Crítica: Doctor Who – 11ª Temporada (2018, de Jamie Childs e outros)

O sonho das feministas fãs de Doctor Who se realizou. Pela primeira vez na história da série que, diga-se de passagem, é bem longa (desde 1963), temos uma mulher como protagonista, interpretada com maestria por Jodie Whittaker. Além da descaracterização em relação à personagem principal, quem acompanha a série também pode perceber a variação bastante inédita em relação aos companions

Pode-se dizer que essa temporada de Doctor Who foi uma temporada de experimentação. Muita coisa mudou, as coisas estão diferentes e leva um tempo para se acostumar. Isso é normal. Mas se pararmos para pensar, em toda regeneração do Doctor nos sentimos dessa maneira, pois criamos um carisma imenso pelo anterior que dificulta a entrega do coração para o próximo, então isso não é algo exclusivo que está acontecendo só agora por conta da troca de gênero do personagem.

No entanto, sendo sincera e falando de fã para fã, quando soube da novidade que teríamos Jodie Whittaker como Doctor, eu fiquei tão feliz a ponto de não me preocupar se a série seria boa ou ruim em termos de enredo, porque só pelo fato de algo tão grande assim acontecer em pleno 2018 já era motivo de grande satisfação. Quando o êxtase inicial passou e eu me acostumei com a ideia, criei muitas expectativas, porém sem medo de não tê-las atendidas. E a cada episódio lançado eu ia assistir tão feliz, tão de coração aberto, com o botãozinho do julgamento completamente destruído, que eu achei a série inteira maravilhosa, apesar de seus altos e baixos. Porém, altos e baixos não é algo exclusivo dessa temporada, nem dessa série, o universo do cinema está sujeito a isso, então vamos tirar os antolhos porque um paradigma está sendo quebrado aqui!


Doctor Who ao longo do tempo criou sua mitologia própria que tem seu cunho de complexidade mas, basicamente, é um alienígena que perambula pelo tempo e espaço com uma companhia humana. De 1963 a 2017 esse alienígena sempre foi a figura de um homem e sua companhia sempre foi uma mulher. Então, além da novidade já citada a respeito da personagem principal, ver a mudança nos companions também foi bastante importante, porque não se bastaram a colocar apenas um homem para acompanhá-la, mas, sim, três pessoas, sendo um senhor (Graham, por Bradley Walsh), um jovem (Ryan, por Tosin Cole) e uma jovem (Yasmin ou Yaz, por Mandip Gill).

Os quatro se tornaram uma família e é muito divertido vê-los mergulhados em aventuras juntos, embora tenha a sensação de que alguém sempre fica sobrando e esse alguém sempre é Yaz, mas não em todo episódio. Nessa temporada Graham e Ryan se destacaram mais que a garota, mas como os três estão confirmados para a 12ª temporada, a esperança é que nesta a personagem de Mandip Gill se sobressaia mais. 

Quanto ao enredo não dá pra dizer que é totalmente perfeito, mas não há discrepância entre um episódio ou outro, sendo um muito bom, outro muito ruim. Todos os episódios são bons, mas uns são excelentes, como como o The Ghost Monument, Rosa, Demons of the Punjab, The Witchfinders. Percebi que gostei mais dos episódios que tinham um cunho social por trás, acho que a temporada estava com esse feeling devido às grandes mudanças. Os episódios que eram apenas whodianos ainda assim eram muito bons, mas não me cativaram tanto devido aos vilões serem muito fracos; as reviravoltas finais continuam com a mesma pegada pacifista e inteligente, aliás, esse é o espírito do Doctor e sempre foi: ser inteligente para saber resolver as coisas sem violência, por pior que seja o inimigo, e embora os vilões tenham sido fracos em relação aos anteriores, esse mantra pacífico esteve presente, não só intrinsecamente, em todos os episódios. 

“- O que você está fazendo?
– Lutando.
– Não. Armas não. Nunca as use. Cérebros são melhores que balas.”

A falta de um arco ao longo dessa temporada foi notável a ponto de os cliffhangers de cada ep serem apenas o seu amor pela série e a vontade própria de continuar assistindo para ver qual será a próxima aventura. Isso é um pouco negativo em relação aos personagens, já que tantos episódios standalone com a falta de um arco podem prejudicar a criação do laço do telespectador com a Doctor e com os companions. Além de o fã mais próximo também sentir falta dos episódios duplos.


A produção da série é ótima, os efeitos são ótimos, a nova roupagem da Doctor ficou sensacional, o novo design interno da TARDIS combina muito com sua ”nova” dona, o estilo da nova música tema está muito legal também, embora o da 5ª temporada seja inesquecível pra mim. Jodie conseguiu com extrema facilidade pegar o feeling do que é ser um Doctor Who, então não houve estranhamento, não pareceu em nenhum momento que ela estava perdida naquele papel, pelo contrário, parece que nasceu para fazê-lo. Estou muito empolgada com a 13ª Doctor e espero que ela nos acompanhe aí pelo menos por mais 2 temporadas também; e torço para que a próxima regeneração seja ainda mais ousada que esta. Que a série continue acompanhando as mudanças do mundo e continue introduzindo conteúdo de relevância social em seus episódios, afinal, o intuito da série sempre fora ensinar enquanto entretêm. 

Notícia:

A BBC confirmou a 12ª Temporada apenas em 2020 e Lizo Mzimba, correspondente de entretenimento da emissora justificou a decisão dizendo que a série “tem uma necessidade complexa e única de condições de filmagens e um período de pós-produção longo“. 



Título Original: Doctor Who

Direção: Jamie Childs, Jennifer Perrott, Mark Tonderai e Sallie Aprahamian

Episódios: 10


Duração: 50 minutos 


Elenco: Jodie Whittaker, Bradley Walsh, Mandip Gill, Tosin Cole e mais.

Sinopse: Uma alienígena viaja no tempo e espaço com seus companheiros para resolver problemas intergalácticos e salvar a história da Terra. Seu lema: ser inteligente para saber resolver as coisas sem violência, por pior que seja o inimigo.

Trailer:

Já assistiu essa temporada que veio pra desconstruir o mundo Whodiano?
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