Matéria de Natália Rosso:
Estamos chegando ao fim de um ano muito particular, que trouxe alguns desafios inéditos para a maior parte da população. Em meio a tantas tragédias, crises e estresse, surge uma pergunta: é possível fazer uma retrospectiva bem-humorada de tudo o que passamos neste ano, sem ser indelicado ou insensível?
A resposta é sim, com um humor afiado que não ironiza ou menospreza o sofrimento que acometeu milhares de pessoas mundialmente, mas que utiliza mais essa ferramenta para apontar o absurdo das situações que acompanhamos em 2020.
Isso é o que o especial de fim de ano da Netflix, chamado 2020 Nunca Mais nos apresenta. Ainda que atores estejam interpretando personagens fictícios nesse falso-documentário, as histórias comentadas são reais e de relevância, afinal, quem não foi afetado pela pandemia do coronavírus ou acompanhou os desdobramentos políticos da corrida presidencial norte-americana?
Não fosse pelos artistas conhecidos – como Samuel L. Jackson e Hugh Grant, por exemplo – e as piadas sórdidas inseridas em seus textos, essa produção passaria por uma tragicômica retrospectiva sem problema algum.
Do criador de Black Mirror, Charlie Brooker, esse é um filme que critica sem medo o movimento antivacina, apoiadores da política conservadora e os supremacistas brancos, inclusive, tratando com muita sensibilidade o assassinato de George Floyd e os desdobramentos da sua morte, seja com os protestos organizados ao redor do mundo ou a ignorância mais uma vez escancarada no discurso dos que justificam a violência policial em casos como este. Destaque aqui, para a fala das personagens de Leslie Jones e Samuel L. Jackson, com um apontamento brutal sobre racismo velado – e escancarado também.
A parte cômica, que faz um filme como esse tão carregado de temas pesados ser divertido, vem com a exposição dos grandes líderes mundiais e suas atitudes frente às adversidades de 2020. Donald Trump, o maior personagem dessas cenas se une aos personagens criados especialmente para o filme, que infelizmente representam muitas pessoas reais por aí – como o millennial “aliado” às causas sociais cujo apoio se resume à uma postagem nas redes sociais, ou a “mãe de família” que não quer abrir mão de suas “tradições” (lê-se: preconceitos). Não sobrou nem para o Presidente Bolsonaro, e ele também virou piada.
De uma maneira geral, é um filme que vale a pena ser assistido, para dar algumas risadas e também para reparar mais um pouco na hipocrisia dos nossos líderes. Dificilmente iremos esquecer de 2020, e mesmo repleta de piadas, uma retrospectiva desse ano não é fácil de digerir. Assim sendo, finalizo essa recomendação lembrando a todos que devemos respeito às vítimas da Covid19, e que infelizmente a pandemia ainda não acabou.
Lembre-se sempre:
#VidasNegrasImportam #UseMáscara