Crítica: Eu, Tonya (2018, de Craig Gillespie)

Muito se diz que toda história tem seus dois lados, não é mesmo? Se você for um pouco mais velho, com certeza vai se lembrar do escândalo de grande repercussão na década de 90 acerca de Tonya Harding, a esportista mais odiada da história. Título pesado! Acima, nas manchetes da época, não fica difícil imaginar quem possa ser a diabólica Tonya e quem possa ser a indefesa Nancy Kerrigan… 


Com 3 indicações ao Oscar, incluindo, Melhor Atriz (Margot Robbie), Melhor Atriz Coadjuvante (Allison Janney, que ganhou!) e Melhor Montagem, I, Tonya é um filme que traz o outro lado da história, mostrando, ainda que de forma hilária e de certo modo cômico, a vida nada fácil de Harding. 

O mundo dos esportes é pura competição. Isso faz com que, na maioria dos casos, os atletas cheguem ao seu limite e por vezes até os ultrapassem para garantir a vitória, a honra e a fama. Neste contexto, lá nos anos 90, temos nossa protagonista. Em meio à uma vida conturbada, Tonya Harding queria ser a melhor. 


Falemos da odiosa mãe: Allison Janney entrega aquela personagem que AMAMOS ODIAR. Ela está simplesmente perfeita em seu papel, e ouso dizer que este é um dos melhores de sua carreira. Com um Oscar totalmente merecido, Janney nos entrega LaVona Harding, a intragável mãe de Tonya Harding. Fria, calculista, violenta e perversa, LaVona é o tipo de mãe que ninguém gostaria de ter. Há passagens em que, já mais velha, LaVona tenta nos convencer de que foi uma mãe que só quis o melhor para a filha, porém fica difícil de engolir sua história (mesmo que o filme tente ao máximo ser imparcial face às versões de todos).



Quando digo que LaVona tenta nos convencer, é exatamente isso que acontece. Nos moldes de um falso-documentário, os atores, interpretando os protagonistas já mais velhos, nos trazem aquele ar de verdade à trama, o que torna toda a mistura espetacular. Há ainda a quebra da quarta parede, que se não tivesse sido tão bem dosada, talvez estragaria todo o primor do filme. Como não acontece, somos presenteados com uma rica obra, que merece grandemente sua indicação a melhor montagem. Os figurinos e a caracterização das épocas, bem como uma fotografia colorida e extravagante,  e um roteiro muito bem escrito e repleto do humor negro mais ácido possível, complementam os pontos altos do filme. 



Sebastian Stan está no ponto. Entrega um personagem que obviamente nos faz detestar suas atitudes para com Tonya, num relacionamento que de abusivo tem de tudo e mais um pouco. Entretanto, quer queira, quer não, seu personagem acaba por ser carismático, um tanto quanto pelo ótimo trabalho de Stan.

Paul Walter Hauser rouba cena! Não dá para não se deleitar com os delírios de Shawn Eckhardt, o “guarda-costas, empresário, tudo e um pouco mais”, de Tonya Harding. O cara é HILÁRIO! Quando se pensa que a interpretação talvez fosse cômica ou exagerada demais, eis que somos presenteados, nos créditos finais, com alguns takes originais de entrevistas reais feitas à época dos acontecimentos… Shawn é exatamente aquilo ali que vemos em I, Tonya. Um dos pontos mais cômicos da trama.




E então que chegamos à grande estrela do filme. Faltam elogios para a atuação de Margot Robbie. A moça, que neste filme, teve sua grande oportunidade de mostrar o quão talentosa é, entrega uma Tonya verossímil, irreverente e com grande profundidade. Desde sua adolescência até à vida adulta, já como uma mais velha Tonya (nas cenas de falso documentário), Margot soube exatamente como dar vida à protagonista, com todas as nuances para que a mesma se tornasse carismática ao ponto de que pudéssemos ter a empatia necessária para entender tudo que a atleta passou em sua vida. Do posto de atleta mais odiada da história, passamos a colocá-la em um posto onde todos merecem o benefício da dúvida. Em um dos melhores trabalhos de Margot, se não o melhor até aqui, temos a certeza de que a indicação ao Óscar foi totalmente merecida. É claro que uma vitória não seria certa, principalmente pelo fato de estar competindo com a veterana, maravilhosa e talentosíssima Frances McDormand pelo excelente Três Anúncios para Um Crime, mas ainda assim, sua interpretação é memorável. Fique atento à parte em que Tonya está em seu julgamento: é emocionante e é um dos momentos mais ‘for your consideration‘ de Margot no filme.


O acontecimento com Nancy Kerrigan, apesar de ser bastante comentado e o tempo todo citado, não é o ponto chave do filme. Claro que é onde todas as coisas culminam, mas creio que aqui o que o diretor brilhantemente pretendia focar nas relações, na outra versão do fato, nos bastidores, nas tramas que levaram para que tudo acontecesse e ainda nas consequências de tudo na vida de todos os envolvidos.


Um único pequeno defeito fica a cargo dos efeitos visuais. Propositais ou não, são pobres e incomodam bastante. Na maioria das cenas em que há patinação e acrobacias é fácil notar a utilização dos efeitos especiais. Talvez fosse intenção do diretor em deixar o filme com o ar mais antigo possível, mas sinto que possa não ter sido uma escolha acertada.


Ademais, I, Tonya diverte, emociona e nos faz refletir que toda história tem seus dois lados e é de extrema importância que esses dois lados sejam vistos e considerados. Não há vilões totalmente maus nem mocinhos totalmente bons. No fundo, somos seres humanos tentando encontrar nosso lugar no mundo.

Título Original: I, Tonya

Diretor: Craig Gillespie

Elenco: Margot Robbie, Sebastian Stan, Allison Janney, Julianne Nicholson, Paul Walter Hauser, Bobby Cannavale, Bojana Novakovic, Caitlin Carver, Maizie Smith, Mckenna Grace, Jason Davis.

Sinopse: Desde muito pequena exibindo talento para patinação artística no gelo, Tonya Harding (Margot Robbie) cresce se destacando no esporte e aguentando maus-tratos e humilhações por parte da agressiva mãe (Allison Janney). Entre altos e baixos na carreira e idas e vindas num relacionamento abusivo com Jeff Gillooly (Sebastian Stan), a atleta acaba envolvida num plano bizarro durante a preparação para os Jogos Olímpicos de Inverno de 1994. Baseado em fatos reais.

Trailer:


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