Crítica: A Maldição da Mansão Bly (2020, de Mike Flanagan)


Retornamos à Maldição da Mansão Bly, agora com o benefício de certa distância da série, para pensarmos seus elementos de forma mais aprofundada. Você pode conferir nossa matéria anterior sobre a A Maldição da Residência Hill aqui e, caso ainda não tenha assistido essa segunda temporada, pode ler nossas Primeiras Impressões aqui. Essa matéria irá conter spoilers, então é ideal que você assista a temporada antes de lê-la.

SPOILERS


Embora comparações entre essa temporada e sua antecessora sejam inevitáveis, acredito ser um pouco injusta a forma como A Maldição da Mansão Bly foi frequentemente citada como a mais inferior das duas. De uma forma estranhamente similar ao relacionamento conflituoso entre Viola (Kate Siegel) e Perdida (Katie Parker), as duas irmãs que existem no centro do conflito passado da Mansão Bly, as duas temporadas compartilham elementos e recursos narrativos entre si, mas progridem em direções bastante diferentes ao longo do tempo. O uso frequente de flashbacks e mais frequente ainda de longos relatos expositivos pelos personagens são alguns dos principais elementos que A Mansão Bly traz de A Residência Hill, mas existe uma diferença fundamental entre a abordagem de cada temporada, especialmente na maneira como as dinâmicas de reviravoltas são utilizadas. A Mansão Bly eventualmente encontra seu próprio caminho e o segue com confiança, por mais divisivo e ocasionalmente inconsistente que ele seja. 

Essa confiança permite que a temporada se mova de episódio em episódio sem muitas considerações pela coesão geral da temporada, e nós vamos junto, em parte pelas expectativas criadas após a experiência com A Residência Hill – sejam elas positivas ou negativas. Para um espectador disposto e habituado ao estilo lento e deliberado de Flanagan, é provável que nada pareça errado, especialmente por passarmos boa parte do tempo com um elenco de personagens simpáticos e mais leves do que a família traumatizada de A Residência Hill. Mesmo quando as coisas não parecem fazer tanto sentido, é bastante prazeroso passar tempo com Hannah (T’Nia Miller), a governanta, ou Owen (Rahul Kohli), o cozinheiro que adora trocadilhos. A atmosfera de horror criada durante os primeiros episódios também se mantém forte mesmo quando entendemos que os fantasmas não são realmente ameaças, e acredito que os momentos com Dani (Victoria Pedretti) vagando pela mansão de madrugada carregam consigo um sentimento quase pernicioso de algo macabro à espreita em cada cômodo e cada canto da enorme propriedade. 


Infelizmente, os eventuais problemas da temporada são amplificados justamente pelo contraste entre os pontos positivos e negativos da história. A falta de foco e de uma visão unificada parece fragmentar a temporada em uma série de acontecimentos que se conectam de maneira frágil, tendo sua importância subitamente reduzida ou recontextualizada às pressas em favor de uma nova direção súbita da trama. Se há uma comparação válida a fazer com A Residência Hill, é que A Mansão Bly tem muita dificuldade em fazer sentido dos elementos que tenta conectar, tornando-os irrelevantes e ou subentendidos demais. Embora seja possível conectar essas características com alguns dos temas abordados na temporada, isso parece mais um trabalho a ser feito pelo espectador do que algo intencional por parte do roteiro. 

Ainda assim, a totalidade da temporada se mantém forte e emocionante, com os problemas acima sendo mais relevantes apenas como uma análise da estrutura e das escolhas feitas por Flanagan e sua equipe. O romance entre Dani e Jamie (Amelia Eve), embora um tanto subdesenvolvido, é simplesmente divertido de assistir, e as duas atrizes combinam os aspectos conflituosos da personalidade de suas personagens em uma dinâmica de relacionamento bastante envolvente. De forma similar, apenas o episódio em que descobrimos o passado de Hannah já seria suficiente para elevar a temporada, conseguindo criar emoção e choque mesmo com uma reviravolta previsível – uma característica clássica da escrita de Flanagan, que frequentemente se apropria de clichês e os faz funcionar no contexto de um bom desenvolvimento e caracterização dos personagens. 


Em conclusão, os problemas e os acertos da temporada parecem surgir de um mesmo lugar: a ambição de Mike Flanagan em criar algo diferente e experimentar com as ferramentas usadas não apenas em A Residência Hill, mas também em seus outros trabalhos. Os excessos que diminuem o impacto da trama são os mesmos que, em outros contextos, elevam momentos que poderiam ser repetitivos para algo mais marcante, e acredito que essa troca é melhor do que termos uma temporada que apenas repetisse o que foi feito em A Residência Hill. Apesar dos problemas estruturais e das outras questões colocadas nessa crítica, A Maldição da Mansão Bly é uma continuação sólida e parece apontar um caminho promissor para as próximas temporadas da série A Maldição.


Título Original: The Haunting of Bly Manor

Direção: Mike Flanagan

Episódios:

Duração: 55 minutos

Elenco: Carla Gugino, Victoria Pedretti, Amelia Eve, Amelie Bea Smith, Benjamin Evan Ainsworth, Rahul Kohli, Tahirah Sharif, T’Nia Miller, Henry Thomas, Kate Siegel, Oliver Jackson-Cohen

Sinopse: Fugindo de seu passado complicado, a jovem Dani Clayton (Victoria Pedretti) aceita o trabalho de tutora de dois irmãos órfãos – Miles (Benjamin Evan Ainsworth) e Flora (Amelie Bea Smith) – em uma reclusa mansão, mas logo desconfia de forças sobrenaturais no local.


Trailer:

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