Qual personagem de Stephen King seria a pior companhia durante a quarentena?

Não é novidade para ninguém que Stephen King se consagrou como mestre do terror com mais de 400 milhões de livros vendidos, 54 livros publicados em mais de 40 países e cerca de 50 prêmios literários. Ah, e isso tudo em seus 72 anos de vida. Com um currículo tão invejável e histórias tão marcantes,  principalmente por King sempre buscar na origem de suas personagens o que as motiva a agir do modo como agem — era impossível a indústria cinematográfica não parar para olhar o que aquele rapaz do Maine tinha a dizer. Não é de surpreender, portanto, o fato de haver cerca de 49 adaptações, para minisséries ou filmes, das obras de King e, ainda hoje, muitas ganharem releituras.

Pensando em toda a genialidade e complexidade de universos e personagens criados por ele, e tendo assistido uma entrevista sua durante a quarentena, na qual respondeu qual personagem de suas obras seria o pior parceiro de quarentena, resolvi trazer a brincadeira reflexiva para o site do Minha Visão do Cinema. Nenhum dos participantes assistiram, em momento algum, ao vídeo de King ou viram a escolha uns dos outros, de modo a manter ao máximo a brincadeira espontânea e verdadeira — bem, como autora e editora da matéria, mudei minha escolha ao final por motivos que depois serão explicados. O resultado você confere abaixo, com o vídeo de King ao final, para quem quiser saber qual deles o mestre escolheu. Vamos aproveitar e fazer uma aposta para ver quem acerta? Já comenta lá embaixo seu palpite, mas sem roubar, hein?


Guilherme Kaizer

Personagem escolhido: Annie Wilkes (Misery – Louca Obsessão) 
Eu fiquei muito entre o Jack de O Iluminado ou a Annie de Louca Obsessão, porque eu pensei que nas duas situações as histórias são meio de “quarentena”. Mas eu acho que a Annie seria pior, já que se ela me amarrasse para torturar seria muito pior do que fugir do Jack por um hotel de luxo. Solto eu consigo correr e revidar. Também não escolhi o Pennywise, pois já está batido por estar mais fresco na mente, acho. Imaginei que a maioria fosse escolher ele.


Talvez a pior seja a Christine. Quero dizer, ela é um carro e você não pode sair de casa, então… Mas isso é só uma conjectura, eu escolho a Annie.


Ettore Migliorança
Personagem escolhido: Cujo (Cujo)

Companhia na quarentena é sempre algo necessário quando se está isolado, pode ser humana, mas muitas as vezes pode ser de um animal. Pequenos animais domésticos podem ser carinhosos e transmitir um aconchego que só mesmo o reino animal pode nos oferecer.


Porém, no caso de um São Bernardo raivoso e violento como o Cujo, isto já é outra história. Um cão enorme que poderia dar aconchego, vindo de um São Bernardo que foi imortalizado em filmes infantis como a cine-série Beethoven, mas como um cão raivoso que pode te caçar a cada segundo, aí ficaria assustado.




Primeiro, não conseguiria ficar num mesmo local com ele, pois ele poderia me morder a cada segundo e iria ficar me caçando a cada momento na casa. Possivelmente me trancaria no meu quarto e esperaria o cachorro dormir para conseguir ir à cozinha e cozinhar algo para me alimentar, e rápido, senão o Cujo me pegaria e me estraçalharia de maneira cruel.


Talvez saísse de casa em alguns momentos em busca de uma vacina contra raiva, mas teria que lutar contra o Cujo para conseguir escapar e assim sobreviver.




Amanda Sperandio
Personagem escolhido: Al Marsh (IT – A Coisa)


Refletindo sobre essa pergunta eu pensei quase instantaneamente na Annie e no Jack, pois ambas histórias se passam em ambientes relativamente fechados e com um número bem restrito de pessoas. A questão a ser considerada para a escolha definitiva era qual Jack eu levaria em conta, o do Kubrick ou do King. O Jack Nicholson trouxe uma essência sombria e beirando à loucura para o personagem desde o início, que me lembrou muito seu trabalho em Um Estranho no Ninho. Com esse Jack não tem muita conversa, ele era uma bomba relógio prestes a explodir. 


