Crítica: The OA – Parte II (2019, de Zal Batmanglij e outros)

Como essa matéria é uma análise da segunda parte de The OA, não vou me arrastar ainda mais falando muito sobre a primeira parte, a equipe do Minha Visão do Cinema fez um apanhado sobre os fatos mais importantes a serem destacados e você pode ler tudo AQUI!


A Netflix surpreendeu muita gente ao anunciar a segunda parte da série que, de muitas maneiras, veio para dar um nó na cabeça de quem assiste. Ao mesmo tempo, criou fãs tão rapidamente que, mais de dois anos de espera pareceram uma eternidade. Vou descrever detalhadamente a teoria em que me baseei para tentar seguir a linha de raciocínio da direção, que convenhamos, é algo a ser discutido. Então não se assuste e venha de mente aberta! 




Detalhe importantíssimo! Está cheio de spoilers!

 

O que nós realmente sabemos sobre vida após a morte? Muitos tentam explicar a passagem dessa vida para o além, mas, quem garante com certeza o que há depois da vida terrena? Sinto em lhe informar que se você não acredita em tal coisa, a série fala exatamente sobre isso, de uma forma elegante, sincera e mística.


O que sabemos sobre as religiões, se formos ver o senso comum, seria uma base para as pessoas se prenderem durante a vida, muitas tem suas versões sobre a morte. Muitas definem que se você for bom irá para o céu, e se for mal irá para o inferno. Outras contam histórias mirabolantes e até que ponto o que é verdade para mim passa a ser mirabolante para o outro?


Não sei o quanto você está familiarizado com o espiritismo mas a série muito me lembra todos os ensinamentos passados por essa religião. Não estamos aqui para impor nada, apenas estamos fazendo uma análise da série, lembre-se disso. Mas aqui vai um pequeno resumo para você entender o porquê me apeguei a isso.


“O Espiritismo se caracteriza pelo ideal de compreensão da realidade mediante a integração entre as três formas clássicas de conhecimento, que seriam a ciência, a filosofia e a moral. Segundo Kardec, cada uma delas, tomada isoladamente, tende a conduzir a excessos de ceticismo, negação ou fanatismo.


A doutrina espírita se propõe, assim, a estabelecer um diálogo entre as três, visando à obtenção de uma forma original que, a um só tempo, fosse mais abrangente e mais profunda, para desta forma melhor compreender a realidade. No caso do Espiritismo, a principal diferença entre esta doutrina e a maioria das demais religiões é sua crença na possibilidade de comunicação entre o mundo corporal e o mundo espiritual.


Reencarnação é uma ideia central de diversos sistemas filosóficos e religiosos, segundo a qual uma porção do Ser é capaz de subsistir à morte do corpo. Chamada consciência, espírito ou alma, essa porção seria capaz de ligar-se sucessivamente a diversos corpos para a consecução de um fim específico, como o auto aperfeiçoamento ou a anulação do carma. [1]”



Lembre-se que no fim da primeira temporada, OA (Brit Marling) é capaz de viajar para outra dimensão e literalmente se apoderar do corpo de Nina (Brit Marling), sua versão nesse mundo. E mesmo tentando fugir do seu passado, Prairie acaba novamente em uma prisão, por assim dizer, já que todos os seus amigos, do qual ela se lembra, estão nessa mesma dimensão.


O único que ainda não acordou para a realidade é justamente Homer (Emory Cohen), que aqui é chamado de Dr. Roberts. Acredita-se que, quando reencarnamos, nossas memórias da vida anterior são apagadas para nos livrar de todo o sofrimento e para tentarmos literalmente, começar do zero. Aqui todos voltam com suas memórias intactas, pelo simples fato deles terem burlado o sistema e conseguido “viajar” por eles mesmos, escolhendo o caminho a seguir.


A série nos dá tantos detalhes tão sorrateiramente escondidos à vista, que quando caímos em si é realmente libertador finalmente entender o que a direção quis nos passar. Repito que, você pode não concordar com religião nenhuma, ser ateu ou agnóstico, mas aqui tudo caminha para isso.




A série evolui exponencialmente desde a primeira temporada e apesar de esperar ansiosamente, ela foi muito melhor do que eu imaginava. Tivemos algumas respostas para várias questões que ficaram em aberto e claro, muitas outras foram criadas. OA finalmente começa a entender seu lugar no quebra-cabeça e como uma boa série precisa, o vilão é simplesmente de dar nojo.

Eles os colocam como pessoas parecidas e até que ponto isso realmente é verdade? Prairie e Hap (Jason Isaacs) querem basicamente as mesmas coisas, com a diferença que para Hap não importam as consequências, desde que os meios justifiquem os fins.

