Especial Antifascismo: As Sufragistas (2015, de Sarah Gavron)

Não é difícil olhar para a sociedade e perceber que as pessoas não estão em pé de igualdade umas com as outras. Todos que não são homens brancos héteros ricos, são discriminados de alguma forma, ou seja, para um negro, um índio, um lgbti+ ou uma mulher ter os mesmos direitos que esses homens, é preciso de muita voz, luta e resistência. 

Focando essa matéria da luta das mulheres, não posso deixar de falar sobre o feminismo. Feminismo, para algumas pessoas, até mesmo para algumas mulheres, soa como uma palavra terrorista, como se a pessoa que se intitula feminista fosse uma das mulheres mais perigosas desse planeta. No entanto, quem pensa dessa forma é porque não tem conhecimento da causa e/ou ainda não teve coragem de enfrentar o patriarcado. 

O feminismo não significa que uma mulher é obrigada a parar de se depilar, a nunca mais ter filhos, não casar, não ser dona de casa, não ser sustentada pelo marido, queimar sutiãs, nada disso! O feminismo é a luta para que as mulheres possam fazer o que elas quiserem, sem que sua vida se resuma a agradar os padrões – machistas – da sociedade. Por exemplo: você quer ter filhos? Ok, tenha filhos! Você não quer ter filhos? Tudo bem, você não precisa ter filhos! Você quer casar? Ok, case! Você namora há 10 anos e não quer casar? Tudo bem, não precisa casar! Você quer cuidar da casa e dos filhos enquanto seu marido trabalha? Tudo bem! Você também quer trabalhar? Tudo bem também! 

Obviamente que o feminismo vai muito além desses quesitos citados acima. É um movimento político e social bem vasto e complexo que se resume a tantos detalhes que, por conta do patriarcado instalado na história desde sempre, as mulheres estão em uma condição em que o abuso já virou normalidade e elas, muitas vezes, não conseguem enxergar sozinhas que não são obrigadas a fazer tais coisas, como por exemplo, ser a unica responsável pela limpeza da casa, por cozinhar, dar a maior atenção para os filhos, etc. Homens costumam se vangloriar porque “ajudam” em casa quando, na verdade, quando se casa ou passa a morar junto, os serviços domésticos são tão obrigações deles quanto eles acham que são das mulheres! Mas repito: o feminismo vai muuuito além disso, muito!


Diante do nosso caótico cenário politico atual, é muito importante falar sobre o feminismo, que é uma luta constante pela igualdade, e foi graças a esta luta que as mulheres tiveram conquistas muito importantes, como o direito ao voto, que é sobre o que a indicação do filme de hoje vai tratar. Digo que é muito importante, porque um dos candidatos a presidência faz discurso de ódio contra as mulheres (entre outras classes, raças e gêneros), apresenta a violência como forma de resolução de conflitos e é contra o ativismo, que, nada mais é, do que o direito que os civis tem de se manifestarem. Ou seja, se esse candidato ganhar, vamos esquecer que poderemos ir para as ruas manifestar o que quer que seja de forma pacífica, sem que corramos o risco de sermos agredidos ou mortos; viveremos num país de baixa ou nula democracia onde teremos que aceitar tudo e calados! É isso que queremos?


Não entender que nós, mulheres, necessitamos dos mesmos direitos que os homens pelo simples fato de todos sermos pessoas e capazes, é uma tamanha ignorância. Por décadas nunca foi dado ouvidos aos nossos protestos pacíficos em prol de nossos direitos, então, começamos a lutar. “Nós quebramos janelas, incendiamos coisas, pois a guerra é a única língua que os homens entendem”. Pena que para nós, os berros e coisas quebradas nos taxaram como desequilibradas e mentalmente incapazes. 


Metade da população não pode se resumir a ser mãe, esposa, cuidar da casa ou serem limitadas a trabalhos quais os homens acreditem ser apropriados para nós, pois estas devem ser escolhas somente nossas, e de mais ninguém. Já diziam as sufragistas: “Se você quer que eu respeite a lei, faça a lei respeitável”. Hoje, a luta que seguimos – além do combate diário ao machismo – é que essas leis que foram conquistadas, sejam verdadeiramente respeitadas e cumpridas. 

Chega de sermos ridicularizadas, agredidas e ignoradas. 