O Jack que King construiu, no entanto, e que Steven Weber conseguiu traduzir muito bem em tela, — na minissérie de televisão roteirizada pelo próprio King — é um homem que claramente está enfrentando uma série de problemas e conflitos internos, mas de modo geral é uma boa pessoa tentando voltar a ser um bom pai e marido para sua família. Inclusive o ator me surpreendeu bastante, afinal depois de ver todo o brilhantismo de Nicholson em cena as expectativas são altas, mas é a transformação progressiva do personagem e seu lado humano que tornam o trabalho ainda mais desafiador e cativante.




De todo modo, fugir de Nicholson ou Weber em um grande hotel parece bem mais fácil do que tentar escapar de uma psicopata estando presa a uma cama, sendo dopada com remédios e tendo meus pés cortados/esmagados (depende se estamos falando do livro ou do filme aqui). E vamos combinar que Kathy Bates dá uma aula de atuação incrível nesse filme? Uma boa opção também seria o Louis, de Pet Sematary. Ele não é vilão nem nada, mas com o jeito desligado e meio impulsivo dele é capaz de deixar todos morrerem e ainda nos reviver de uma forma nada agradável. Não, muito obrigada! Acho que dá para perceber que são as personagens humanas de King que sempre me deram mais arrepios e foi aí que cheguei na minha resposta: o pai da Bev.


Quando se é uma garota/mulher o que pode ser mais assustador do que um homem? Aliás, o que é pior do que temer o homem que mais deveria nos amar e proteger? Beverly não se sente segura em casa e não é para menos. Os indícios de abuso estão ali para qualquer um com o mínimo de bom senso, além da agressão física, verbal e psicológica constante a qual ele submete a garota. Francamente, com  homens como Al no mundo, eu preferia entrar no bueiro com Pennywise. Aliás, não à toa ele toma a forma do sr. Marsh para assustar Bev, o pai é a coisa que a menina mais teme na vida e acho que isso já é dizer bastante sobre nossa sociedade como um todo.




Igor Motta

Personagem escolhido: Mrs. Carmody (O Nevoeiro)

No universo de Stephen King, algumas situações exatas, ou parecidas, com uma quarentena já ocorreram. A ideia de um isolamento social, seja em outra dimensão, em uma cidade sitiada ou um mundo em apocalipse, é recorrente e extremamente rentável. Mas, se eu tivesse de apontar o pior personagem dentro desses quesitos no universo de King, eu sem sombra de dúvida apontaria Mrs. Camody de O Nevoeiro. Nada como ficar isolado em um pequeno mercado, junto com uma fundamentalista cristã ditando regras e condenando pessoas à morte, não é mesmo?


Natália

Personagem escolhido: Annie Wilkes (Misery – Louca Obsessão)


Confesso que não tive dúvida alguma na escolha da personagem, afinal o nome do filme diz muito sobre ela. Louca Obsessão nos apresenta uma enfermeira solícita que, com o passar do tempo, vai se transformando. Imagine você estar preso em uma quarentena com alguém que só segue as próprias regras e ainda te obriga a fazer o mesmo? Anne parece aquelas pessoas que dizem que é importante seguir a lei desde que a lei seja imposta por ela (se é que você me entende). Seria aquele tipo de pessoa que te obriga a usar máscara, mas não faz o mesmo e não teria o mínimo de educação com os outros. Ter ela e pessoas como ela de companhia seria, a meu ver, um grande desastre.




Léo Costa
Personagem escolhido: Mrs. Carmody (O Nevoeiro)

No ótimo e subestimado O Nevoeiro, a atriz Marcia Gay Harden interpreta a senhora Carmody, uma pessoa religiosa e que constantemente julga as atitudes dos outros. No decorrer da trama, conforme os personagens tem de conviver juntos, presos no supermercado, pois há criaturas assassinas na névoa lá fora, o roteiro aborda diversas questões sociais, dentre elas o fanatismo. A senhora Carmody, acreditando que o que estão passando trata-se de um castigo divino, cria uma seita religiosa dentro do estabelecimento, praticando até mesmo sacrifícios.

