Crítica: Kundun (1997, de Martin Scorsese)

  

   Embora seja mais lembrado pelo grande público por ter feito filmes em parceria com Robert De Niro e Leonardo DiCaprio, Martin Scorsese dirigiu filmes que saíram de sua zona de conforto, por versarem sobre temas espinhosos como a religião. Dentre os quais, Kundun: lançado em 1997, narra a infância e a chegada à maioridade do Dalai-lama, (entre os anos de 1935 e 1959), monge budista mundialmente conhecido como o representante do Tibete nos planos religioso e político, além de ter sido o ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1989.
     Durante o filme, acompanhamos a trajetória do Dalai-lama (nascido Lhamo Döndrub em um simples vilarejo na região nordeste do Tibete) em diversos momentos-chave não apenas de sua biografia, mas também da história do Tibete e da China. Ao escolher Roger Deakins para a fotografia de Kundun, Scorsese privilegiou imagens com focos nos grandiosos cenários, e abdicou da handycam, com o intuito de indicar a pompa e formalidade do contexto tibetano. A direção de arte do filme formulou uma bela palheta de cores centrada no amarelo e vermelho, de modo a ressaltar ao espectador a influência e a importância dos mosteiros budistas e de Lhasa – a capital do Tibete – na formação espiritual do Dalai-lama e nos eventos históricos retratados. No entanto, por vezes, a edição de Thelma Schoonmaker realiza uma transição  de cenas de maneira muito veloz para a trama, o que dificulta uma maior contextualização sobre as estruturas sociais e políticas tibetanas do período. 


    Dos pontos positivos a serem ressaltados em Kundun, cito a trilha musical composta originariamente por Philip Glass, que mescla cantores e instrumentos tibetanos com elementos da música ocidental; as cenas de maior tensão, em conjunto com a trilha, proporcionam uma montagem de grande riqueza de detalhes. E todos os atores e atrizes de Kundun são originários do Tibete e da China, pessoas conscientes de suas culturas e de seus passados históricos, fato esse extremamente importante para constituir um filme de época.

    Se por um lado Kundun não se aprofunda totalmente nas características e contradições do Tibete e nas consequências do conflito deste país com a China, por outro lado constrói uma bela narrativa biográfica do Dalai-lama com forte apelo visual e emotivo, gerando empatia por parte do público. A meu ver, a expressão “tesouro escondido” se aplica a este filme menos conhecido de Martin Scorsese. Trata-se de uma obra importante e reflexiva sobre os meandros da vida de uma das maiores personalidades mundiais do século XX.


Título Original: Kundun

Direção: Martin Scorsese

Duração: 137 minutos

Elenco:  Tenzin Thuthob Tsarong, Gyurme Tethong, Tulku Jamyang & Kunga Tenzin


Sinopse: Em 1937, uma criança é escolhida como a reencarnação e sucessor do Dalai-lama, líder político e religioso do Tibete. Após ser iniciado nos estudos do budismo, ele deverá enfrentar os desafios que a invasão da China proporcionou a ele e ao país.
Trailer:
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