Vencedor da categoria de fotografia no National Society of Film Critics Award, Retrato de Uma Jovem em Chamas, vem se destacando positivamente em premiações ao redor do mundo, e aparece forte como candidato a duas indicações no Oscar, Melhor Filme Estrangeiro e, justamente, Direção de Fotografia para a cineasta Claire Mathon, conhecida por também assinar a cinematografia do icônico Um Estranho no Lago.
O filme realizado por Céline Sciamma, responsável também pela direção e roteiro do conhecido Tomboy, um retrato sensível acerca da identidade de gênero de uma criança, traz dessa vez uma história que acontece no Século XVIII onde uma pintora chamada Marianne, é contratada para fazer o retrato de uma jovem chamada Helóise para ser enviado a seu futuro esposo, mas a moça não aceita ser pintada pois é um casamento indesejado. Marianne então finge ser contratada pela mãe de Helóise para ser acompanhante de passeio da moça. E durante suas longas caminhadas pela ilha, a pintora guarda os trejeitos da jovem para pintar durante a noite.
Um dos pontos altos do filme é a sutileza em todas as suas camadas. Na sequência inicial ele já mostra que é uma história completamente feminina: os homens não são importantes nessa história e tampouco terão alguma participação relevante durante o filme. Mas tudo isso de maneira tranquila e quase subjetiva, assim como a crescente tensão sexual entre as duas protagonistas, que está posta antes mesmo delas se encontrarem, mas que vai se desenvolvendo de maneira lenta e com muita calma. Sempre apostando no uso da sonoplastia para pontuar a monotonia de estar na ilha deserta e numa casa tão grande com poucos afazeres. O barulho de vela, por exemplo, é constante na trama, mesmo em algumas cenas durante o dia, pra nos remeter a algo extremamente interiorano, isolado.
A fotografia, outro grande destaque do filme, também acompanha o ritmo do roteiro, com takes longos e com a câmera se movimentando de maneira vagarosa, mas constante. É genial como a obra aposta em sua movimentação de câmera, sempre à espreita, procurando o melhor ângulo pra contar a história e tentando se adequar a movimentação das atrizes que faz de uma cena inicialmente simples, como um plano e contra-plano parecer uma bela pintura, casando com o olhar de Marianne.
Além das boas atuações da protagonista, a criada Sophie se destaca ao fazer o papel da ponte entre a realidade distinta das duas, também serve como alívio cômico, de certa maneira, e ainda situa Marianne à realidade de Helóise para fazer com que a pintora vá compreendendo a psiquê de sua musa. Além destes papéis na trama principal, Sophie tem a subtrama de sua gravidez que é uma parte muito interessante para a história, a moça não quer ter o filho e enquanto as outras duas mulheres começam a se envolver, ela tenta abortar a criança que carrega no ventre, culminando em uma das cenas mais impactantes do cinema nos últimos anos.
Uma cena de aborto, ao lado de uma criança de meses de idade, é tão significativa como igualmente bela, onde o espectador prende a respiração por aqueles segundos (ou serão minutos?) do procedimento realizado, sem entender exatamente o que sentir diante daquilo, que deixa um pouco a sutileza de outras cenas de lado e escancara uma realidade incômoda.
Todos os defeitos do filme ficam reduzidos a história superficial contada aqui. O tema de pintor e modelo num romance proibido em séculos passados já está muito batido, e o fato de ser um casal homossexual não é o necessário para subverter este tema comum e trazê-lo como uma quebra do padrão digno de nota. Além de que momentos de envolvimentos, brigas e reconciliações entre as protagonistas são colocados de maneira artificial fazendo com que quem assiste perceba que algumas cenas só estão ali para a trama ter sua continuidade e seu desenrolar.
O filme também faz um certo mistério sobre o rosto da moça do retrato, que só é revelado no segundo ato do filme, mas o trailer e as imagens promocionais parecem não fazer a mesma questão da diretora em esconder a atriz, causando à obra como um todo um estranhamento, pois, alguns minutos do filme são dedicados ao mistério que envolve essa curiosidade da protagonista.
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Sério gente, imagina essas imagens numa tela de cinema. |
Título Original: Portrait de la jeune fille en feu
Direção: Céline Sciamma
Duração: 120 min
Elenco: Noémie Merlant, Adele Haenel, Luana Bajrami e Valéria Golino
Sinopse: Na França do século XVIII, Marianne (Noémie Merlant) é uma jovem pintora que recebe a tarefa de pintar um retrato de Héloïse (Adèle Haenel) para seu casamento sem que ela saiba. Passando seus dias observando Héloïse e as noites pintando, Marianne se vê cada vez mais próxima de sua modelo conforme os últimos dias de liberdade dela antes do iminente casamento se veem prestes a acabar.
Trailer:
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