Crítica: Hebe – A estrela do Brasil (2019, Maurício Farias)

    O longa-metragem que conta parte da história de Hebe Camargo foi escrito por Carolina Kotscho, dirigido por Maurício Farias e quem dá vida à personagem é a diva Andréa Beltrão, conhecida por seus papéis marcantes e muitas vezes divertidos. 



    O filme acaba utilizando predominantemente câmera na mão, mas não muito trêmula. Têm muitos planos enquadrando Andréa Beltrão de costas. Talvez para tentar abstrair o fato de que o rosto da atriz não é tão parecido com o de Hebe, ou pode ser também que o conceito da direção quisesse explorar um “outro ângulo” da vida da apresentadora. Dessa vez estamos tendo a oportunidade de ver a partir dos “bastidores”. É como se espiássemos lá de trás do palco a apresentadora falando com a plateia. Conseguimos vê-la iluminada pelos holofotes e a plateia com os olhos brilhando de admiração por ela, encantada com tudo que a apresentadora diz. Isso nos mostra muito da personalidade da personagem também. Hebe nunca escondeu de ninguém que gosta do contato e do carinho do povo.



    E se fisicamente Andréa Beltrão e Hebe não são muito próximas, houve uma preparação muito boa da voz da atriz, que ficou idêntica. Andréia deve ter tido um longo processo de ensaio e preparação, uma vez que conseguiu absorver o ritmo de fala de Hebe e mesmo o tom da voz! Parece que quanto mais o filme se desenvolve, mais Hebe a atriz se torna, até que abstraímos a aparência desigual e consigamos acreditar que Andréa é, de fato, Hebe. 





    A direção de fotografia do filme é lindíssima. Apesar de explorar os ambientes de estúdios de televisão que geralmente possuem apenas holofotes “estourando” no rosto dos apresentadores de forma a criar uma luz monocromática e chapada, o filme consegue criar profundidade e beleza inúmeras vezes. Temos planos poéticos e criativos; com luzes que desenham silhuetas e exploram a identidade dos personagens. 
    

   O filme traz para o deleito dos espectadores, atores que interpretam grandes ícones clássicos daquele tempo e também atualmente, como por exemplo Silvio Santos quando mais jovem, a banda Menudo que fazia um sucesso estrondoso na época, Chacrinha e o rei: Roberto Carlos. 

  

Ator Daniel Boaventura que interpreta Silvio Santos no filme.


  O tema explorado no filme é o de resistir. Lutar pelo que se acredita, ou simplesmente pelo direito de poder dizer o que se acredita. Logo nas primeiras cenas, Hebe deixa no ar a pergunta sobre se a censura no Brasil de fato acabou. Esta questão ecoa ao longo do filme. A apresentadora tem seus altos e baixos tentando resistir, não ser presa, não sofrer nenhuma consequência do que diz nos programas da TV aberta e ao vivo. 



   Em devido momento, Hebe dá a declaração de que “não é de direita e nem de esquerda. Apenas defende o que acha que é certo e o que considera justo. Ajuda quem acredita que precisa ser ajudado. Defende as minorias que precisam ser defendidas”. Diz que é amiga de pessoas que são LGBTQ e também dos que não são. E que isso não deve ser uma questão. Muitas vezes ela corrige seu marido, que chama os amigos gays e trans que ela tem de “bichas”. Esses e outros apelidos pejorativos e preconceituosos não são aceitos por Hebe, que rebate tanto dentro de sua própria casa quanto no âmbito de trabalho, respondendo diretamente ao seu chefe.



    
    Outra questão interessante tratada no filme é a da AIDS no Brasil, e o preconceito que, se até hoje existe, antigamente então era bem pior. O cabelereiro e amigo de Hebe foi contaminado com a doença, e é mostrada a condição que este enfrenta ao ser internado, e Hebe faz o que pode para ajudá-lo.
    Hebe também teve de lidar com o ciúmes doentio do seu segundo marido, que no filme é interpretado por Marco Ricca. Quando o machismo se torna exacerbado e o relacionamento uma prisão, Hebe não consegue suportar. O amor não é mais suficiente. A apresentadora está farta de muitas coisas. De censurarem-na dentro e fora da sua carreira. A pior escolha que seu marido, a emissora e a polícia poderiam fazer é podá-la. Eles não entenderam a dimensão da sua força, capacidade, intelecto e da admiração que esta mulher emanava sobre o público. 


Título Original: Hebe: A estrela do Brasil 

Direção: Maurício Farias

Duração: 82 minutos

Elenco: Andréa Beltrão, Marco Ricca, Daniel Boaventura, Felipe Rocha.  

Sinopse: Hebe enfrenta problemas de censura na TV Bandeirantes, bem como o machismo em casa, além de defender seus amigos LGBTQ do preconceito e expôr a corrupção política do país em seus programas ao vivo.
Trailer:

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