Crítica: Adeus à Noite (2018, André Téchiné)

O premiado diretor e argumentista francês André Téchiné, que assina o roteiro com Léa Mysius, volta a trabalhar com Catherine Deneuve pela oitava vez ao longo de seus 49 anos de carreira, no drama familiar Adeus à Noite; que foi selecionado para o último Festival Internacional de Berlim e estreia no Brasil em 12 de setembro. 






A inspiração para o longa parte de um livro com um compilado de entrevistas com jovens franceses sobre suas escolhas para o futuro, e André revela a vontade de ter “o olhar de uma pessoa de minha geração. Por isso a presença de Catherine, com essa cumplicidade e desejo de renovação”. E o filme traz, como característica marcante de Téchiné, um enredo disposto a mergulhar na complexidade das emoções e relações humanas de maneira sensível, sem cair em um sentimentalismo que beira ao cliché





Trata-se da relação de uma avó com seu jovem neto ao descobrir que ele desenvolveu um lado conturbado pós-adolescência. E para representar esse conflito de gerações, as dúvidas e questionamentos do garoto, bem como essa renovação que Téchiné busca retratar, nada mais significativo que um eclipse com a luz se sobressaindo por trás para retratar o início de sua história. 
E as representações repletas de significados vem também na escolha da palestra de cores, com um uso contínuo de cores primárias como o amarelo, vermelho e azul, desde seus tons mais “puros” até os mais claros e discretos. Não por acaso o jovem Alex se veste constantemente com camisas e camisetas azuis – cor marcante por retratar a melancolia – e um casaco vermelho por cima – cor marcadamente conhecida por ser associada à sangue, guerra e tribulação. É um garoto com dores e angústias profundas que acabam por gerar conflitos e instabilidade emocional dentro dele, que encontram uma válvula de escape na religião de sua namorada, Lila.
A história é contada ao longo dos primeiros dias da primavera – estação conhecida por marcar o início de um novo ciclo, de renascimento. E a dicotomia felicidade x tristeza, vida x morte permeia diálogos e montagem até o final, gerando questionamentos de até onde alguém iria para salvar quem ama, como extremismo destrói  as pessoas e relações mesmo quando não ocasiona mortes e até onde a religião passada através de internet é a religião seguida de fato ou uma manobra para manipular jovens vulneráveis. 
O filme consegue transmitir um tema extremamente relevante nos dias atuais, – ainda mais com a forte onda de conservadorismo que assola o mundo de modo geral – sem apontar vilões e vítimas. O diretor, ao contrário, coloca para o público a reflexão que, Martin Scorsese, em seu filme Silêncio, lida de modo unilateral. Nada é tão simplista e único, só bem ou só mal, e a maestria do longa está em nos fazer enxergar os dois lados de uma mesma história. É um filme para se sair emocionado e com nó na garganta ao mesmo tempo, fruto de uma história que nos prende do início ao fim com sua sutileza e planos que poderiam, facilmente, ser emoldurados como belas fotografias. 
 

Título Original: L’adieu à la nuit

Direção: André Téchiné
Duração: 103 minutos

Elenco: Catherine Deneuve, Kacey Mottet Klein, Oulaya Amamra, Stéphane Bak, Kamel Labroudi, Mohamed Djouhri e Jacques Nolot. 

Sinopse: Muriel (Catherine Deneuve) está emocionada ao ver Alex (Kacey Mottet Klein), seu neto, que veio passar alguns dias na casa dela, antes de ir morar no Canadá. Intrigada com o comportamento do rapaz, Muriel logo descobre que ele está mentindo para ela. A verdade é que Alex está se preparando para uma outra vida. Desesperada, ela terá de agir muito rapidamente. 



Trailer:








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