Crítica: Frances Ha (2012, Noah Baumbach)

Como todas as pessoas, Frances possui um sonho. O dela é ser uma dançarina profissional. Morando em Nova Iorque, ela tenta alcançar seu desejo enquanto enfrenta situações da vida adulta e problemas em seu relacionamento com a melhor amiga. Seja positiva ou negativa, a personagem principal de Frances Ha vai causar alguma impressão tanto dentro quanto fora do filme, visto que a probabilidade de identificação é alta entre quem assiste. Em algum momento (ou em vários) você pode se pegar pensando “isso é tão eu”, pois o filme possui essa premissa e é isso que o faz tão memorável.

Frances é uma das figuras cinematográficas mais relacionáveis, em especial se você estiver na casa dos 20 anos e ainda se sente perdido, pois é sobre enfrentar a vida adulta quando você não sabe agir como tal (de acordo com o que a sociedade espera).  Ela é interpretada pela talentosa Greta Gerwig, que inclusive escreveu o roteiro do filme juntamente com Noah Baumbach e essa parceria aconteceu novamente em 2015, com Mistress America.

Se for para destacar o que mais caracteriza os filmes de Baumbach, eu diria que é a construção dos diálogos. Em suas obras é sempre interessante observar como se dá a dinâmica verbal entre os personagens. Em Frances Ha, há frases que permanecem conosco mesmo dias após termos assistido e isso acontece principalmente se você se sentir conectado com a personagem.

Durante a maioria das cenas, Frances Ha transita pelas ruas de Nova Iorque. Gravado em baixo orçamento, não há nada de tão especial na fotografia e uso da câmera, pois o grande destaque é a própria protagonista, que fica por muito tempo em nossa mente após termos assistido. Alguns elementos como o uso do preto e branco no visual, as cenas nas ruas e a temática sobre jovens adultos, lembram as obras da Nouvelle Vague (movimento do cinema francês) dos diretores Jean-Luc Godard e François Truffaut, que serviram de inspiração para o filme. Inclusive na trilha sonora há músicas do clássico compositor francês Georges Delerue, que trabalhou em vários filmes da Nouvelle Vague, como Uma Mulher para Dois (1962) e O Desprezo (1963). Mas a música que mais se destaca é Modern Love de David Bowie, que toca durante a cena em que Frances dança saltitante pela rua.

Greta Gerwig incorpora muito bem Frances, atriz e personagem imergem uma à outra resultando em algo difícil de ser esquecido. Todos os atores estão ótimos em suas performances naturalistas: o nome de mais peso no elenco é Adam Driver, como Lev; já Michael Zegen, que atualmente está na série de comédia The Marvelous Mrs. Maisel, interpreta o simpático Benji; a melhor amiga de Frances, Sophie, fica por conta de Mickey Sumner; a filha de Meryl Streep, Grace Gummer (Mr. Robot) também está presente, como Rachel. Além desses,  uma curiosidade legal é que os pais de Frances são interpretados pelos pais reais da atriz.

Greta Gerwig e Adam Driver em cena de Frances Ha.
Ao acompanhar a trajetória de Frances, é notável como há uma harmonia entre tragédia e comédia. Esse filme pode ser caracterizado como “engraçado e triste”, pegando emprestado as palavras que a própria Frances menciona durante seu monólogo sobre relacionamentos. Isso porque a utilização inteligente do humor é aplicada à personagem de forma a afetar sua maneira de ver os acontecimentos da própria vida. Frustrações ocorrem e são horríveis, mas também fazem parte de quem somos e de como lidamos com elas, você pode ficar com raiva o tempo todo ou aceitar e tentar seguir em frente. Claro que o filme não deixa de ser sobre pessoas brancas e de classe média, os problemas da personagem não são absolutamente difíceis de serem resolvidos, ela possui as ferramentas para fazer algo acontecer, o óbice é que Frances não sabe COMO conseguir seu objetivo, deixando no ar as perguntas: “como posso lidar com os problemas da vida adulta? O que é ser alguém responsável?”. E é nessa batalha interna que o filme vai desenvolvendo sua trama, abordando a geração que não necessariamente vai querer ter filhos ou casar e se estabelecer antes dos 30 anos. É sobre pessoas que nesta idade estão tentando ir atrás de seus sonhos e de ter uma vida mais descontraída.

A protagonista vai nos mostrando seu ponto de vista sobre o mundo e nós vamos mergulhando e nos envolvendo cada vez mais nele, e essa personagem desajeitada e que se comporta de forma estranha socialmente, vai ganhando nosso coração e simpatia. O que faz Frances ter tanto destaque é o fato dela ter sido construída de modo tão humano e real, longe da perfeição ela acaba sendo a personagem perfeita e tornando Frances Ha um comfort movie que vale a pena ser visto e revisto. 
Título Original: Frances Ha

Direção: Noah Baumbach

Duração: 86 minutos

Elenco: Greta Gerwig, Mickey Sumner, Michael Esper, Adam Driver, Michael Zegen, Charlotte d’Amboise, Grace Gummer e outros.

Sinopse: Frances deseja ser dançarina profissional, ela se muda para Nova Iorque e vive em meio aos amigos enquanto convive com sua própria insegurança sobre a vida.

Trailer:

E você? Conta pra gente se gosta do filme e se identifica com a personagem!

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