Crítica: Você Nunca Esteve Realmente Aqui (2018, de Lynne Ramsay)


Existem alguns filmes que quando assistimos, achamos bons, mas esquecemos rapidamente, por não trazerem nada de novo ou por não mexerem pessoalmente conosco. Alguns filmes, raramente, podem até não serem perfeitos, mas permanecem com a gente dias, semanas e até meses após a sessão terminar. Definitivamente, Você Nunca Esteve Realmente Aqui é um desses filmes.


Joe (Joaquin Phoenix) é um matador de aluguel e veterano de guerra, que em uma das suas missões mais perigosas, resgata uma menina de um lugar onde vários homens praticam pedofilia.


Lynne Ramsay escreve e dirige o filme e ela é daquelas diretoras que sabem exatamente o que está fazendo e que tem uma personalidade tão marcante, que chega a ser rara. Em
Você Nunca Esteve Realmente Aqui, Lynne dá uma aula de desenvolvimento de personagem e de jornada de anti-herói bem contada.


A trama começa confusa propositalmente e ao longo do filme você vai conhecendo mais sobre a personalidade do Joe e sobre o seu passado sombrio. Em longos planos horizontais e em uma paleta de cores esverdeadas, escuras e frias, o filme te introduz a um mundo diferente, com clímax denso e com cenas violentas (sem usar desse artifício para colocar o longa como um filme de ação). É uma história que você pode comprar ou não.



Lynne faz tudo conscientemente, a edição é precisa em não revelar muita coisa logo no começo e introduz os flashbacks nos momentos corretos, mas peca em ter planos tão longos em algumas cenas e, nos momentos que realmente são interessantes, manter um ritmo irregular. A cena no rio (uma das cenas mais lindas do ano) e a do restaurante, em um dos últimos minutos do filme, mostram que Lynne é uma diretora bem acima da média e que ela merece mais atenção do que a que está recebendo.


A trilha sonora oitentista (oi
Corrente do Mal) é bem assertiva nos momentos mais tensos da trama. Há uma cena forte, crucial e violenta em que a trilha é fundamental e quando ela sobe, é um deleite.


Joaquin Phoenix venceu o prêmio de Melhor Ator em Cannes ano passado e dá para entender as razões que o levaram a vencer esse prêmio. Seu trabalho é contido de explosões dramáticas, mas é cheio de detalhes milimetricamente importantes para que a gente entenda seu personagem. Sua expressão cansada consegue nos mostrar os traumas que seu personagem carrega. Mesmo matando pessoas para sobreviver, Joe não é uma pessoa ruim e Phoenix consegue nos transmitir todas as emoções do seu personagem (principalmente a dor) através dos seus olhos. Os momentos dele com a jovem Ekaterina Samsonov são o ponto alto do filme e a diretora peca em explorar pouco essa relação de pai/filha que eles pareciam ter, mesmo sem se conhecerem muito bem.


Por mais que eu deteste esse tipo de comentário e ache bem elitista, dizer que
Você Nunca Esteve Realmente Aqui não é um filme para todos é a mais pura verdade, mas mesmo não sendo comercial e tendo sim alguns defeitos, é o tipo de filme que vai permanecer com você por alguns dias, é cinema bem feito, de autor, com personalidade e com um trabalho impecável do Joaquin Phoenix.

Título Original: You Were Never Really Here


Direção: Lynne Ramsay.


Elenco: Joaquin Phoenix, Alex Manette, Ekaterina Samsonov, John Doman, Judith Roberts e Alessandro Nivola.


Sinopse: Joe (Joaquin Phoenix) é um veterano de guerra e ganha a vida matando pessoas. Em um dos seus trabalhos mais arriscados, Joe tenta resgatar a filha do Senador de um cativeiro onde se pratica atos de pedofilia.


Trailer:


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