“Preferimos ser rebeldes do que escravas”. 

Parte do elenco vestindo a camisa com a descrição da frase acima.
Com essa pequena introdução querendo dizer que nós, mulheres, cansamos de todas as intolerâncias que os homens nos fizeram e fazem passar, além de informar que à luta feminina pela igualdade está cada vez maior, bem como a sororidade entre as mulheres, segue a crítica de um filme biográfico que relata à conquista que tivemos em relação ao sufrágio feminino (direito ao voto). 


O filme já começa com citações pesadas, para não dizer machistas, mas ao longo dele somos contagiados e energizados pela força dessas mulheres dando início a luta do movimento feminista. Arduamente lutaram pela igualdade e liberdade, mais especificamente pelo direito à participação na vida política e por leis que promovessem uma justiça equânime, custando o que custasse. 



Temos um elenco de peso retratando essa história na tela no cinema, a começar pela Meryl Streep (O Diabo Veste Prada, Mamma Mia!, Caminhos da Floresta), que acreditamos ter sido colocada no filme para ter peso, pois pouco aparece, mas, ainda assim, nos poucos minutos em que nos agracia com sua ilustre presença, não deixa de ser magnífica nem só por 1 segundo. Temos Carey Mulligan (O Grande Gatsby, Drive, Educação) interpretando Maud, nossa protagonista, que fez jus ao papel para o qual foi escalada. Conseguiu com maestria dar corpo, força e vida a esse papel a ponto de não conseguirmos imaginar outra atriz em seu lugar; e no mundo cinematográfico este é um feito e tanto! Não podendo deixar de mencionar a nossa eterna Bellatrix, Helena Bonham Carter (Os Miseráveis, Clube da Luta, Harry Potter), dando vida a forte personagem Edith New. Helena, assim como Carey, tem um talento tão poderoso em tornar-se unica em um papel, fazendo com que não consigamos imaginar outrem em seus lugares. Não que Meryl Streep não seja tão talentosa quanto, quem seríamos nós para questionar o trabalho desse ícone do cinema, mas é que aparece tão pouco que poderia ter sido substituída. Além destas, todas as outras atrizes, e atores também, foram excelentes; todos conseguiram passar a emoção, força, tristeza que estar numa situação com tanta opressão acarreta, bem como conseguiram fazer papéis opressores com muita veracidade. Em suma, conseguiram retratar a história na tela e isso foi lindo!

No cinema, o ponto alto de um filme biográfico não é só o roteiro propriamente dito, obviamente que seguir uma ordem na história e saber contá-la de forma verossímil é de suma importância, e, diga-se de passagem, isso aconteceu nesse filme; mas, o mais importante, é conseguir um elenco que fizesse jus a toda carga, força e importância dessa história, qual começou no início do século passado, e isso nós também já sabemos que teve. Em todo o filme, existe apenas uma coisa que pode ter chateado um pouco as mulheres (não sei quanto aos homens), que é o seu tempo de duração; 106 minutos pode ser muito pouco para quem tem sede de ver e conhecer sua história, afinal, que mulher ficaria cansada de ver suas próprias lutas e conquistas?

Embora seja um filme de 2015, nunca será antigo demais para indica-lo, devido este retratar um movimento que não perde sua importância e não deixou – infelizmente – de ser atual. 
A luta continua.

Título Original: Suffragette


Direção: Sarah Gavron


Elenco: Carey Mulligan, Helena Bonham Carter, Meryl Streep, Adam Nagaitis, Adrian Schiller, Amanda Lawrence, Ancuta Breaban, Annabelle Dowler, Anne-Marie Duff, Ben Whishaw, Brendan Gleeson, Clive Wood, Drew Edwards, Finbar Lynch, Geoff Bell, Hugh O’Brien, Lee Nicholas Harris, Lorraine Stanley, Matt Blair, Morgan Watkins, Natalie Press, Nick Hendrix, Pamela Betsy Cooper, Pete Meads, Romola Garai, Samuel West, Sarah Finigan


Sinopse: O início da luta do movimento feminista e os métodos incomuns de batalha. Mulheres que enfrentaram seus limites pela causa e desafiaram o Estado extremamente opressor. Baseado em fatos reais.


Trailer:




Galeria de Imagens:


Espero que tenha gostado da crítica/indicação! 
=)

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