Depois da primeira temporada lenta e conturbada de LOVE, a segunda
temporada aparece com mais acertos e com papéis mais definidos. Se você ainda não assistiu a primeira temporada, senta que lá vem spoiler:
Acredito que este tipo de romance desconexo e com humor ácido seja a assinatura do diretor Judd Apatow (Ligeiramente Grávidos , O Virgem de 40 anos e Bem-Vindo aos 40), mas, diferente destes filmes, a pegada de LOVE é um drama-romântico que pende mais para o real do que o ficcional.
A segunda temporada começa no ponto onde termina a primeira, e faz todo o sentido porque queremos saber o que vai acontecer depois daquele ponto.
A série não trata de um romance comum, na verdade vemos um anti-romance com duas pessoas perturbadas que ficam juntas por motivos errados: o nerd estranho, que não quer ficar sozinho e encontra uma mulher bonita e co-dependente, com personalidade forte, que aceita ficar com ele sabe-se lá porquê, e a jovem que consegue controlar o nerd sem amor próprio, sendo chata e histérica, para não ficar sozinha.
No momento em que nosso mundo está conectado, vivemos desconectados das pessoas, e isto fica muito claro em vários momentos na tentativa de romance dos dois, eles nunca estão na mesma sintonia, mas dependem um do outro como uma engrenagem.
Os dois tentam à toda hora se sabotar e trocam de papéis, nem sempre somos mocinhos ou vilões perfeitos, não temos uma constância de personalidade dentro de nós, somos assim e esta é a realidade.
Mickey, nesta temporada, entra para um grupo de apoio para tentar resolver seu vício, e acredito que de uma certa forma, Gus tem um papel fundamental nisto, por ele ser o oposto do tipo de homem que ela havia se relacionado, e quando ela caminha para seu objetivo, Gus sabota ela. Vejo, não somente uma questão de opostos, mas sim de alter ego; eles são o que falta no outro. Mickey é inconsequente e sem rotina, faz o que quer do jeito que quer, a hora que quer e não tem controle. Gus é controlador, metódico, inseguro, careta, Nerd e isto não seria um problema em um relacionamento comum se eles soubessem equilibrar as qualidades e defeitos para que se complementem, mas não é o caso, os antagonismos latentes fazem a tragicomédia ficar engraçada.
Eles não sabem ainda que esta diferença é necessária para que cada um desenvolva as áreas deficientes em suas vidas, e aprendam com os erros deste relacionamento, para que consigam se tornar uma pessoa mais sociável e equilibrada de um ponto de vida social psicológico.
Observamos também um maior envolvimento de personagem secundários; a colega de quarto Bertie (Claudia O’Doherty), que começa a namorar um dos amigos de Gus, Randy (Mike Mitchell), dão um show a parte, e também mostram relacionamentos perturbados de maneiras diferentes; mais uma vez, bem vindo ao mundo real!; onde relacionamentos estranhos fazem parte de nosso dia-a-dia; aliás, os personagens principais também desempenham-se brilhantemente em seus papéis, e se ficamos com raiva de um ou de outro ao assistir LOVE, dá-se por este motivo.
Uma hora ou outra você se identifica com um dos personagens, seja pela carência, pela falta de compatibilidade ou por alguma decisão imbecil que você tem por impulso ou insegurança.
Com um humor pitoresco e inteligência, a série vai na contramão do que entendemos como romances hollywoodianos e segue mais uma linha de 500 Dias com Ela com pitadas da série Don’t Trust the B—- in Apartment 23 e uma grande paciência para diálogos como em Antes do Pôr do Sol .
Se você curte histórias alternativas, com certeza vai desejar ver a 3ª temporada que já foi confirmada pela Netflix.
Título
Original: LOVE