Blackout é, sem dúvidas, um filme sobre os nossos tempos. No curta, o futuro do Rio de Janeiro ainda carrega o abuso de autoridade, as violações dos direitos humanos nas favelas, o machismo e, principalmente, o racismo.
Em 2048, o governo dispõe de uma técnica de controle social que, visto pela classe opressora como um benefício, se disfarça uma política higienista. Homens brancos, engravatados, invadem uma festa de rua e, com manejo de poder, parecem agir como a polícia militar opera, hoje, na cidade.
A busca dos homens, no local, é pela hacker Luana, com uma performance consistente de Adrielle Vieira. Luana tem uma boa apresentação, a construção da personagem é sólida do figurino e maquiagem até o cenário em que ocupa. De início, fica possível compreender a ação e as intenções da personagem. A luta de Luana, jovem e negra, associa sua inteligência e liderança à capacidade de subverter o sistema vigente na busca por liberdade e democracia.
Presa, a protagonista é interrogada em uma sala branca por um investigador, interpretado por Marcéu Pierrotti. No ápice do curta, duas escolhas de filmagem privilegiam o olhar centrado de Luana para a câmera, que dialoga com o espectador de modo fabuloso.
De modo geral, Blackout utiliza ferramentas que funcionam muito bem nas narrativas de ficção científica e afrofuturistas, sobretudo as estado-unidenses. A montagem do filme, somada à consciência corporal de Adrielle Vieira, nos fornece uma expressão de nível internacional. Alguns aspectos da fala dos personagens, por vezes, pareciam seguir um roteiro endurecido. O fato, talvez, se associe na própria estrutura narrativa norte-americana.
Este último ponto, no entanto, não atrapalha a condução do curta que tem um desenho atualíssimo. Blackout é uma boa aposta para os prêmios do Festival de Gramado.

Duração: 18 min
Trailer: