Determinadas misturas no cinema podem causar verdadeiros fiascos. As Vozes, já estava ciente disso e mesmo assim optou por mesclar comédia, terror e drama psicológico, mas de tão bem executada, se torna uma surpresa. Talvez, seja pelo fato de ser assistido pretensiosamente, mas de qualquer maneira o filme cai no ar da graça dos telespectadores.
Acho que para continuar deveria alertar que quanto menos tu souber do filme, melhor sua experiência com ele será. O início do filme parece ser bem convencional, até parece uma comédia romântica, com algumas trivialidades do gênero, mas isso é apenas uma “máscara”, e essa transição da comédia para o horror acontece rapidamente, e surpreende pela facilidade com que isso é implementado.
Dada a proporção do problema do personagem, ele recorre às “vozes” que escuta, atribuídas ao seu cachorro e ao seu gato, que a propósito é o próprio Ryan Reynolds que faz a voz dos mesmos. De uma personalidade inofensiva, ele acaba se tornando um serial killer, mas que acabamos tendo empatia.
Os diálogos funcionam mais como uma linha de pensamento do que uma conversa real, mas que entendemos que tudo isso faz parte de um monólogo dentro da cabeça do intérprete. Um dos triunfos do longa passa também pelo narrador não confiável, fazendo com que você não saiba o que é real e o que é ação da cabeça do figurante.
Talvez o mais interessante do filme seja a forma como ele é apresentado, do jeito que o visual é inofensivo, e dá a impressão de que essa será a estética até o final. Mas isso é meramente um grande triunfo da diretora Marjane Satrapi, que para quem não conhece, ficou conhecida como a primeira iraniana a escrever uma história em quadrinhos que virou um desenho animado, chamado Persépolis e foi indicada ao Oscar.
O filme conta com uma proposta bem longe do convencional e a forma como a doença do personagem é contada, é um dos pontos altos da trama. O fato de não ser contado de uma forma clichê e muito menos de forma dramática, ajuda e é estabelecido no seu tom. A linha comédia/terror/drama funciona muito bem quase durante todo o filme, apesar do final talvez ter exagerado no tom cômico, podendo caber algo mais dramático, porém não tira o brilho da produção.