Crítica: Felicidade Por Um Fio (2018, de Haifaa Al-Mansour)

Felicidade Por Um Fio é um filme que vai ganhando seu coração aos poucos, mas consegue, sem sombra de dúvidas, entregar o que estava querendo propor: o nascimento da autoestima e amor próprio de uma mulher que passou anos vivendo para agradar os outros para ter seu lugar na sociedade e ser considerada bonita. Em tempos de tanta luta feminina, onde constantemente e incansavelmente vemos as mulheres buscando seu espaço no mundo, esse filme não poderia ter vindo em melhor hora, principalmente para as mulheres negras e cacheadas!

O mundo não é dos brancos e quem pensa dessa forma não poderia estar mais errado e afogado em tanto preconceito, mas, por conta disso, inúmeras mulheres negras passam a acreditar que precisam agir como as brancas para serem bonitas e terem seus espaços, principalmente dentro de relacionamentos, onde o sinônimo de beleza para alguns homens é um cabelo liso e comprido.

Violet, infelizmente, é uma dessas mulheres que acha que seu longo cabelo liso é onde se concentram os seus super poderes de beleza, inteligência e autoconfiança, não se dando conta de que ela é muito mais do que suas madeixas. Quando começamos a nos irritar com a sua personalidade fútil por causa da paranoia excessiva em torno do seu cabelo – onde até mesmo para um almoço ao ar livre a sua secretária precisa checar a umidade do ar – é explicado em cenas de flashbacks da infância, o porquê de Violet ser assim.

Sua mãe, Paulette, desde sempre ensinou para a filha que cabelos cacheados eram o oposto de tudo o que significava ser bonita, não permitindo que Violet tivesse uma infância decente, pois tudo girava em torno de os cabelos sempre estarem perfeitos e extremamente lisos. Temos uma cena bastante amarga onde a família está em um clube e a menina está ali, de sandália, cabelos perfeitamente alinhados enquanto olha para as outras crianças e vê todos descalços, de cabelos molhados e desarrumados não dando a mínima importância para isso e, com isso, ela se sente encorajada a pular na piscina, confrontando as represálias da mãe que, por sua vez, ao invés de dizer que sua filha é linda do jeito que ela é, após ter sido chacotada por um garoto que perguntou “o que houve com seu cabelo?”, Paulette simplesmente arranca a filha da piscina aos puxões e elas vão embora.


Da infância à vida adulta sendo reprendida pela mãe e pela sociedade, Violet se torna uma mulher completamente chata e artificial. É extremamente controladora e evita fazer um milhão de coisas legais caso coloquem em risco um fio do seu cabelo. Mas após uma discussão com seu namorado, onde ele desabafa dizendo que está cansado de parecer estar repetindo o primeiro encontro por dois anos, ela começa lentamente a rever os seus conceitos.

O filme é esquematizado em 5 capítulos: alisada, peruca ondulada, loira, careca e novo crescimento. Cada um mostra eventos da vida da personagem, desde quando era influenciada por esses ditames irreais de beleza até chegar no auge do seu amadurecimento em relação à sua própria beleza natural. 


No capítulo da peruca ondulada é onde Violet conhece Will, dono do salão de beleza que destruiu seu cabelo após utilizar um produto que acabou sendo forte demais para um cabelo que já havia sofrido muito com tantos alisamentos. É com ele que, mais tarde, ela acaba se envolvendo amorosamente e conhecendo seus produtos naturais para mulheres negras que querem cuidar de seus cabelos cacheados. 


O enredo é simples, porém eficaz, como disse no início, consegue com maestria entregar o que propôs. Os personagens carismáticos enaltecem ainda mais a história e conseguem dar realidade aos extremos. Digo isso, porque algumas vezes me peguei perguntando o porquê de terem exagerado tanto em alguns momentos, até perceber que Violet não representa apenas uma pessoa, e sim, inúmeras mulheres que vivenciaram e vivenciam o mesmo, sendo, portanto, completamente aceitável alguns certos exageros em sua personalidade.

É um filme que aborda de forma leve, descontraída, engraçada, profunda e emocionante a questão da autoaceitação e amor próprio por quem verdadeiramente nós somos. Muitos filmes por aí colocam para baixo a autoestima feminina por venderem um conceito de mulheres perfeitas, enquanto Felicidade Por Um Fio está aqui para lhe lembrar que perfeição é se aceitar e se amar exatamente do jeito que você é, e que não tem problema nenhum você querer mudar algo no seu corpo, desde que isso seja por você, não pelos outros! 

“Não deixe a opinião de outra pessoa virar sua realidade.”

Título Original: Nappily Ever After

Direção: Haifaa Al-Mansour 

Elenco: Sanaa Lathan, Ricky Whittle, Lyriq Bent, Ernie Hudson, Lynn Whitfield, e mais.

Sinopse: Violet Jones (Sanaa Lathan) tem uma vida aparentemente impecável até que um acidente ao arrumar o cabelo faz com que as coisas em sua vida se desenrolem e ela começa a perceber que estava vivendo a vida que pensava que deveria viver, não a única que realmente queria. Violet começa a descartar algumas coisas que realmente não precisava, começando pelo cabelo perfeitamente endireitado e tenta encontrar um verdadeiro significado para a sua vida.

Trailer:
Obrigada pela leitura e espero que tenha gostado da indicação!

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