Crítica: Mad Men (2007 – 2015, de Matthew Weiner)

92 episódios, 7 temporadas e um grande número de prêmios, Mad Men ganhou notoriedade e aclamação ao longo de seus anos no ar e continua relevante. Eu, mesmo tendo assistido tudo só em 2019, me tornei fã e consigo entender o motivo de tanto sucesso.

Criada por Matthew Weiner, a série se passa nos anos 60 e mostra o dia a dia de uma agência de publicidade em Nova York. Foi protagonizada por Jon Hamm como Don Draper, sendo seu maior trabalho e personagem mais marcante. Com uma entrega pesada e dramática, sua interpretação como um homem sério, de poucas palavras, decidido e mulherengo convence e ele consegue transitar para outra camada, de alguém que também é confuso, perdido, deprimente e solitário, de tal forma que se torna fácil mergulhar no universo que nos é apresentado.

A série é composta por diálogos inteligentes que fazem parte de uma narrativa consistente, que não é apressada e usa seu próprio tempo para se desenvolver. Mad Men atinge pontos altos quando mostra acontecimentos históricos reais, como o assassinato do presidente estadunidense John F. Kennedy, do ativista político Martin Luther King e a chegada do homem à Lua. Assim, entrelaça esses eventos com a trama da série, revelando o impacto que causam nos personagens, o que transparece em seus semblantes.


A ambientação da série é excelente! A fotografia, o design de produção e o figurino trazem a essência da década de 1960, nos fazendo acreditar que estamos realmente contemplando aquele período. Há muitos planos abertos que mostram apenas um dos personagens em algum edifício ou lugar da cidade, ressaltando o isolamento e a solidão. Essas cenas lembram bastante as obras do pintor norte-americano Edward Hopper (1882-1967), que é uma grande influência no cinema.


Nome da obra: Office in a Small City (1953)

Pintura mais famosa de Hopper: Nighthawks (1942)



Mad Men também trabalha com a questão do machismo e racismo estrutural, visando a dificuldade de mulheres e negros se inserirem no mercado de trabalho, assim como a falta de apreciação pelos seus esforços. Em representações mais fortes estão Peggy Oslon (Elisabeth Moss) e Joan Holloway (Christina Hendricks), duas mulheres com talento e ambição, mas o menosprezo que recebem na área profissional atrasa o caminho de cada uma. Ambas as atrizes estão fenomenais e sempre roubam a cena. Outra figura importante é Betty Draper (January Jones), que possui o arco mais triste ao longo de toda série. Conseguimos observar como ela sofre com uma vida que não queria ter, mas se sente constantemente forçada a manter a boa aparência.


Poderia ficar horas e horas falando sobre cada personagem, sejam aqueles que aparecem desde o começo da série, ou os que vão chegando ao longo das temporadas, mas para resumir, cada um deles possui sua particularidade, o que nos deixa presos e curiosos com a trama. Os arcos são interessantes e as incríveis atuações reforçam o texto sagaz.

Por a série representar a sociedade dos anos 1960, é impossível não ficar com raiva de (quase) todos os personagens masculinos e suas atitudes repulsivas, principalmente se você for mulher. O troféu de pior homem fica justamente com o protagonista Don Draper, em grande parte pelas incontáveis traições que ele comete. 


Mas Mad Men não traz apenas o lado ruim da década, há também o rico movimento artístico. Descobrimos que Don é cinéfilo, logo vemos muitas menções a filmes estreados no período correspondente, como A Noite (1961), Adeus, Amor (1963) e Planeta dos Macacos (1968). As músicas também não poderiam ser deixadas de lado, já que a década de 60 tem o melhor cenário musical (pelo menos é o que eu acho). Artistas como Bob Dylan e os Beatles são citados e compõe a trilha sonora ao lado de outros grandes nomes. Até a canção brasileira Água de Beber, composta por Tom Jobim, aparece em um dos episódios.


Há muitos momentos icônicos durante a série, cenas musicais, delírios dos personagens sob efeito de drogas ou simplesmente loucuras cometidas dentro do escritório. Mas nenhum consegue superar o melhor episódio: The Suitcase, o sétimo da quarta temporada. Focado em Donald Draper e Peggy Olson, a construção narrativa é perfeita, abordando conflitos entre os dois personagens até chegar no respeito e cumplicidade de um pelo outro.


Felizmente a série começa e termina no mesmo nível, super bem, diferente de outras que não nos deram esse gostinho (cof cof Game of Thrones). O final de Mad Men é sensacional e teve um impacto profundo em mim, eu não conseguia parar de chorar no último episódio, em especial nessa cena:




Esse momento nos mostra a tamanha vulnerabilidade do protagonista, é emocionante e especial pois essa camada de Don Draper é raramente exposta e  justamente por isso que quando ela finalmente chega o resultado é fantástico. A série não impressiona apenas nesse aspecto, mas sim em sua totalidade. Personagens complexos, com atuações extraordinárias dentro de roteiros profundos e visual deslumbrante, Mad Men é uma obra-prima!




Título Original: Mad Men


Direção: Matthew Weiner, Phil Abraham, Michael Uppendahl, Jennifer Getzinger e outros.


Episódios: 13 por temporada


Duração: 47 minutos


Elenco: Jon Hamm, Elisabeth Moss, Vincent Kartheiser, January Jones, Christina Hendricks, John Slattery, Kiernan Shipka, Jared Harris, Aaron Staton, Robert Morse, Jessica Paré e outros.


Sinopse: A série acompanha uma agência de publicidade, localizada em Nova York, durante a década de 60, focando na história do intrigante Donald Draper.


Trailer:

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