Nesse ano descobrimos o que de fato acontece quando uma pessoa morre (de acordo com eles), ao “viajarmos” de dimensão, entramos em outro universo, idêntico ao nosso, porém, com as suas singularidades. Prairie ao levar o tiro, entra no corpo de Nina e isso foi de extrema importância para ela. Foi quase como conhecer a si mesma, conhecer uma parte que nunca foi criada, mas que poderia. Quando Prairie abraça Nina, elas se tornam uma só e ficam mais fortes por isso.






Nesse universo, Nina descobre uma casa onde, aparentemente qualquer um digno é capaz de “acessar” essas outras dimensões. O que leva ao desaparecimento de Michelle (Ian Alexander), ingressando na série o personagem de Karim (Kingsley Ben-Adir), um detetive contratado pela vó da garota, a fim de descobrir o que aconteceu a ela.


Mas quanto mais ele investiga sobre a casa, pior a situação que ele tinha que lidar fica e por fim, descobrimos que ele era o escolhido. Inclusive nos é revelado que ele é como um “irmão de alma” de Prairie, mandado pelas esferas superiores para ajudá-la em sua jornada.




Também é ele quem salva OA após a sessão mediúnica com o polvo gigante (se é que podemos chamar disso). Questão essa que gerou grande alvoroço em todos nós. Como diabos ela está falando com um polvo? Acredito que essa questão é respondida posteriormente, quando OA entra na casa e acaba caindo nos braços das árvores antigas. Não acho que eram de fato árvores, mas espíritos que habitavam essas terras antes e que, de alguma forma, se materializaram assim.

Prairie é capaz de se ligar com as coisas vivas como nenhuma outra pessoa e agora que ela habita no corpo de Nina, uma poderosa médium, entender o que a cerca não é mais tão difícil quando antes. Polvos gigantes são sinônimos de destruição nos mares, porém segundo a mitologia, eles eram guardiões da fauna, seres místicos que só eram vistos quando necessário. Na série, OA o chama de Old Night e segundo ele, seus irmãos acham que ele perde tempo falando com a nossa raça, o que pode significar que ele sabia muito mais do que falava.




Inclusive no episódio 05: A médium e o engenheiro, fica relativamente claro que o terreno em que a casa foi construída era de alguma forma especial para os índios. Claro que a explicação racional para tais fenômenos era que o ar ali era envenenado, causando diversos sintomas, como alucinação.


Mesmo não querendo que fosse feito, a esposa (médium) aceitou a construção, porém com algumas objeções. Foi feito um labirinto onde, somente quem tinha as respostas certas conseguia seguir, se não, a pessoa ficaria presa para sempre na casa. O que provavelmente acontece com o próprio engenheiro ao tentar desvendar o mistério e com Michelle, ambos entram em um coma profundo. A vó dela diz para Karim que ela ainda está na casa, não seu corpo em si, mas seu espírito. Tudo o que ele precisava fazer era acreditar!


E por falar nisso, lá na dimensão passada, ficaram cinco personagens que, mesmo com a suposta morte de OA, não desistiram de acreditar nela, começando uma verdadeira saga para tentar descobrir como ajudá-la.


Após a trágica morte de Rachel (Sharon Van Etten), Buck (Ian Alexander) a vê em um espelho e sabiamente deduz que ela quer passar uma mensagem a eles. Mas as tentativas de fazê-la falar novamente falham até o momento que eles encontram uma médium. Steve (Patrick Gibson) é o personagem que mais evoluiu sem dúvida. Ele acredita de corpo e alma em tudo que OA contou e ensinou a eles. Diria que ele é um verdadeiro crente, um verdadeiro amigo e ama sinceramente Prairie, sendo o mais engajado nessa missão de descobrir o que Renata queria lhes contar.

French (Brandon Perea) ainda duvida das histórias e apesar de ficar dividido, ele acaba embarcando na jornada junto com seus amigos. Buck continua tendo alguns problemas em casa e descobrimos que BBA (Phyllis Smith) acabou pagando o pato na última temporada, quando se juntou aos alunos para fazer os 5 movimentos. Já que tocamos no assunto, vale fazer uma observação aqui.

Quando Prairie viaja pela primeira vez, ainda criança, ela conhece Kathun (Hiam Abbass), que vem a ser sua guia espiritual, com o passar do tempo elas ainda se encontram e muito, na última vez que isso ocorre, Kathun diz a Prairie que ela precisa combater um grande mal e, ao chegar na escola, ela encontra seus amigos em perigo e o único tiro que acaba sendo disparado é o que a mata. Seria esse atirador o grande mal que ela precisava combater para manter seus amigos vivos ou Hap sempre foi esse mal? Já que, quando ela acorda, ele ainda insiste em sua obsessão.



