A Equipe do Blog Comenta: The O.A. – 1ª Temporada (2016, de Brit Marling e Zal Batmanglij)


Lançada no final de 2016, The O.A. rapidamente se tornou a queridinha indie da Netflix. Com um enredo complexo, produção bem arquitetada, fotografia em tons escuros e azulados, a série alcançou um patamar de respeito dentro do universo das produções alternativas. Desde então, os fãs aguardam ansiosamente por uma prometida segunda temporada, implorando e cobrando o serviço streaming por qualquer notícia que seja. Com finalmente uma data de estreia da tão aguardada continuação, a equipe do blog se reuniu para comentar as impressões da primeira temporada para que você possa relembrar e ficar pronto para o retorno de The O.A..


Igor Motta comenta: 
Tenho uma relação de amor de ódio com The O.A.. É uma série intensa, uma série complicada e, acima de tudo, uma série abstrata. Diria, inclusive, que é a Lost das séries contemporâneas, mas uma versão em que os criadores sabem o que estão fazendo. A série é complicada de ser explicada, complicada de ser debatida e avaliada, e é esse o ponto mais marcante de The O.A.: é uma série de fato única. 

Ela é planejada de uma forma que vai muito além de uma temporada comum, com detalhes minuciosos que deixam até impressionante a capacidade de domínio do enredo de Brit Marling e Zal Batmangli, os criadores. A vasta gama de assuntos tratados na série só deixa esse ponto ainda mais sobressalente, pois encontrar um fio condutor para tudo aquilo é um preparo absurdo. Ponto que conseguimos encontrar referências em outros trabalhos da dupla.


Mas, esse mesmo tema nos leva ao motivo de meu “ódio” pela série. Se tentarmos resumir o enredo em poucas frases, podemos chegar em algo parecido com “pessoas sequestradas que precisam aprender passos de dança mágicos para viajar entre dimensões”. A abstração que a série carrega exige um preparo, e digo um preparo de intelecto como também uma necessidade de relevar e dar licença poética ao que está sendo mostrado, e como está sendo mostrado, pois tudo ali, mesmo as partes mais sem sentido, são propositais.


Um exemplo é a tão famigerada dança de cinco movimentos. Há um filósofo russo, do início do século XX, que acreditava no poder de movimentos, capazes de coisas inimagináveis, este ensinou seus discípulos tais movimentos e a filosofia por de trás deles. Um pintor, que seguia tais ensinamentos, fez um quadro de uma pequena casa de teto vermelho em meio à uma campina. Por coincidência, ou não, uma das cenas em que Praire encontra com Kathum, sua guardiã, ocorre em uma pequena casa de teto vermelho em uma colina.


Não é um ponto ruim, uma história não é obrigada a dar todas respostas, na realidade nenhuma, mas quando estamos falando de uma narrativa que exige um processo de continuidade em temporadas, o excesso de mistérios pode atrapalhar o interesse de quem assiste, ainda mais por ser uma série tão fora do eixo, tão bem pensada e produzida. Certa energia de fator abstrato poderia ser revertida para o fator dramático, como dando um peso ainda maior na já bem colocada relação entre os cativos, por exemplo. Ou em outras relações presentes na série para que, quando mostradas, tenham um grande fator dramático.



O momento auge da primeira temporada está no quinto episódio, na metade do arco. O momento em que Homer e Praire descobrem o poder que apenas dois passos possuem ao executá-los para Scott é uma excelente cena, e o melhor exemplo de o que desejo com peso dramático e peso abstrato para uma segunda temporada. Tal cena me fez querer terminar a temporada e rever a série antes da estreia da segunda.


Poderia aqui colocar algumas teorias, possíveis respostas e afins, mas acho que esta é a magia da série: não entender nada. Talvez o que está por vir traga respostas mais concretas, mas, apesar dos pesares, The O.A. é uma série digna de ser uma experiência antropológica de sensações e impressões. Amando e odiando, espero ansiosamente pela segunda temporada.




Leonardo Costa comenta: 

Na vibe do sucesso de Stranger Things, maratonei a primeira temporada de The O.A. na época do lançamento. Mas apesar de ambas trazerem uma mistura de ficção científica e mistério, The O.A. diferencia-se em ritmo e estrutura. Inicialmente desmotivou-me o ritmo, deveras lento. Alie isso ao fato de ser um produto de baixo orçamento, por momentos bastante indie e simplista. Também senti uma frieza inicial com relação aos personagens. Logo, estava caminhando para eu não gostar do resultado final. Mas para minha surpresa, com o passar dos episódios passamos a nos importar com os dramas e dilemas dos problemáticos personagens, engatando assim a trama e nos identificando com algum deles. 

