Deixa Rolar, ou Lasciati Andare, é um dos filmes integrantes do 8½ – Festa do Cinema Italiano, que ocorre em várias cidades brasileiras entre os dias 31 de agosto e 6 de setembro. A obra de comédia foi lançada este ano e dirigida por Francesco Amato, um jovem cineasta italiano que já possui outros dois longas-metragens no currículo: Cosimo e Nicole (2012) e Ma che ci faccio qui! (2006).
O filme italiano segue a linha de Um homem chamado Ove, misturando comédia e drama para retratar a vida de um homem amargurado da terceira idade que acaba recebendo uma lição moral e mudando sua maneira de lidar com as outras pessoas e com o mundo. Em Deixa Rolar, esse homem é Elia, um psicanalista mal humorado, avarento, solitário e arrogante que, após uma consulta com o médico, descobre estar precisando praticar atividades físicas para melhorar seu estado de saúde. Elia se vê obrigado a frequentar uma academia, mas, como sua experiência no local não dá certo, ele prefere contratar a personal trainer Claudia, que conheceu durante suas aulas.
Claudia e Elia são completamente opostos: enquanto ela é cheia de vida, extrovertida e espalhafatosa e está sempre em movimento, Elia segue a linha intelectual, contido, sério e sedentário, voltado para dentro de si mesmo e para atividades mentais. A direção é coerente ao desenvolver gradualmente a evolução do protagonista a partir do contato estabelecido com Claudia: o personagem, no início, tem reações minimalistas, mostrando pouco suas emoções e, à medida em que seu convívio com Claudia aumenta, ele vai saindo cada vez mais de si mesmo e expondo seu lado mais espontâneo. Como Deixa Rolar aborda alguns conceitos psicanalíticos, podemos dizer que o id de Elia vai ganhando força diante de seu super ego, que anteriormente o dominava.
Apesar de ser um filme de comédia, o roteiro também nos brinda com um pouco de drama. Somos surpreendidos por assuntos “sérios” em meio às risadas, como a relação entre mãe e filha, as características autodestrutivas e masoquistas das “mulheres que amam demais” e os medos e as angústias tanto dos pacientes de Elia quanto dele próprio. O roteiro cria algumas situações absurdas e engraçadas para tornar a abordagem desses temas mais leve, leveza essa corroborada por uma fotografia que opta por tons quentes e amarelados.
O filme peca, no entanto, pela sua duração de quase 2 horas. Muitas cenas desnecessárias poderiam ter sido cortadas para reafirmar a leveza e a unidade da obra. Nesse sentido, Deixa Rolar erra na dosagem de alguns diálogos e conflitos que poderiam ter sido deixados de lado e não fariam falta, e cuja ausência até deixaria o filme mais coeso. Uma dessas tramas desnecessárias é o quase envolvimento sexual entre Elia e Claudia, um clichê sem o qual Deixa Rolar teria passado muito bem.
No final das contas, Deixa Rolar é um filme leve e sem muitas pretensões, no qual os personagens são simples e desenvolvidos de forma a alcançar o tão desejado final feliz. A mensagem passada pela obra é a de que, apesar das complexidades de nosso inconsciente, a vida pode ser encarada de forma mais branda, sem tantas complicações e estresse. Assim, Deixa Rolar é aquele tipo de filme ideal para assistirmos quando estamos passando por uma fase conturbada e desejamos nos distrair e receber uma mensagem positiva.
Título Original: Lasciati Andare
Direção: Francesco Amato
Elenco: Carla Signoris, Toni Servillo
Sinopse:
Elias Venezia (Toni Servillo) é um psicanalista que trata seus pacientes através da hipnose. Preguiçoso, mesquinho e sedentário, ele leva uma vida desregrada e repleta de estresses, a maioria deles com sua ex-esposa, com quem ainda vive, já que eles dividiram o apartamento ao meio. Mas, quando ele precisar entrar na academia por conta da obesidade, uma personal trainer mudará sua vida para sempre.
Não deixe de conferir esse e outros filmes no Festival do Cinema Italiano, que nós do Minha Visão do Cinema estamos cobrindo para você. Confira aqui a crítica de outra obra do festival, É a Lei, e corra para comprar seus ingressos!
Não esqueça também de deixar seu comentário!