Crítica: …E O Vento Levou (1939, de Victor Fleming)

Ele é clássico, ele é insuperável, tem dimensões monumentais e é o filme que viverá para sempre…
…E o Vento Levou sobrevive firme como pioneiro e padrão para todos os romances que o sucederam. É o exemplar final do que é uma produção de Hollywood. A saga da jovem Scarlett, que é obrigada a amadurecer em meio aos horrores da Guerra Civil, apaixona-se perdidamente pelo marido de sua prima e, ao mesmo tempo, vive uma tórrida paixão com o figurão Rhett.

“Existia uma terra de cavalheiros e campos de algodão chamada ‘O Velho Sul’. Neste mundo bonito, galanteria era a última palavra. Foi o último lugar que se viu cavalheiros e damas refinadas, senhores e escravos. Procure-a apenas em livros, pois hoje não é mais que um sonho. Uma civilização que o vento levou!”

Opinião é subjetiva, eis um fato irrefutável, entretanto, se fosse para deliberar e eleger os melhores filmes já feitos, E o Vento Levou, o clássico imortalizado de 1939, estaria, com toda e rigorosa exatidão, na lista. Entretanto, como uma crítica não é individual, trancada unicamente nas ponderações de uma pessoa, apresento a minha visão sobre este filme, que é um dos melhores filmes que já assisti na minha vida, sendo acometido, em suas quase quatro horas de duração, por um misto de sensações que iam do ódio ao amor pela protagonista, arrebatado pela mais do que primorosa atuação de Vivien Leigh.

O filme conta a história da rebelde e decidida Scarlett O’Hara (Vivien Leigh), filha de um imigrante irlandês que se tornou um rico fazendeiro do Sul dos Estados Unidos, pouco antes da Guerra Civil Americana, a qual é, por sua vez, o cenário principal que dá movimento ao roteiro e, por conseguinte, anima a trama da nossa protagonista de pavio curto. No começo do filme, Scarlett é uma bela jovem mimada, orgulhosa e ambiciosa, apaixonada por Ashley Wilkes (Leslie Howard), filho do fazendeiro vizinho, mas este fica noivo da doce Melanie Hamilton (Olivia de Havilland).

Surge, a partir deste sentimento e em meio a tantas outras situações, um processo apinhado de paixões, conflitos e ambições que dão vida ao filme, fazendo quem o assiste torcer, odiar e sentir verdadeira compaixão por algumas das personagens em meio à uma cidade em chamas, assolada pela guerra que o Sul jamais pudera vencer. Scarlett se envolve nas mais altas peripécias, em situações desesperadoras, para ficar com o seu amado e manter-se distante dos sofrimentos, fome e pobreza que vem a assaltá-la ao logo da trama. É em Tara, a fazenda onde nasceu, que conhece Rhett Butler, um cavalheiro de má reputação e que não toma partido na disputa entre Sul e Norte do país. Rhett declara o seu amor por Scarlett, entretanto, a aversão que esta sente por ele a leva a repudiá-lo, frisando o fato de ser apaixonada pelo comprometido Ashley Wilkes.

Scarlett casa-se  unicamente para convir os seus próprios interesses. E não somente uma vez! Scarlett casa-se com Charles Hamilton, irmão de Melanie, na tola tentativa de fazer ciumes em Ashley, o que vem a ser frustrado por não conseguir almejar o que deseja. Logo em seguida, Ashley e Charles partem para a recém-declarada Guerra Civil. Contudo, Charles morre pouco tempo depois disso, deixando Scarlett viúva pela primeira vez. Nos momentos subsequentes, ao passo que a guerra se desenrola num banho de sangue e dor, Scarlett vai para a cidade de Atlanta viver com Melanie, e aguardar a volta de Ashley, servindo o Sul como enfermeira e ajudando a cuidar dos feridos.

Talvez o desespero em ver um pobre soldado ser amputado fora demais para Scarlett, porque juntamente com a amiga, ela volta para sua fazenda Tara, onde encontra sua mãe morta, seu pai louco e a fortuna destruída perante as ruínas de seu lar. Tomando providências para não deixar que tomem Tara, Scarlett, mesmo ainda amando Ashley, se casa com o noivo de sua irmã apenas por ele estar prosperando. E daí começa o segundo casamento de Scarlett, que não durou muito, porque em virtude de uma emboscada, seu atual marido acaba sendo morto.

