Crítica: Better Call Saul – 5ª Temporada (2020, de Vince Gilligan)

Comparar Better Call Saul com sua série originária, Breaking Bad, é inevitável. Mas, contrariando expectativas de uma série prequel de um clássico, BCS consegue, arrisco dizer, ser tão sensacional quanto a saga de Walter White. Com roteiros afiados, atuações memoráveis e uma cadência narrativa que segue a famosa slow burn, a quinta temporada chega em seu ápice, e já nasce como um novo marco na tv americana.






É imprescindível ressaltar a belíssima direção de fotografia, um nível acima de grande parte dos produtos televisivos da atualidade, acarretando numa impecável produção com ares cinematográficos. A exemplo disso, o oitavo episódio, Bagman, contempla desde planos abertos simétricos no deserto até planos fechados, como o realizado em Mike (Jonathan Banks, em ótima atuação). Seja na paisagem da fronteira México/EUA, no design de produção ou nas atuações, essa variedade técnica, por sua vez, se entrelaça com a qualidade artística das performances e gera picos intensos no trabalho dramático que a série se propõe a fazer. Aliado à cinematografia, temos também o melhor trabalho de figurino do Universo Breaking Bad, com um Jimmy/Saul cada vez mais extravagante em seus trajes, algo que reflete – e muito -, na evolução da persona aqui apresentada.





Por falar em personas, é nos apresentado uma gama de personagens notáveis, cada um com seus anseios, medos e profundas ambições. Felizmente, o muito bem dirigido elenco dá conta de toda complexidade que envolve essas pessoas, com destaque para o antagonista Lalo, interpretado com maestria por Tony Dalton. Seu personagem é um misto de sadismo com ganância e cinismo; um vilão que se utiliza da violência apenas como último recurso, pois, ao contrário de Tuco Salamanca, sua presença é tão ameaçadora que poucas pessoas têm coragem de despertar o animal dentro dele. Mas quando despertado, é implacável.





Para além de Lalo, precisamos falar sobre Rhea Seehorn. Dotada de uma dualidade muito bem explorada pelo showrunner Vince Gilligan, especialmente nessa temporada, Rhea constrói uma Kim Wexler tão ambígua quanto Saul, na melhor performance da série ao lado de Dalton, dupla que, ainda que interaja pouco, merece levar todos os prêmios possíveis por suas atuações marcantes. Junto a Giancarlo Esposito, que desde Breaking Bad mantém um Gus Fring consistente até o talo, Bob Odenkirk deixa de ser o grande destaque da série, sendo de importância dividida pelo elenco talentosíssimo. 





É claro que, mesmo que agora parecendo mais uma peça nesse gigantesco xadrez que é a série, Saul tem sua linha narrativa muito bem definida, e, como de praxe, dual. Existe Jimmy, amante, amigo e carinhoso. E existe Saul, bandido, esperto e até mesmo mesquinho quando necessário; um “sobrevivente nato”, como diria Lalo. No entanto, é claro, a série trata do grande conflito entre essas duas personas e, na finale, esse conflito fica mais evidente do que nunca, e o protagonista claramente irá enfrentar duras escolhas no futuro.


Toda essa dinâmica, indubitavelmente, serve aos roteiros da série, que envolvem viradas importantes que são construídas de maneira densa, lenta e articulada, além de diálogos inteligentes e eficazes. Apesar da demora de Gilligan para cruzar certos arcos, sendo um pequeno defeito narrativo que permeia BCS desde o início, o propósito do showrunner fica claro no encerrar da temporada. Assustadoramente, tudo parece estar no lugar que deveria, criando um clímax extasiante na derradeira season finale, Something Unforgivable, que abre com maestria as possibilidades para o encerramento na sexta e última temporada.

As cartas estão na mesa. Com o hype lá no alto, resta-nos esperar para conferir o final da saga de Jimmy/Saul, Lalo, Kim, Gus, Mike e Nacho e, se depender do que foi apresentado aqui, será inesquecível. Ainda sem previsão de estreia e estando no meio de uma crise global pandêmica, possivelmente esse final demorará mais do que o esperado, conferindo mais tempo para que nós, meros telespectadores, criemos teorias e imaginemos o que o futuro desta brilhante série nos aguarda.



Direção: Peter Gould , Gordon Smith, Bronwen Hughes, Michael Morris, Norberto Barba, Jim McKay, Melissa Bernstein, Vince Gilligan, Thomas Schnauz


Episódios: 10


Duração: 50 minutos


Elenco: Bob Odenkirk, Rhea Seehorn, Giancarlo Esposito, Jonathan Banks, Michael Nando, Patrick Fabian, Tony Dalton


Sinopse: Agora que recuperou a sua licença e está finalmente livre da sombra do irmão, Saul Goodman continua sua cruzada como um “advogado criminoso”. Enquanto isso, Mike Ehrmantraut continua trabalhando para Gus Fring.


Trailer:

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