Também é notável o visual minimalista da obra, mesmo quando decide-se usar recursos visuais inventivos. Nunca poluídos, os recursos visuais na sua maior parte são práticos e sem CGI, compondo bem a mise en scène. A trama consegue atingir uma certa complexidade, trazendo um mistério que envolve múltiplas perspectivas. Trata-se de uma experiência? Estamos falando de ciência? Ou algo mais transcendental e espiritual? Estas “pulgas atrás das orelhas” ganham a atenção de quem gosta de mistérios e teorias da conspiração. The O.A. lembra aqueles bons filmes de ficção científica independentes, como A Outra Terra, também produzido e protagonizado por Brit Marling. A moça tem se especializado em produções deste tipo, que trazem ficção em um tom filosofal.

Aliás, filosofia é o que não falta em The O.A.. Feita a junção com o suspense, temos uma obra que demora a juntar as suas peças, além de muitas ainda parecerem desconexas. Mas aqui isso funciona, é o tipo de produção onde as respostas pouco importam, desde que a busca delas gerem perguntas. Às vezes o questionamento e a jornada que ele causa é mais importante do que as respostas (lembra de Lost?). 

Parece que The O.A. seguirá por este caminho. A segunda e aguardada temporada é um dos retornos mais esperados da Netflix em anos. Esperamos que tal retorno nos leve mais a fundo pelo universo questionador e reflexivo da trama. 

 
 
Natália Vieira comenta: 


Como explicar o que é essa série
para alguém que nunca a assistiu
? Tenho que confessar que, até hoje,
acho complicado falar sobre a profundidade que informações que a história
carrega nas costas. Temos diversos arcos nesse roteiro que inesperadamente se
cruzam e o que aparentemente era algo sem muito sentido, se torna o centro de tudo.
Mas vamos pelas partes mais importantes, por assim dizer. Digamos que você
morra um dia desses, mas por sorte – ou não – acaba sendo revivido e percebe
que algo mudou profundamente dentro de você. Pode ser que você seja cega e
volte a enxergar; paraplégico e volte a andar ou simplesmente ser tão bom em
alguma coisa que encanta as pessoas ao seu redor.

Digamos ainda que algum
cientista “visionário” descubra que você é parte dessa nova evolução e resolva
te sequestrar para fazer testes. Nada gera mais dúvidas e medo do que o pós-morte
e saber que existe um, com certeza deve gerar um enorme incomodo em algumas
pessoas. Está achando confuso? Ótimo, porque é isso que a série te
passa. Apesar de alguns erros de ritmo e continuidade, ela tem um algo a mais
que torna impossível desgrudar os olhos da tela. Ela te faz pensar em algumas
coisas que você pode ter sonhado um dia ou pensado de relance. Realmente existe
vida após a morte? É possível controlar a morte? Até que ponto somos evoluídos
o suficiente para aceitar que somos um nada perante os segredos do universo?


A série tenta passar algo muito
difícil hoje em dia: Empatia. Já ouviu falar? No meio de todo esse trauma
quase morte, os personagens tem que lidar com outro trauma, o sequestro e o
cárcere. Estar tão à mercê de alguém que não se importa nada como você, apenas
com os resultados. Temos a perspectiva de todos os envolvidos, mas
principalmente das vítimas. A relação entre trauma e a superação, entre
acreditar e desacreditar nas histórias contadas. Entramos de cabeça em meio a um ciclo de
informações que gera mais dúvidas do que certeza e ao passar dos episódios,
somos fisgados por uma realidade inimaginável. Somos tão moralmente doentes que
não somos mais capazes de acreditar no próximo e nem no seu sofrimento. The O.A. vem como um sopro na boca do estômago. É intrigante, densa e questionadora,
cheia de reviravoltas, que nos faz questionar quem somos e do que somos
realmente capazes de fazer.


Título Original:
The OA




Direção: Brit Marling e Zal Batmanglij


Episódios: 8


Duração: 50 minutos


Elenco: Brit Marling, Emory Cohen, Alice Krige, Brendan Meyer, Patrick Gibson e Phyllis Smith.


Sinopse: Prairie Johnson é uma garota cega que desapareceu. Sete anos depois, ela retorna, com a visão perfeita, cicatrizes no corpo e claros sinais de que fora enclausurada. A jovem tenta explicar aos pais o que aconteceu durante a sua ausência. Para a surpresa de todos, ela diz que nunca realmente se foi, mas estava em outro plano da existência, e  que agora precisa de ajuda para retornar e salvar outros como ela.
Trailer:


Bônus 1:

 
Trailer da segunda temporada

Bônus 2:

A trilha sonora tema da série é um dos pontos altos da produção. Por isso, nada mais justo do que exaltar essa maravilha:

O que achou de The OA? Contando os dias para a segunda temporada?  Deixe aqui nos comentários o que achou e não deixe de acompanhar a programação do MVDC.

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