Crítica: Assassination Nation (2018, de Sam Levinson)

Assassination Nation não é um filme fácil de se digerir. A proposta de estilização aliada à uma premissa de horror/humor, dentro do contexto de produções estadunidenses (cuja pretensão é geralmente vender um senso de originalidade ao invés de realmente ser original) parece uma coisa complicada de se executar. Felizmente, a combinação das escolhas de apresentação e estilo não apenas complementam o filme, mas são o fator determinante para que o mesmo funcione. 

O primeiro questionamento surge justamente com a trama, que se baseia em um relato de sobrevivência e horror após uma cidade inteira se virar contra um grupo de garotas responsabilizadas por vazamentos de informações pessoais que expõem a natureza corrupta e problemática dos “cidadãos de bem”.


Como será que o roteiro irá justificar organicamente a progressão dos eventos? O fato de que as personagens são apresentadas como estereótipos fúteis é outra complicação, mas logo de início o filme deixa claro (através de uma extensa lista de avisos de gatilho) que o objetivo é aceitar o exagero e situar a história em um ambiente hiperbólico. As palavras estão todas lá: violência extrema, racismo, machismo, masculinidade tóxica, dentre vários outros temas socialmente relevantes. 

O tempo necessário é tomado para que as personagens tenham personalidades distintas e a futilidade se torne justificada dentro da ideia de suas idades e experiências. Em uma sequência particularmente marcante, múltiplos acontecimentos são mostrados ao mesmo tempo através de painéis que se dissolvem para revelar outros ângulos dentro de cada situação. A falta de cortes diretos cria uma tensão, um desespero para que voltemos ao modo tradicional de fazer as coisas e uma identificação imediata com o estado caótico das personagens. É o momento que ultrapassamos a fachada de superficialidade inicialmente apresentada e sentimos que estamos vendo pessoas com personalidades e conflitos inseridas em um contexto muitíssimo problemático.

Pontos negativos certamente irão variar muito de um espectador para o outro. O viés político é explícito e ironiza as idiossincrasias do pensamento da direita americana ao retratá-la como um grupo que encontra na violência uma forma de lidar com sua hipocrisia. O tempo todo, através de uma examinação realística do comportamento em redes sociais e interações entre grupos sociais diferentes, há um sentimento de que o maior horror é perceber que o exagero não é tão exagerado assim. Outro aspecto interessante é o fato de que, ao chegar no terceiro ato, a desvalorização da lógica abraçada pela multidão é incorporada ao próprio roteiro quando este abandona a pretensão de apresentar os eventos de forma lógica e busca apenas criar uma experiência de imersão, sacrificando a coerência narrativa em troca de uma consistência temática. 









Finalmente, o sentimento que fica, é que o filme pode despertar o interesse por obras mais complexas. Pode parecer quase blasfêmico, mas não conseguia parar de pensar em Roma, de Alfonso Cuarón, e no quanto Assassination Nation apresenta uma intenção de controle estilístico semelhante, mas muitíssimo mais acessível para o público jovem em geral. Existem muitos obstáculos para atingir um público grande, mas acredito que nunca foi o objetivo do filme fazer isso. A obra se orgulha das escolhas em termos de violência e política, por mais extremas que muitos espectadores possam considerá-las. A estes, resta não perceber os tempos extremos que vivem, a política que ignoram e a violência que os cerca.


Título Original: Assassination Nation 


Direção: Sam Levinson 


Duração: 110 minutos 


Elenco: Odessa Young, Suki Waterhouse, Hari Nef, Abra, Anika Noni Rose, Colman Domingo, Maude Apatow, Bill Skarsgård, Joel McHale, Bella Thorne 


Sinopse: Quatro adolescentes de um pequeno subúrbio se tornam o foco de atenção da mídia em todo o mundo, depois que suas informações pessoais são divulgadas por um hacker anônimo.

Trailer:




Esse filme é um exemplo clássico do debate sobre Estilo x Substância. 
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