Crítica: Master Of None – Segunda Temporada (2017, de Aziz Ansari e Alan Yang)

A primeira temporada de Master Of None chegou quieta, sem alarde e sem muita publicidade. Após ser lançada, porém, chamou a atenção de muitas pessoas por sua originalidade e seu poder de entretenimento, junto com um roteiro inteligentíssimo e uma qualidade de direção invejável até para grandes filmes hollywoodianos. Eu apenas assisti a série após suas várias indicações ao Emmy de 2016 e fiquei embasbacado com a série. Assisti os 10 episódios em 2 dias e, obviamente, passei muito tempo esperando a segunda temporada. Quando esta foi lançada, eu deixei para assistir depois, pois na época estava ligado em outras coisas e assistindo a outras séries. Esse mês, enfim comecei a assisti-lá, e novamente terminei em 2 dias e agora estou esperando a próxima temporada, que ainda não foi nem confirmada pela Netflix, então deve demorar bastante tempo para ser lançada.


Assim como na primeira temporada, acompanhamos a vida do indiano Dev vivendo em Nova York – no começo da temporada, de férias na Itália. Essa premissa permite a série falar de todos os assuntos possíveis, e ela não desvia de nenhum assunto. Fala sobre os temas mais polêmicos da atualidade, como imigração, religião, homossexualidade, racismo, relacionamentos e etc…

Os aspectos técnicos da série são impecáveis. Todos os diretores tem um cuidado muito grande e deixam tudo perfeito, e todos os episódios que o criador, roteirista e ator principal – Aziz Ansari – dirige são os melhores, e isso vêm desde a primeira temporada, algo que é provado pelo episódio Parents, indicado a todas as categorias do Emmy do ano passado. 

A segunda temporada de Master Of None é coesa, e os roteiristas mostraram uma inteligência muito grande na estrutura da temporada. Quando os telespectadores poderiam começar a ficar cansados de ver apenas Dev a todo momento, o episódio 6 começa e praticamente não vemos o protagonista do episódio. E mesmo sem todo o carisma de Dev, o episódio, denominado New York, I Love You – que seria um excelente título para um filme de Woody Allen, que é claramente uma referência tanto para os diretores quanto para os roteiristas da série – se mostra um dos melhores episódios de todos. Ele consegue apresentar bem os personagens em um tempo muito curto, fazer o público gostar deles e desenvolver suas histórias. Em questão de estrutura, me lembrou muito o filme Para Roma, Com Amor, do próprio Woody Allen, mas muito melhor em todos os quesitos, levando em conta que esse é um dos piores filmes de Allen.


Ainda falando sobre episódios brilhantes, temos o oitavo, que mostra a personagem Denise lidando com o fato de ser lésbica e contar isso para a família. É um episódio muito bem escrito, que vai mostrando o crescimento de Denise junto com Dev por meio dos festejos de Ação de Graças, que Dev sempre passava com Denise, porque a religião de sua família não comemorava tal data. O episódio tem cenas engraçadas, como a que Dev e Denise tentam esconder da mãe da menina que acabaram de fumar maconha, quando ambos tem 16 anos, e também tem cenas tocantes durante todo o episódio. Uma coisa que eu gostei muito foi que, na Ação de Graças de 1995, a família de Denise está discutindo sobre a acusação de assassinato que O.J Simpson recebeu, e alegam que a mídia sempre tenta desmoralizar os ícones negros. 20 anos depois, a família discute sobre a violência policial exagerada contra os negros, mostrando que muita pouca coisa mudou nesses 20 anos.

Algumas séries tem tradições. Por exemplo, todos os episódios 9 de Game Of Thrones são os que mais coisas acontecem durante a temporada. Em Breaking Bad, todos os episódios 10 guardam uma informação importante, e temos vários outros exemplos. Me parece que todos os episódios 9 de Master Of None tratarão exclusivamente de relacionamentos. Na primeira temporada este episódio já foi excelente, e na segunda é melhor ainda. É o episódio mais longo da série – contém 56 minutos -, e me arrisco a dizer que o melhor – eu disse que os melhores episódios são dirigidos por Aziz Ansari, e esse é a prova disso. Sem dúvida, é o episódio da série que melhor equilibra drama e comédia. O sentimento de Dev quanto a Francesca – a moça que conheceu na Itália e agora está noiva passando férias em Nova York enquanto seu noivo viaja os EUA trabalhando – é claro ao público em todos os momentos, e não depende de diálogos expositivos, mas só da atuação de Ansari, embora, quando necessário, a série ache uma ótima forma de fazer os diálogos expositivos parecerem naturais.

As atuações são um ponto muito forte da série. Todos os atores estão excelentes em seus papéis. Aziz Ansari dá um show de interpretação. Ele consegue passar todas as emoções de Dev, e cria um personagem carismático por meio da voz, dos gestos e da maneira que fala (além do roteiro, é claro). Eric Wareheim é um alívio cômico muito eficiente, e suas participações, assim como as do pai de Dev – também muito bem interpretado pelo pai de Aziz na vida real, Shoukath Ansari – são as partes mais besteirol da série, mas proporcionam cenas hilárias, vide a que Dev responde a uma observação de uma paciente de seu pai, que é médico, após ela saber que seu marido enfiou uma escova de dente ânus adentro. Lena Waithe tem destaque no oitavo episódio, e ela mostra entender muito bem o que está acontecendo com sua personagem, talvez por ter ajudado na escrita do roteiro deste episódio.



Mas a grande surpresa entre os atores é Alessandra Mastronardi. Eu confesso que não a conhecia, e ela faz um trabalho brilhante. A atriz consegue passar tudo o que a personagem sente, sem forçar por 1 segundo. Toda a dúvida e a indecisão ficam claras, mas ela não deixa de lado a parte meiga e muito fofa da personagem. Tenho certeza que, após essa interpretação incrível, ela ganhará muito mais papéis e virará uma figura carimbada no cinema nos próximos anos.

A série é quase perfeita, mas eu disse quase. O episódio 7 – que, coincidentemente, fica entre os 3 melhores da temporada, depois do 6 e antes do 8 e do 9 – não é muito bom. Há uma trama envolvendo o pai de um amigo de Dev que é completamente desnecessária e bastante enfadonha. E o season finale, mesmo sendo muito bom, é um pouco decepcionante.

Master Of None é uma série muito inteligente, divertida, engraçada e, em certos momentos, muito tocante. É visível o cuidado que todos os diretores tem com a série, acredito eu que por saberem o brilhantismo do roteiro e não quererem estragá-lo. Infelizmente, a série não é tão falada quanto deveria no Brasil, e eu fortemente recomendo que a assistam.



Título Original: Master Of None

Direção: Aziz Ansari, Alan Yang, Eric Wareheim, Melina Matsoukas

Elenco: Aziz Ansari, Eric Wareheim, Alessandra Mastronardi, Lena Waithe, Bobby Cannavalle, Angela Bassett, Ciara Renée, Clare-Hope Ashitey, Frank Harts

Sinopse: A série mostra a vida de Dev, um ator de 30 anos, durante seu cotidiano na cidade de Nova York.

                                                        Trailer:

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