Crítica: O Oficial e o Espião (2020, de Roman Polanski)

Ainda com as acusações sombrias de estupro envolvendo uma menor de idade no final da década de 70, o cineasta Roman Polanski acaba de lançar o filme O Oficial e o Espião. O diretor é foragido da justiça norte-americana desde 1978 e insiste em estabelecer residência na França, fugindo de uma deportação e consequente penalização por seu crime, e neste recente produto, ele se utiliza de um fato histórico e realmente injusto para defender seu egocentrismo em analogias explícitas, como o próprio já admitiu em entrevistas a respeito dessa obra.

Nesse embate entre a imparcialidade na análise de uma obra diretamente relacionado a vida de seu criador, o filme arrasta por seus 132 minutos de maneira massante. Baseado no livro An Officer and a Spy (2013), de Robert Harris, a história real levou o roteiro adaptado – já premiado na edição de 2020 do César, o Oscar francês – a sugerir uma projeção metafórica da pessoalidade do vitimizado Polanski.
Se tornam imagéticas as críticas quando citamos a história do protagonista, o capitão Alfred Dreyfus, injustamente acusado de traição pelo exército francês. Este que recebe a ajuda do mais novo coronel Georges Picquart – um provável segundo alter ego identificado pelo diretor – tentando a todo custo provar a inocência do capitão, usando como justificativa a perseguição ao judaísmo e a falsidade dos documentos acusatórios.


A condução do espectador ao período de 1885 funciona perfeitamente, carregando críticas ao preconceito histórico contra os judeus, declamando a xenofobia e o nacionalismo exacerbado como sendo não apenas exclusividade dos nazistas.
Nos momentos chaves o suspense surge, mas nada de surpreendente. Infelizmente, mais uma obra dispensável; não seria se fossemos capazes de ignorar o fato de ter sido feita pelo ponto de vista de um cineasta pouco confiável, tragicamente estragando a beleza de um fato histórico e perdendo a real essência de comparações aos tempos atuais e seus preconceitos infindos.



Título Original:  J’accuse

Direção: Roman Polanski

Duração: 132 minutos

Elenco: Jean Dujardin, Louis Garrel, Emmanuelle Seigner.

Sinopse: Oficial e o Espião se passa em Paris, final do século 19. O capitão francês Alfred Dreyfus é um dos poucos judeus que faz parte do exército. No dia 22 de dezembro de 1884, seus inimigos alcançam seu objetivo: conseguem fazer com que Dreyfus seja acusado de alta traição. Pelo crime, julgado à portas fechadas, o capitão é sentenciado à prisão perpétua no exílio. Intrigado com a evolução do caso, o investigador Picquart decide seguir as pistas para desvendar o mistério por trás da condenação de Dreyfus.

Trailer:


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