Crítica: Tempo de Despertar (1990, de Penny Marshall)

 “Leia o jornal. O que diz? Só coisa ruim. Está tudo ruim. As pessoas esqueceram o sentido da vida. Esqueceram o que é estar vivo. Elas precisam ser lembradas. Elas precisam ser lembradas do que elas tem e o que podem perder. O que eu sinto é alegria em viver, o presente da vida, a liberdade da vida, o encantamento da vida.”

Com este diálogo, começo a crítica de Tempo de Despertar, produção de 1990 dirigida por Penny Marshall, que também dirigiu Quero Ser Grande, com Tom Hanks. Este tocante filme baseado em fatos reais, traz Robin Williams como um neurologista que decide experimentar uma medicação em pacientes catatônicos que sofrem de encefalite letárgica. Além disso, ao contrário de seus colegas de trabalho, ele trata os pacientes com dignidade, indiferente da situação do mesmo, pois acredita que eles tem noção de tudo o que acontece ao seu redor. Nesse ínterim, o primeiro paciente a receber o tratamento é o personagem de Robert De Niro, que apesar de estar em um estado paralítico décadas, começa a responder à medicação e assim a “despertar”. 

O filme é brilhante de várias maneiras. Primeiro, a atuação de De Niro é fantástica, ele encara um papel difícil, de alguém doente cheio de “tics” e limitações, mas faz isso sem exagerar ou ficar caricato. Existe aqui um timing entre passar uma imagem debilitada, mas sem soar forçado demais, tampouco muito pesado, para não lançar um fardo negativo no público. Não à toa, ele concorreu ao Oscar de Melhor Ator. De Niro é um destes grandiosos da sétima arte, já tendo recebido prêmios por O Poderoso Chefão Parte II e Touro Indomável. Em uma época em que o veterano colecionava papéis de peso, este aqui não fica atrás. Robin Williams não perde em nada em cena, entregando um personagem delicado e humanitário. E como ele faz falta no cinema! Seus personagens sempre humildes, humanos e sensíveis carregam uma sinergia que facilmente cativa o público. E é difícil não se emocionar com os dois em cena. Se o roteiro é burocrático ao trazer o rotineiro de cinebiografias, outrora se privilegia a interação dos personagens dos dois astros da produção.


A direção de Penny Marshall não traz nada novo ou visualmente engenhoso. Entrega-se apenas aquilo que se espera em uma direção de um drama sólido, sem ousar, mas carregando competência vinda de uma veterana cineasta do gênero. Assim como o roteiro e o plot do filme em si, a direção assegura que uma simples e bela mensagem seja contada. Visualmente, há uma fotografia e direção de arte competentes, que optam por soluções visuais e artísticas mais realistas, aproveitando cenários e locações de maneira mais crua, longe do espetáculo e mais próximo do fator humano. 

A maior força do filme é a mensagem ambígua que a obra traz. Embora a medicação faça efeito em pacientes que ficaram décadas em um estado de sono, quem aprende a lição é quem nunca esteve neste tipo de situação ou enfermidade. Descobre-se que os pacientes sempre estiveram cientes de tudo ao seu redor, e agora com o tratamento, eles conseguem fazer aquilo que querem e viver de verdade. Isto é o oposto das pessoas que tem saúde, mas não vivem como querem ou deveriam, pois estão dormentes nos seus empregos, dinheiro, compras, problemas, burocracias e divisões sociais. Vemos isso no contraste dos protagonistas: enquanto que De Niro desperta da doença vivendo tudo o que pode de maneira verdadeiramente feliz, Robin Williams desperta do seu comodismo mental, percebendo o quanto é solitário e desperdiça a vida, independente da boa saúde. Com um final melancólico que dói saber que isso aconteceu na vida real, Tempo de Despertar traz uma mensagem poderosa sobre acordar para a vida. A vida de verdade, dando valor as coisas mais simples e deixando de lado todas as bobagens da sociedade moderna. 
  
Título Original: Awakenings
Direção: Penny Marshall
Elenco: Robert De Niro, Robin Williams, Penelope Ann Miller, Julie Kavner.
Sinopse: Bronx, 1969. Malcolm Sayer (Robin Williams) é um neurologista que conseguiu emprego em um hospital psiquiátrico. Lá ele encontra vários pacientes que aparentemente estão catatônicos, mas Sayer sente que eles estão só “adormecidos” e que se forem medicados da maneira certa poderão ser despertados. Assim pesquisa bem o assunto e chega à conclusão de que a L-DOPA, uma nova droga que já estava sendo usada para pacientes com o Mal de Parkinson, deve ser o medicamento ideal para este casos. No entanto, ao levar o assunto para o diretor, ele autoriza que apenas um paciente seja submetido ao tratamento. Imediatamente Sayer escolhe Leonard Lowe (Robert De Niro), que há décadas estava “adormecido”. Gradualmente Lowe se recupera e isto encoraja Sayer em administrar L-DOPA nos outros pacientes, sob sua supervisão. Logo os pacientes mostram sinais de melhora e também mostram-se ansiosos em recuperar o tempo perdido. 

Trailer:

E você querido leitor, já viu e se emocionou com este belíssimo filme? Comente 😉

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