  

Mas voltando ao assunto, os cinco amigos resolvem então seguir adiante após a revelação que tiveram na casa da médium. Todos estão convencidos que OA precisa de ajuda e, a partir disso, fazem de tudo para descobrir como ir até essa dimensão, mesmo se isso lhes custar a vida. Todos eles estão à sua maneira sofrendo. Não sei se isso se deve ao luto ou simplesmente por terem que lidar com seus problemas atuais, mas sentimos uma carga emocional muito grande quando todos estão juntos. Infelizmente Jesse (Brendan Meyer) não foi capaz de lidar com os seus, fazendo com que Steve mais uma vez tentasse, em vão, salvar um amigo.


As duas dimensões começam a convergir mais e mais. BBA é capaz de sentir Prairie/Nina e isso os leva até a instituição em que ela se encontrava até a pouco tempo internada. Enquanto isso, Hap e Prairie conhecem uma figura misteriosa, uma mulher com a mesma capacidade de “viajar”, porém ela tem seus próprios métodos. Se por um lado Hap a vê como alguém a ser estudado, Prairie se liga à ela como uma amiga e a escuta. Seus conselhos apesar de ambíguos, fazem muito sentido e isso a leva a pensar diferente sobre si mesma e suas escolhas.


Talvez o grande mal que Kathun falasse ainda não apareceu mas pode ter sido iniciado, Hap foi capaz de construir (Deus sabe como) máquinas capazes de fazer os movimentos e assim, levá-lo à outra dimensão, sem precisar das pessoas para isso. Essa tal mulher misteriosa disse que tudo que precisamos para as viagens é energia. Os 5 movimentos nada mais são do que um portal que se abre, a energia necessária na primeira temporada vinha dos humanos, já que somos pilhas ambulantes. Mas agora, temos outra perspectiva sobre as maneiras possíveis de fazer a viagem.


Quantas pessoas mais estão envolvidas nessas viagens? Descobrimos que tem muito mais nisso do que possamos imaginar e como prometido pelas Árvores místicas, eles mandaram pessoas para ajudar Prairie e seus amigos.



Se por um lado Hap é obsessivo e sem moral quanto à sua pesquisa, por outro ele traz algumas respostas que, como sempre, geram mais perguntas. Segundo ele, todos nós temos a habilidade de fazer as viagens e isso faz com que nosso cérebro seja de alguma forma ativado. As sementes que, literalmente, nascem, podem ter sido geradas ao atravessarmos essas dimensões, cada uma carrega consigo uma viagem e uma história, por isso, provavelmente florescemos à cada nova vida e talvez seja por isso que não morremos de fato, como as pessoas que estão no “jardim” de Hap.

O último episódio culmina em uma nova dimensão, onde aparentemente todos se conhecem mas, vivem uma farsa. Prairie e Hap estão mais próximos do que nunca e finalmente Steve consegue alcançar OA, uma cena que foi muito significativa para mim. Karim finalmente entende o mistério por trás de sua busca e não sabemos exatamente o que virá a seguir. A segunda temporada não se perde tentando responder perguntas deixadas no primeiro ano, ao contrário, ela evolui. É uma série que mistura filosofia, espiritualidade e racionalidade, é sobre ser sentida.

Brit Marling e Zal Batmanglij se aprofundam sem perder a mão e trazem consigo uma série de qualidade ímpar! Sua história é elegante, emocionante e desafiadora, mal posso esperar pela continuidade. Se o preço a ser pago pela mesma qualidade é esperar anos para sua produção impecável, que assim seja.


Título Original: The OA

Direção: Zal Batmanglij, Andrew Haigh, Anna Rose Holmer

Episódios: 8

Duração: de 42 a 70 minutos aproximadamente

Elenco: Brit Marling, Kingsley Ben-Adir, Emory Cohen, Scott Wilson, Phyllis Smith, Alice Krige, Patrick Gibson, Brendan Meyer, Brandon Perea, Ian Alexander, Jason Isaacs, Will Brill, Sharon Van Etten, Paz Vega, Hiam Abbass, Chloe Levine, Zendaya, Zoë Chao, Irène Jacob, Eijiro Ozaki, Vincent Kartheiser, Hélène Patarot

Sinopse: A série centra-se em Prairie Johnson (Brit Marling), uma jovem adotada e inicialmente cega, que ressurge depois de ter desaparecido por sete anos. Após seu retorno, Prairie se auto denomina como “OA”, contém cicatrizes nas costas e com a capacidade de enxergar. Prairie se recusa a dizer ao FBI e seus pais adotivos onde ela esteve, o que houve com ela e como sua visão foi restaurada; ao invés disso ela rapidamente monta uma equipe de cinco moradores da cidade (quatro estudantes do ensino médio e uma professora) a quem ela revela toda informação omitida e explicando sua história de vida. Finalmente, ela pede ajuda para salvar as outras pessoas desaparecidas criando um portal para outra dimensão.

Referência: [1] – https://pt.wikiversity.org/wiki/Introdu%C3%A7%C3%A3o_ao_espiritismo_kardecista/Conceitos




Trailer:
 
Espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu!

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