Crítica: Monsieur & Madame Adelman (2017, de Nicolas Bedos)

Um relacionamento nem sempre é totalmente bom. Um casamento então, nem se fala. Há altos e baixos e nem tudo é (na verdade, a maioria não é) como os contos de fadas e filmes de comédia romântica mostram. A realidade é muito mais nua e crua do que possamos imaginar. Num relacionamento mais longo, isso é ainda mais certeiro. A própria humanidade de um casal os faz viver as imperfeições de uma relação. Isso não deixa, no entanto, de ser tão bonito, ou mais, do que um relacionamento ‘perfeito’.

Os filmes franceses, tem essa magia, esse ‘não sei o quê’ de saberem mostrar exatamente essas nuances de seja lá qual for a natureza humana. Com Monsieur & Madame Adelman não seria diferente. Aqui veremos a história de cerca de 45 anos de um casal contada a partir da visão da viúva Sarah Adelman, expondo segredos íntimos, grotescos e reveladores de seu relacionamento com Victor Adelman.


Um filme como esse requer uma maturidade a mais de quem o assiste. Essa maturidade consiste em saber que, como dito anteriormente, relacionamentos não são perfeitos e muito mais do que isso, a imperfeição é que os torna tão deliciosamente verdadeiros. A história dos Adelman começa de forma incerta, no momento em que Sarah se apaixona à primeira vista por Victor e ele, por sua vez, se mostra até interessado num primeiro momento, porém, é somente o velho e bom efeito da bebida. 

Determinada a permanecer com seu parceiro idealizado, ela passa por alguns obstáculos (que incluem o seu machista e arrogante futuro sogro) com elegância e perspicácia. E então, começa a jornada dos dois juntos.


Ele, escritor de esquerda, criado na burguesia alcoólatra (que tanto despreza), ainda desconhecido, mas que almeja, sobretudo, o grande prêmio Goncourt, vê em Sarah uma de suas inspirações, em todos os sentidos, para que possa escrever suas histórias e viver sua vida. Sarah, uma brilhante mulher, que aos poucos vai ficando à sombra de seu marido, divide com ele os altos e baixos da vida de um escritor.

O filme, que ainda retrata toda movimentação política na França ao longo dos anos da vida do casal, pretende mostrar a beleza de um relacionamento imperfeito. E não deixa de ser belo, de toda forma. Desenvolvido em forma de capítulos, prólogos e epílogos, remetendo à rotina do escritor (que mesmo sendo ficcional, muito parece ser real!), o filme ainda mostra nos figurinos, maneirismos e caracterização, as diferentes décadas pelas quais o casal atravessou, de forma fluída porém, consistente.

Um destaque à parte fica para a maquiagem. Que maquiagem, meus caros! É de cair o queixo como nossos protagonistas envelhecem de forma tão verossímil quanto possível. Merecia, talvez até, mais indicações nos grandes prêmios da indústria cinematográfica. 


Contudo, não posso deixar de ressaltar minha insatisfação com a personagem de Sarah. Ela era uma mulher fantástica, que tinha tudo para ser muito melhor que o próprio Victor (como o plot no final até mesmo sugere), e no fim das contas se resigna apenas a ser a mulher do grande escritor Victor Adelman (sobrenome que por sinal é dela, que ele ‘toma’ como ‘empréstimo’ como forma de alavancar sua carreira, já que o sobrenome judeu ajudaria mais com o romance de estreia). Tudo bem que o amor tem lá dessas coisas, mas no cinema atual fica difícil engolir uma história dessas. Sarah é uma mulher forte, decidida e obstinada e em certos momentos vai contra tudo e contra todos (mesmo!), mas o resultado final, deixa um pouco a desejar, verdade seja dita.


O trabalho de Doria Tillier é fantástico e dispensa todos os comentários possíveis. Vê-se clara entrega de corpo e alma ao desenvolver uma personagem, que mesmo não agradando aos mais exigentes espectadores com um pensamento mais feminista, consegue conquistar e criar forte carisma. O mesmo vale para Nicolas Bedos, que além de protagonizar o filme, escreve e ainda dirige!


O conselho fica para que este filme seja visto, independente de sua visão, pois além de ser um filme francês (<3) de uma beleza única, as atuações e ainda a maquiagem bem trabalhada, fazem com que seja de uma experiência deliciosa.

Título Original: Mr et Mme Adelman


Diretor: Nicolas Bedos

Elenco: Doria Tillier, Nicolas Bedos, Denis Podalydès, Antoine Gouy, Chirstiane Millet, Pierre Arditi, Lola Bessis, Joakim Latzko, Julien Boisselier, Betty Reicher, Ronald Guttman.




Sinopse: Sarah (Doria Tillier) e Victor (Nicolas Bedos) estiveram juntos por 45 anos. No funeral dele, Sarah é abordada por um jornalista que deseja contar a história de seu marido, um renomado escritor, a partir do olhar da mulher que sempre o acompanhou. A partir de então, ela passa a contar as minúcias do relacionamento que tiveram, incluindo segredos bastante íntimos.




Trailer:






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