Crítica: O Palhaço (2011, de Selton Mello)

Posso lhes garantir uma coisa: se filmes nacionais da mesma qualidade de O Palhaço – e não são poucos – fossem tão divulgados quanto as comédias sem nenhuma graça, 90% das pessoas que bradam que o cinema nacional é horrível deixariam de dizer isso.
O filme é dirigido por Selton Mello, ator de muito sucesso que já havia dirigido um longa – Feliz Natal, de 2008 – antes de O Palhaço, e está novamente nos cartazes com O Filme da Minha Vida. Nesse filme, ele faz um trabalho impressionante. Mesmo com claras influências do cinema europeu, mais especificamente o francês, e alguns planos que poderiam perfeitamente estar em filmes de Wes Anderson, Selton Mello mostra que é um diretor autoral. Ele usa vários travellings laterais, muitos planos estáticos e até um belíssimo plano sequência no final. Além de fazer um ótimo trabalho visualmente, o diretor também consegue equilibrar perfeitamente drama e humor. O filme é tocante e engraçado, Selton Mello o trabalha com uma sensibilidade impressionante.


O roteiro, escrito pelo próprio Selton, é redondo. Ele desenvolve Benjamin, o protagonista, com muita paciência. Não joga na cara do público a premissa do filme logo de início, primeiramente nos imerge ao universo e, aí sim, começa a desenvolver a história de seu protagonista. Além disso, cria algumas cenas que deixam o público agoniado – como quando Benja vai se apresentar sem a menor vontade – e faz rir. Há alguns diálogos muito bons aqui, e uma cena memorável.

As atuações são excelentes, e não poderia ser diferente, tendo em vista que o diretor é um grandíssimo ator. O próprio Selton Mello entrega uma performance arrebatadora; ele passa o cansaço e a decepção do personagem com o que a vida lhe ofereceu até o momento, mas também uma certa alegria, mesmo tímida, por estar rodeado por pessoas que gosta. E sua performance como palhaço também é ótima. Na primeira cena do filme, ele interpreta o palhaço exatamente como Charlie Chaplin, uma clara homenagem ao icônico diretor.

Paulo José interpreta o pai de Benja, Valdemar, que é também seu parceiro de cena no circo, e os dois tem uma relação muito interessante. Ele ama Benja, mas também parece estar cansado de estar todos os dias com seu filho. É uma ótima atuação. Além dos dois, merecem destaque Álamo Facó, que está muito engraçado, Jackson Antunes, que aparece em uma só cena, mas está excelente, Michelle Martins, e principalmente Moacyr Franco, que protagoniza a cena memorável que eu falei mais cedo. Ele aparece por menos de 5 minutos, mas rouba totalmente a cena.


Tecnicamente o filme impressiona, levando em conta os padrões do cinema brasileiro, até por ter um orçamento um pouco maior. A fotografia é deslumbrante, a edição e a montagem são muito boas, apesar de eu achar que o filme poderia ter uns 10 ou 15 minutos a menos, e a trilha sonora original é belíssima.

O terceiro ato é o melhor. Com muita sensibilidade, o filme passa uma mensagem que – pelo menos eu interpretei como tal – a felicidade é muito mais importante do que objetivos pessoais, do que tentar ter sucesso em uma carreira que não o fará feliz. 


Vários fatores fazem O Palhaço um excelente filme: sua cinematografia, seu roteiro, sua mensagem, sua sensibilidade e sua direção. Quem imaginaria a 15 anos atrás que Selton Mello seria um diretor tão bom e promissor? Estou muito ansioso para assistir a O Filme Da Minha Vida e espero também que Selton continue se aventurando como diretor. Se seus filmes forem tão bons quanto esse, ele será lembrado como um dos melhores diretores brasileiros.



Título Original: O Palhaço


Direção: Selton Mello


Sinopse: Benjamim trabalha no Circo Esperança junto com seu pai
Valdemar. Juntos, eles formam a dupla de palhaços Pangaré
& Puro Sangue e fazem a alegria da plateia. Mas a vida anda sem
graça para Benjamin, que passa por uma crise existencial e assim, volta e
meia, pensa em abandonar Lola, a mulher que cospe fogo,
os irmãos Lorotta, Dona Zaira
e o resto dos amigos da trupe. Seu pai e amigos lamentam o que está
acontecendo com o companheiro, mas entendem que ele precisa encontrar
seu caminho por conta própria.

Elenco: Selton Mello, Paulo José, Tonico Pereira, Larissa Manoela, Teuda Bara, Álamo Facó, Cadu Fávero, Erom Cordeiro, Michelle Martins, Bruna Chiaradia 

                              Trailer:

  
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