Crítica: Fleabag – 2ª temporada (2019, Harry Bradbear)

“This is a love story”

Não é possível melhorar e seguir em frente sem se resolver com o passado e perceber em si mesmo o que está errado, e é isso que Fleabag descobre no segundo e último ano da série. Enquanto a primeira temporada de Fleabag nos introduz ao mundinho peculiar e complicado da protagonista, desenrolando a psique da mesma e desenvolvendo aos poucos sua personalidade inusitada e seus traumas, a segunda firma tudo que já tínhamos visto e amadurece a trama de uma forma quase inesperada, mas sem perder sua identidade no meio do caminho. Fleabag traz um retrato agridoce, quase amargo, da vida de uma jovem londrina e seus relacionamentos familiares e amorosos sempre com um tom ácido e um ritmo agitado.




O segundo ano da série é quase uma aventura épica, já começando com aquela cena absolutamente incrível da Fleabag no banheiro com o rosto coberto de sangue. Nas mãos de um roteirista menos competente talvez essa cena não tivesse o efeito certo, mas o que Phoebe Waller-Bridge consegue fazer é pura magia audiovisual. O tipo de humor que a atriz criou para série é absolutamente inovador, beirando a genialidade. Com a mesma facilidade que o roteiro consegue emocionar, trazendo situações genuinamente comoventes, também consegue arrancar risadas, e isso de uma maneira extremamente orgânica sem causar nenhum estranhamento. É impossível não soltar ao menos um risinho a cada comentário afiado que a protagonista solta enquanto olha para a tela.





Seria impossível pensar que o desenvolvimento de um romance entre uma ateia e um padre se tornaria uma historia de amor tão significativa, mas Phoebe Waller-Bridge criou uma narrativa tão romântica e palpável que é impossível não se identificar com a personagem enquanto a mesma passa pelos altos e baixos dessa complicada relação. A química entre a protagonista e o religioso (interpretado pelo talentosíssimo Andrew Scott) é extremamente envolvente, tanto que em pouquíssimos episódios você se vê completamente conquistado por um casal tão improvável. A forma como essa relação tão complexa foi desenvolvida se deu primorosamente, colocando o telespectador em uma posição privilegiada podendo ver cada detalhe do desenrolar desse sentimento tão genuíno entre os dois. 


A quebra da quarta parede, embora um artifício já banalizado no audivisual, se torna uma tática muito bem explorada na série transformando o telespectador numa espécie de melhor amigo de Fleabag já que a protagonista se sente sozinha e não tem ninguém mais para expor seus sentimentos e comentários afiados. A forma como ela olha pra câmera quando a terapeuta questiona se ela tem alguém com quem conversar pontua muito bem isso. E ainda melhor que a primeira temporada, o segundo explora essa técnica de um maneira bastante sábia, especialmente quando é mostrado que o padre percebe a protagonista quebrando a quarta parede. Fica claro que ele é a única pessoa que prestou atenção o suficiente para notar essa característica da personagem.




shot final da série é simplesmente uma das cenas mais belas de qualquer projeto audiovisual recente. Fleabag se despedindo de nós enquanto toca Alabama Shakes no fundo foi extremamente emocional, embora simples. É perceptível o amadurecimento da personagem nesse segundo ano, colocando a felicidade da irmã e do pai em primeiro lugar, mesmo quando concordava com suas atitudes, e principalmente aceitando o fim (do começo) de seu relacionamento com o padre já que a mesma sabia que seria algo impossível. Os últimos segundos da série ficarão para sempre na minha cabeça.




Título Original: Fleabag

Direção: Harry Bradbeer

Episódios: 6 episódios

Duração: 25 min. aprox

Elenco: Phoebe Waller-Bridge, Andrew Scott, Sian Clifford, Olivia Colman e Bill Paterson

Sinopse: Fleabag é uma jovem londrina lidando com trauma, sexualidade e problemas familiares.



Trailer:


Não deixe de conferir Fleabag!




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