É necessário dizer que, a esta altura, a guerra já havia acabado, deixando os frangalhos do velho Sul e seus habitantes humilhados, subjugados perante os Yankees que passariam a ditar os ideais que reformariam aquele país. Scarlett precisa da ajuda de Rhett diversas vezes, posteriormente chegando a casar-se com ele, tendo uma filha e enfrentando obstáculos e situações que jamais imaginara presenciar. Não tarda para que o filme finde, no entanto fazendo com que Scarlett tenha uma importante descoberta, o que contribui para o seu desfecho surpreendente.


Quem assistiu ao filme deve ter notado o quão desprezível e arrogante Scarlett pode ser para conseguir o que quer. Bipolar, de caráter duvidoso quando testado, possuindo um temperamento mais do que difícil, concedendo importância a poucas pessoas além de si. Seu egoísmo convoca a morte, e o amor que nutre por Ashley é a infelicidade que paira ao seu redor. No entanto, indo além desses predicados um tanto pejorativos, Scarlett O’Hara é fascinante, destemida, corajosa, imbatível em meio às mais difíceis posições que se erguem no seu caminho e, sobretudo, inegavelmente, responsável.

E para encontrar a atriz que interpretaria esta emblemática personagem, catalizou-se uma verdadeira disputa que, entre mais de 1400 atrizes entrevistadas para o papel, Vivien Leigh foi a vencedora. E a atriz inglesa fez por merecer, ganhando o Oscar de melhor atriz pela sua excelente atuação no filme. …E o Vento Levou é um dos mestres deste prêmio, tendo sido indicado em 13 categorias do Oscar, vencendo 8 delas e ganhando dois prêmios especiais. Das categorias que foi indicado levou os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante (Hattie McDaniel), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição, Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte. A fabulosa e inesquecível trilha sonora também foi indicada, ainda que não vencedora da categoria.

Uma curiosidade acerca do filme, é que Hattie McDaniel tornou-se a primeira artista de origem africana a ser indicada e a receber um prêmio Oscar (o de Melhor Atriz Coadjuvante). Porém, ela não pode comparecer na première de …E O Vento Levou, em Atlanta, por causa das leis racistas que regiam a época. O filme, como supracitado, é uma adaptação do livro de Margaret Mitchel que tem um enredo gigantesco de 801 páginas, contudo quem o lê, assim como quem assiste ao filme, não se sente enfadado, uma vez que é bastante envolvente, com diálogos cômicos e inteligentes.

Essa obra-prima é um dos primeiros filmes coloridos a serem filmados, um clássico que consagrou frases que, surpreendentemente, entraram para o vocabulário do senso comum com grande facilidade. É um filme com boas lições morais, que quebrou barreiras, que tende a ser engraçado em seus devidos momentos, mas que também expõe seriedade em assuntos importantes como a Guerra Civil Americana, tão importante para derrubar as leis escravocratas que imperavam nos estados do Sul, não obstante a carnificina perpetrada seja realmente lamentável. A sensação ganha pós-filme é, resumidamente, “uau!”. Esta mesma sensação aliada a fortes reflexões nos leva a crer que o filme é dez, com cenas marcantes, primorosamente feito. Mais bons adjetivos? Todos os possíveis.



Título Original: Gone With the Wind




Direção: George Cukor, Sam Wood, Victor Fleming

Elenco: Vivien Leigh, Clark Gable, Olivia de Havilland, Hattie McDaniel, Leslie Howard, Butterfly McQueen, Alicia Rhett, Ann Rutherford, Thomas Mitchell, Mickey Kuhn, George Reeves, Cammie King, Evelyn Keyes, Barbara O’Neil, Mary Anderson, Dred Crane, Victor Jory, Rand Brooks, Ona Munson, Everett Brown, Harry Davenport, Jane Darwell, Laura Hope Crews, Ward Bond, Oscar Polk, Carroll Nye, Yakima Canutt, William Bakewell, Jackie Moran, Eddie Anderson, Isabel Jewell, Irving Bacon, Leona Roberts, Marcella Martin, Paul Hurst, Eric Linden, J. M. Kerrigan, Olin Howland, Robert Elliott, Cliff Edwards.

Sinopse: Durante a Guerra Civil Americana, quando fortunas e famílias foram destruídas, um cínico aventureiro e uma determinada jovem, que foi duramente atingida pela guerra, se envolvem numa relação de amor e ódio.
Trailer:
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