Crítica: Channel Zero: The Dream Door – 4ª Temporada (2018, de E. L. Katz)


Mais
uma temporada “fora da casinha” de Channel Zero, o que é um grande alívio ver
que, depois de quatro anos, a série continua com a ideia fixa de trazer
novidades no que eu não canso em chamar de mesmice. Terror e suspense funcionam
muito bem e aqui, como é de praxe, a série foca em seus personagens e na
história em si. Não perde tempo com músicas assustadoras ao fundo ou criando
planos para nos fazer ter medo do óbvio. Somos arrastados para a confusão
que se transforma a vida dos recém-casados Jillian (Maria Stein) e Tom (Brandon
Scott), quando descobrem uma porta misteriosa em sua casa. Afinal, o que
poderia dar errado? Se ainda não terminou os episódios, cuidado, pode conter
spoilers!

Nesse
ano, a creepypast escolhida é a
Hidden Door, de
Charlotte Bywater, que
serve de pano de fundo para a história. Em um primeiro momento, achamos que
estamos vendo o casal perfeito, jovens, sabem o que querem e se amam.
Entretanto, não é preciso muito para descobrir que o passado é um fator que
ainda causa muita dor em Jill. Quando criança, ela foi abandonada pelo pai
que “preferiu” viver com sua outra família, isso gerou nela uma desconfiança
feroz de tudo e de todos, inclusive de Tom. Até que em um belo dia, uma porta azul aparece no porão da casa deles, detalhe, até a noite anterior, ela não existia. 

Anteriormente
eu disse que a série evita o uso de sons abusivos para criar a atmosfera de
medo, mas usa e abusa de cenas violentas de assassinato, com muito sangue e
muito close. Mostrar o bizarro é a marca registrada deles, o que a princípio,
pode lembrar um pouco American Horror Story, outra série que
não tem preguiça de fazer cenas com muito sangue e mortes memoráveis. 
Mas voltando a Dream Door, o diretor nos apresenta
muito bem a complexidade da situação enfrentada logo nos primeiros episódios,
onde sim, você pode levar uns belos sustos até compreender de fato o que está
acontecendo, assim como Jill. O passado da personagem é a chave para entender
todo o enredo criado, literalmente, a partir de seus sonhos. Sonhos por assim
dizer, acredito que seja uma maneira genérica de descrever, mas ainda funciona,
vou me aprofundar e tentar explicar de alguma maneira como essa série entra no
psicológico dos personagens, não tão forte e brutalmente mostrado como na terceira temporada, mas ainda sim, é
algo a se pensar e se discutir. 




Em todas as temporadas,
temos os personagens se encontrando com o seu eu interior, suas vontades
ocultas e seus medos mais surreais, de alguma forma, sempre somos levados a
atravessar algumas portas (barreiras) para chegar até a nossa escolha final,
seja ela para o bem ou para o mal. 
Quando
crianças, muitos de nós fomos capazes de criar amigos imaginários por x
motivos. Seja para nos fazer companhia, nos ajudar com a solidão ou
simplesmente liberar toda a imaginação. Por vezes, somos assolados por preocupações
inexistentes, mas que mesmo assim, nos tira o sono. Somos levados
inconscientemente a criar universos inteiros em nossa mente para nos manter de
alguma forma seguros e felizes e criar uma válvula de escape para todo o
sofrimento que nos aflige. 
Agora
imagine tornar real esse amigo imaginário e que, para poupar você de toda dor e
sofrimento, ele seja capaz dos atos mais frios e violentos, apenas para te
salvar da dor. A série, apesar de colocar como o grande vilão da história esse
personagem criado por Jill ainda criança, Jack Pretzel, percebemos que muitas
vezes somos levados por tais sentimentos como a raiva e o rancor e também somos
capazes de pensar em coisas terríveis, então, seria ele o grande vilão? Ou o
nosso subconsciente? 




A
série cita diversas vezes que, esses personagens criados são uma parte
nossa, então, vale a pena dizer que temos
medo dela pelo simples fato de não sermos capazes de aceitar que existe um lado
muito ruim nosso, capaz de querer que outra pessoa morra para evitar que continuemos
sofrendo? É difícil de imaginar que pessoas aparentemente sensatas, serem
capazes de algo assim, mas é exatamente o que acontece aqui. Os monstros
criados na nossa imaginação são tão capazes de fazer mal quanto uma pessoa. As
feridas do passado se tornando tão presentes que são capazes de mudar todo o
convívio saudável que poderíamos ter.
E se de alguma forma conseguíssemos abrir uma porta tão emocionalmente
perturbada em nossa cabeça, e que de dentro dela saísse algo que nos
protegeria, não importa o que. Medo, ansiedade, frustração, todos nós sentimos,
uns mais outros menos. Mas todos têm dentro essa carga. A série trata de
maneira sobrenatural e psicológica como lidamos com essa dor e com as
dificuldades que temos que lidar durante a vida. Da mesma forma que podemos
criar ilusões que nos destroem, podemos criar coisas que nos alegram e nos
divertem. Não é o grande segredo esse? Pensar positivo e controlar nossos medos
e nossos instintos mais primitivos? A série nos mostra que tudo é possível,
desde que acreditemos. Nós temos o poder de controlar nossos pensamentos e
temos o poder de controlar nossos monstros. 

O designer da série é algo a ser mencionado, todas as temporadas trazem
consigo ambientes que traduzem a estranheza das histórias, ou simplesmente para
montar o quadro perfeito, nessa temporada, temos casas em bairros aparentemente
tranquilos, com famílias e casas perfeitas, constando com a realidade vivida
pelo casal. O uso da câmera nos personagens, tentando mostrar seu estado de espírito ou somente para dar ênfase de que alguma coisa está muito errada. A estranheza
por trás da normalidade. A forma que a direção usa os
espaços também é sensacional, como Katz é capaz de aumentar ou diminuir um
lugar conforme a sensação de afastamento ou conforto que ele trás, por exemplo,
pode ser algo que passa batido, mas que faz todo sentido para os personagens,
criando um laço invisível entre eles. 
Por fim, diria que a fórmula continua funcionando, apesar de ser a história mais “fraca” até agora, é ainda acima da média. Monstros vão sempre existir, depende de nós alimentarmos eles ou não. 

Título Original: Channel Zero: The Dream Door
Direção: E. L. Katz
Episódios: 6
Duração: 43 minutos aprox.
Elenco: Brandon Scoot, Steven Robertson, Maria Sten, Diana Bentley, Gregg Henry, Greg Bryk, Troy James
Sinopse: Na quarta temporada de “Channel
Zero”, um casal de recém-casados se mudam para uma nova casa. Quando
descobrem uma estranha porta em seu porão, os segredos de ambos ameaçarão o
relacionamento e também suas vidas.
Trailer: 

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