Crítica: A Mula (2019, de Clint Eastwood)

Eis que um ciclo de atuações, direções e ter o reconhecimento, por muitos, como uma das grandes personalidades do cinema mundial está chegando ao final! Pelo menos é o que o próprio Clint Eastwood vem dizendo ao longo dos últimos anos. Com os seus 88 anos bem vividos, muito deles dedicados à sétima arte, se despede em grande estilo, mesmo não trazendo o brilho de outros grandes filmes, como Gran Torino, A Menina de Ouro e Sniper Americano, ele traz consigo a dedicação e a paixão que tem pelo seu trabalho em A Mula, filme que estreia nesta quinta feira, 14, nos cinemas.


Baseado em um artigo do The New York, The Sinaloa Cartel’s 90-Year-Old Drug Mule, Clint Eastwood é Earl Stone, um veterano de guerra que vê seu trabalho no ramo das flores começar a ficar ultrapassado com a chegada massiva da internet. Ao mesmo tempo que tenta não perder clientes e seu negócio ir por água baixo, lida com a resistência de sua família de não querer compactuar com as próprias decisões tomadas no passado. A saída para toda essa amargurada vida é aceitar um trabalho e ser a “mula” perfeita para um cartel de traficantes de Sinaloa e retomar o gosto pela vida, antes que os narcóticos possam mudar totalmente o seu roteiro.

Como dito anteriormente, A Mula não traz uma trama que segure o expectador na poltrona. O deleite é acompanhar as novas aventuras que Earl Stone está disposto a passar nos mais diversos serviços que presta. Para isso, Clint muda totalmente a sua personalidade de seriedade e passa a atuar de maneira mais leve, suave, com a intenção de aproveitar os seus últimos momentos como ator. A suavidade é tão simplista e crível que somos involuntariamente convidados a viajar junto com Earl e nos deliciar na maneira de levar toda essa situação perigosa em uma grande jornada em meio às situações mais constrangedoras que possam gerar um grande embate polêmico, pelo cunho social que aborda em determinadas parcelas no filme. É sabido que o ator e diretor tem opiniões polêmicas a respeito desses assuntos e tenta tirar um pouco de proveito disto se redimindo desses erros em tela. Vale o registro para as cenas com a família negra na estrada e o grupo de mulheres motoqueiras que aparecem dentro da trama.

Entretanto isso não deixa de manchar a sua vida cinematograficamente, pelo contrário, é uma escape para refletir, de fato, o que realmente podemos fazer pelo próximo e ressaltar as nossa reflexões cotidianamente de tomar certas decisões na vida, de maneira que respeite o próximo, ouvindo e discutindo cordialmente as opiniões adjacentes e que capacite ainda mais o conhecimento das bandeiras que são levantadas, ignorando sempre os extremismos de ambos os lados, uma ignorância que ainda procede mundialmente.  


Dentro das escolhas do roteiro, a gangorra de emoções se alterna durante os 116 minutos de filme. Todo rebanho tem a sua ovelha “rebelde”. A esperança  de que possa reparar todos os erros do passado, se personifica na neta de Earl, interpretada por Taissa Farmiga, uma forma de tentar trazer novamente para o íntimo familiar, algo que funciona bastantemente bem e atenua o elo de ligação para dar gancho às turbações sentimentalistas que estão canalizadas em seu ambiente interior. Por outro lado a forçação de barra em alimentar uma possível amizade de Earl e Julio (Ignacio Serricchio) é bastante incompatível com o restante da proposta de roteiro. As boas tiradas sarcásticas em certos diálogos concentram o humor necessário nos breves momentos em que pede. Ao meio desse “carnaval” todo, a trilha sonora incessante seduz os nossos ouvidos sendo uma espécie de companheira fiel nestas transições na estrada. Como não sermos simpáticos a Clint cantando Ugly Child, de Lovin’ Sam Theard, por exemplo? A naturalidade é a alma que conduz a narrativa de A Mula.

Tirando um dos diálogos de Clint com Cooper, agente da DEA, e a partilha de sentimentos pela esposa, interpretada por Dianne Wiest (Footlose e Edward, Mãos de Tesoura), o elenco pouco tem a acrescentar dentro da trama dando apenas suporte para o protagonista do filme em sua “despedida oficial” na atuação.

Sem qualquer expectativa de se tornar algo memorável dentro do cinema, A Mula funciona como uma auto-homenagem de Clint Eastwood à sua carreira artística, mesclando os mais variados personagens e personalidades que já vivenciou como forma de se despedir magistralmente das telas e manter mais o seu tempo cuidado de si mesmo perto dos seus 90 anos de idade, como se fosse flores que brotam e deixam a vida ao redor mais enriquecida de vida. Claro que torcemos muito para que novos projetos vindouros possam continuar brilhando no cinema atrás das telas, afinal de contas é um dos mais importantes nomes de Hollywood!

Título Original: The Mule

Direção: Clint Eastwood

Duração: 116 minutos

Elenco: Clint Eastwood, Bradley Cooper, Michael Peña, Dianne Wiest, Alison Eastwood, Laurence Fishburne, Taissa Farmiga, Andy Garcia, Ignacio Serricchio e outros.  

Sinopse: Earl Stone, um homem de cerca de 80 anos que está falido, sozinho e prestes a perder seu negócio, até lhe oferecerem um trabalho no qual tudo o que tem que fazer é dirigir.  Parece fácil, mas, sem saber, Earl aceita se tornar transportador de um cartel mexicano e acaba fazendo um bom trabalho – tão bom, na verdade, que sua carga cresce exponencialmente e um receptador é designado para trabalhar com ele. Contudo, ele não é o único de olho em Earl, que também entra no radar do agente Colin Bates, do órgão de combate às drogas (DEA). Porém, embora seus problemas financeiros tenham se tornado coisa do passado, os erros cometidos por Earl começam a pesar sobre ele e não se sabe se ele conseguirá corrigi-los antes que as autoridades ou os membros do cartel consigam pegá-lo.

Trailer:



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