Crítica: Channel Zero: No-End House – 2ª Temporada (2017, de Steven Piet)

Lançada em 2017, a segunda temporada começa lembrando um episódio de Black Mirror,
porém, perde o passo conforme os episódios se aprofundam e, o que podia
ter sido incrível, vira apenas mediano. Não me entenda mal, ainda vale
muito a pena ver os episódios, a carga dramática densa e forte da
primeira temporada ainda está presente, o terror psicológico do que está
por vir e como os personagens lidam com seus conflitos é interessante.
Entretanto, falto algo. 
Vamos aos fatos! 

A segunda temporada da série é uma livre e complexa adaptação do conto assinado por Brian Alan Russell e gira
em torno de uma jovem garota, Margot (Amy Forsyth), que sofre desde que
seu pai se suicidou. Margot é desafiada a entrar num misterioso casarão
junto com seus amigos, após descobrir que a atração é capaz de fazê-la
mudar de perspectiva sobre o mundo.
E
é aqui, no momento que eles entram na casa, que começamos a perceber
que, na verdade, a casa lida com seus medos e suas vontades. É o famoso
ditado: cuidado com o que deseja. Nem sempre o que você acha que
quer, é o que realmente você precisa. A casa em si tem 6 cômodos, você
pode sair de qualquer um deles a qualquer momento, porém, se chegar ao
final, a casa te dá algo em troca. Ou pelo menos é isso que todos
pensam. Ela dá algo que você deseja, mas não sem um custo. A casa te
prepara ao possível horror que você enfrentará ao sair. A submissão ao
aceitar as ”provas”, compartilhando o medo, e o aceitando, para
depois, ao passar por isso de novo, os acontecimentos não pareçam tão
absurdos. Dizem que os desejos nunca são realizados de graça, e aqui
acontece exatamente isso, a casa cobra um preço, e bastante alto.
Apesar
de mesclar com o sobrenatural, o fator humano é muito realista e não dá
um ar tão absurdo ao que acontece. A complexidade do roteiro é enorme e
nos faz pensar: até onde iríamos para conseguirmos o que queremos? Os
personagens descobrem algo sobre eles mesmos que nem sabiam que
tinham, ou que eram capazes. Conforme os episódios vão dando algumas
explicações, ficam nítidas quais as fraquezas de cada um e, mesmo
percebendo-as, muitas pessoas preferem viver uma mentira do que voltar
a realidade, preferindo pagar o preço à se desfazer daquilo que “ganharam”. A casa se alimenta disso. Do
medo, da ingenuidade e das fraquezas. 

Algo muito complexo para um
desenvolvimento raso dos personagens, conseguimos entender o que move
cada um, mas sem a profundidade necessária. Algumas cenas chegam a ser
sufocantes do ponto de vista do telespectador que, em determinada hora,
já entendeu tudo, mas ainda precisa esperar o personagem se posicionar
sobre. A angústia de cada personagem é passada em partes, uns mais
nítidos do que outros, mas, ainda assim, conseguimos ver qual a natureza
do sofrimento deles: a de Margot, é o pai; a de Jules (Aisha Dee), é a
culpa; e assim sucessivamente nós vamos a digerindo, pouco a pouco. 



Eventualmente, chegamos à parte em que os personagens conseguem se
regenerar dos seus atos e de tudo aquilo que a casa tirou proveito de
alguma forma. O ritmo lento da história visto em ambas as temporadas é
essencial para ditar a evolução dos acontecimentos, que mesmo em seis
episódios é algo denso de ser visto. A escolha de cores como azul e o
cinza, visto em praticamente tudo, dá uma sensação de abandono e
inquietude, as tomadas são feitas mostrando
o mundo. Até onde ele pode chegar, frisando muitas vezes o horizonte e em contraste, o ser humano, tão pequeno nessa perspectiva. 

A
temporada em si tem algo poético e muito simbólico quando pensamos que
alimentamos determinadas lembranças para mantê-las vivas, ao passo que,
escolhemos não lembrar de outras, até o ponto de não sentir mais nada,
nem mesmo a respeito das memórias que tanto tentamos manter. Uma luta
constante entre o que queremos e o que realmente devemos, a escolha
entre o certo e o errado, o sim e o não, mesmo sabendo todas as
respostas. Se torna difícil explicar com todas as letras a complexidade
dessa história e até onde ela pode ser discutida. Apesar de alguns
deslizes, a série é um achado num mundo farto de terrores clichês. 



Título Original: Channel Zero: No-End House


Direção: Steven Piet

Episódios: 6

Duração: 42 minutos

Elenco: Amy Forshyt, Sebastian Pigott, Aisha Dee, Jhon Carroll Lynch, Jeff Ward

Sinopse: Na segunda temporada de “Channel Zero”, uma jovem (Amy Forsyth) visita a
Casa Sem Fim, uma bizarra casa de horrores cheia de quartos estranhos e
perturbadores. Quando ela retorna para sua casa, percebe que há algo de
errado e que tudo mudou.


Trailer:


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