Cadão e outros.

Sinopse: Liberdade e Luta foi uma tendência estudantil universitária surgida em 1976. Impulsionado por uma organização clandestina internacionalista, o grupo ganhou fama ao retomar a palavra de ordem “abaixo a ditadura”. Seus integrantes eram famosos pela irreverência e abertura cultural. Entre os anos 1970 e 1980, Libelu se tornou adjetivo, sinônimo de radicalidade e, para adversários, inconsequência política. Passadas quatro décadas, onde estão e o que pensam os jovens trotskistas que foram às ruas contra os generais?

Trailer:

E aí meus trotskistas? Vão conferir o documentário? Deixa a sua opinião aí.
 

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