Crítica: Culpa (2018, de Gustav Möller)


A megalomania hollywoodiana nos faz pensar que é impossível fazer um bom filme de ação ou suspense sem o uso de muitos recursos financeiros, efeitos especiais, explosões, tiros, corridas de carro (…) A grande estrutura dos blockbusters americanos praticamente nos tirou aquilo que é essencial em um filme de ação: a emoção, o mexer com os sentidos, o palpitar do coração. Sejamos francos: quantas cenas de Transformers ou Velozes e Furiosos realmente mexeram com você? Os filmes de orçamento milionário estão mais preocupados com a qualidade dos efeitos visuais do que com o roteiro em si. E isso explica o fato de algumas grandes bilheterias do cinema só conseguirem indicações ao Oscar na categoria de Efeitos Especiais.


O longa dinamarquês Culpa, estreia de Gustav Moller na direção, surge para quebrar todos esses paradigmas e nos prova que é possível sim fazer um (bom) filme de ação com poucos recursos. O longa nos apresenta o policial Asger Holm, que cuida das chamadas de emergência em uma delegacia na Dinamarca. No fim do seu turno, Asger atende a ligação de uma mulher que diz ter sido sequestrada. Quando a chamada é perdida repentinamente, o policial começa uma busca implacável para encontrar a vítima e o sequestrador. Por mais que Asger queira pegar o carro da polícia e resolver o problema com suas próprias mãos, ordens superiores o impedem de fazer isso: Asger é um policial afastado de ações na rua e o desenrolar do filme nos explica exatamente o porquê.



Correndo contra o tempo, o policial utiliza-se apenas de um telefone e de um computador para acionar pessoas e arquitetar todo o plano que irá salvar a vida da mulher sequestrada. E Culpa é basicamente isso: um policial em desespero tentando salvar a vida de alguém. Em momento algum, a vítima, o seu algoz e as outras pessoas envolvidas no caso aparecem na tela. Você só as escuta e imagina a sua aparência.



Premiado em Rotterdam e eleito pelo público como o melhor filme de Sundance, Culpa é uma homenagem aos roteiristas, aos atores, aos montadores, aos engenheiros de som (…) Todos eles são incrivelmente desafiados nesse longa e cumprem suas respectivas funções com muito louvor. É extremamente difícil – principalmente nos dias de hoje – segurar a atenção da plateia sem apelar para muitos recursos. E Culpa não só segura a nossa atenção como também nos deixa aflitos e em clima absoluto de tensão.


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Culpa leva para os cinemas a prática do storytelling,
algo muito semelhante a um monólogo teatral. E é no teatro – principalmente nos
monólogos – que os grandes roteiros e os grandes atores mostram todo o seu
potencial. E Culpa leva muito dessa linguagem teatral para as telas do cinema.
É como se essa produção dinamarquesa pegasse todos os 
blockbusters americanos
pelo cabelo e dissesse: “Gente, é possível fazer um bom filme contando uma
boa história. A história é o que importa, invistam na história!”.

E Hollywood, que não é boba nem nada, já pretende refilmar o
longa dinamarquês com Jake Gyllenhaal no papel principal. A Academia também já
reconhece o valor dessa obra e 
Culpa conseguiu entrar na shortlist de
filmes que irão concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. E, para
conseguir a tão sonhada indicação, ele terá que enfrentar o badalado
japonês 
Assunto de Família e o mexicano Roma, que
é o favorito da categoria. Que tenha boa sorte!



Título Original: Den Skyldige.


Direção: Gustav Moller.

Elenco: Jacob Cedergren, Jakob Ulrik Lohmann, Laura Bro, Morten Suurballe e Peter Christoffersen

Sinopse: O policial Asger Holm (Jakob Cedergren) está acostumado a trabalhar nas ruas de Copenhaguem, mas devido a um conflito ético no trabalho, é confinado à mesa de emergências. Encarregado de receber ligações e transmitir às delegacias responsáveis, ele é surpreendido pela chamada de uma mulher desesperada, tentando comunicar o seu sequestro sem chamar a atenção do sequestrador. Infelizmente, ela precisa desligar antes de ser descoberta, de modo que Asger dispõe de poucas informações para encontrá-la. Começa a corrida contra o relógio para descobrir onde ela está, para mobilizar os policiais mais próximos e salvar a vítima antes que uma tragédia aconteça.

TRAILER:
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