Valérie Donzelli entrega uma personagem interessante, de fácil identificação devido suas falhas humanas e seus dilemas, por vezes sua personagem falha em tomar atitudes devido a insegurança, o que é coerente com muitas pessoas que se sentem presas em determinadas situações. A comédia, apesar de leve na maior parte, em momentos traz alguma quebra de parâmetro, como nudez total ou desvio de determinados clichês. Nota-se aqui a tentativa de por vezes, tomar caminhos diferentes do que a maioria das produções trazem. Ainda assim, uma aura lúdica permeia ao longo da obra, dando novamente tons leves e bonitinhos.
O roteiro ainda tenta filosofar aqui, flertar com outros gêneros ali (note uma cena musical), há uma mistura de ideias, nem todas bem executadas. Notre Dame é um filme híbrido, que não vai de forma profunda em nenhum dilema nem gênero que aborda, ficando apenas no flerte mesmo. Porém a curta duração e o elenco simpático valem a pena e nos convencem a acompanhar a jornada da protagonista.
Entre os coadjuvantes, destaque para Thomas Scimeca, o hilário e dependente ex-marido da protagonista, que serve como uma corrente, que prende e impede a personagem de evoluir. Através dele, Donzelli dialoga um pouco com o feminismo e a importância da independência feminina, embora sua complicada personagem custe a se desamarrar de certas situações. No geral, Notre Dame é uma obra excêntrica, que poderia ser mais, mas contenta-se com menos, trazendo momentos agridoces, algumas passagens artísticas, uma homenagem à Paris sem deixar de cutucar um pouco a política e suas obras públicas, além de trazer a odisseia da liberdade econômica e social de uma mulher divorciada em uma grande cidade. Despretensioso e gracioso, merece ser conferido.