Esse é o exato ponto alto do filme, onde o fanatismo religioso, por ser algo real no nosso mundo, torna-se muito mais assustador que os monstros da ficção. Brilhante e assustadoramente atuada por Harden, a senhora Carmody é uma das personagens mais reais, e portanto perturbadoras, presentes em uma obra baseada em livros do mestre Stephen King.

Miguel Rodrigues
Personagem escolhido: Annie Wilkes (Misery – Louca Obsessão)

Anne Marie Wilkes Dugan. Aquela moça simpática, que leva comidinha na cama para um acidentado e que se ele não fizer o que ela quer, coitado. Imagine ficar uma quarentena inteira com ela. No começo poderia ser mil maravilhas. Café na cama. Um verdadeiro conto de fadas. Mas fique sem fazer o que ela quer. Ou deixe ela se apegar demais. Se tiver sorte, fica com dois pés quebrados. Se não tiver, o que será que poderia acontecer de pior? Tortura, com certeza. Então melhor ficar sozinho na quarentena né? Ou melhor, adote um cão ou gato. No máximo o gato vai achar que é seu dono, mas não a ponto de te matar. E o cachorro vai achar que você é Deus na terra.


Ulisses Forattini
Personagem escolhido: George Odabi (Escuridão Total Sem Estrelas)

George Odabi é um dos personagens mais diabólicos de Stephen King. Não é um dos mais conhecidos. Ele é o antagonista do conto Extensão Justa, que aparece no livro de contos Escuridão Total Sem Estrelas, de 2010. O protagonista do conto, Dave Streeter, é diagnosticado com câncer terminal no cérebro e possui pouco tempo de vida. Em um de seus passeios de carro, Dave encontra George Odabi por acaso, em uma tenda atrás de um aeroporto, localizado em uma rodovia de Derry (o mesmo local onde se passa a história de It – A Coisa). O cínico e misterioso comerciante propõe um negócio aos seus clientes: extensão justa por preço justo. A extensão seria prolongar algo, em troca por uma porcentagem da renda mensal do indivíduo e passar o mal adiante. Ou seja, Dave poderia se livrar de seu câncer terminal, mas apenas se conseguisse passá-lo para uma outra pessoa! 

Passar a quarentena com Odabi seria pior do que está! Imagina só, eu acordar e vê-lo na sala, me chantageando com suas extensões. Eu poderia me livrar da quarentena para sempre se eu passasse esse mal para uma outra pessoa. Ou poderia conseguir mais tempo para ver todos os filmes que estão na minha lista e conseguir fazer meu TCC.

O personagem ajuda a criar uma história cheia de reviravoltas, tanto que tem o potencial de um longa. Imagina só uma adaptação por uma das empresas mais associadas ao terror moderno, como a BlumHouse ou a A24? Além disso, não seria um filme com um orçamento muito alto, o que poderia significar um negócio interessante.


Bem, como já deve ter percebido, tivemos algumas personagens bem recorrentes em nossa lista. Confesso que minha primeira escolha havia sido Annie, com toda sua “louca obsessão”, mas com os textos chegando e ela liderando os votos tive a chance de rever algumas personagens menos lembradas quando pensamos nos “vilões” das histórias. Aqui embaixo você encontra o vídeo para conferir quem foi o(a) escolhido(a) do mestre King!

Resultado: Annie excluída da convivência social por voto da maioria! (Re)vemos você em breve, mas apenas em filme e de preferência com os braços e pernas bem soltinhos e longe de você!

“Monstros são reais e fantasmas são reais também. Vivem dentro de nós e, às vezes, eles vencem” – Stephen King

E você, concorda com os escolhidos da lista? Qual seria a sua escolha?Deixa aí embaixo nos comentários 😈




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