Crítica: O Homem do Ano (2003, José Henrique Fonseca)



O Homem do Ano é um filme nacional que infelizmente não é muito conhecido. Seus principais pontos positvos são quanto ao conteúdo (em relação ao tema, principalmente) e aos termos formais (roteiro e diálogos). Entre os elementos que se sobressaem nesse filme, estão a evolução dramática e a caracterização das personagens, o retrato social, o final e características do próprio texto, como as relações estabelecidas entre as personagens.



Em O Homem do Ano, o protagonista, Máiquel (Murilo Benício), torna-se um matador por acaso, ao assassinar, por um motivo banal, um ladrão do bairro. De um jovem que poderíamos chamar de “inocente” que, no começo do filme, demonstra nem saber manejar uma arma, Maicon passa a representar uma ameaça aos que o colocaram numa posição de destaque, a partir do momento em que se sente traído.

No filme, há uma tentativa de retrato social a partir do tema “justiça com as próprias mãos”. Seguindo o lema “bandido bom é bandido morto”, o filme mostra a aprovação da população diante do surgimento de Maicon como matador: ele recebe presentes; o dentista vivido por Jorge Dória chega a lhe oferecer tratamento gratuito em troca do assassinato do suposto estuprador da sua filha. Em determinado momento, descobrimos que o suspeito é negro. A partir daí, o filme parece levantar uma pergunta silenciosa: até que ponto essa “justiça” estaria sendo feita e até que ponto ela estaria dando licença a uma atitude nazifascista?



Além deste tema principal, outras subtramas denunciam a polícia corrupta, o que seria melhor trabalhado posteriormente nos filmes Tropa de Elite. O roteiro ainda faz uma interessante análise com a relação homem versus animal, quanto à bestialização do primeiro e à humanização do segundo, através do relacionamento de Máiquel com o porco Bill, mais um dos presentes que ganha dos vizinhos. Inicialmente decidido a manter o animal vivo apenas para comê-lo, Maicon acaba se afeiçoando ao bicho, de tal forma que chega a ficar violento diante de qualquer ameaça que o animal possa sofrer.


Com um roteiro muito bem escrito, pontuado por diálogos que ainda hoje refletem o comportamento e atitude da sociedade brasileira e com atuações na média de todo o elenco, O Homem do Ano é um filme que merece ser conhecido. O final, duro e, infelizmente, mais condizente com a realidade, em que o mal – representado por interesses próprios, mesquinhos e escusos das personagens – geralmente acaba prevalecendo, é a cereja do bolo.




Título Original: O Homem do Ano


Direção: José Henrique Fonseca


Elenco: Agildo Ribeiro, Alexandre Tavares, Amir Haddad, André Barros, André Gonçalves, Carlo Mossy, Cláudia Abreu, Guilherme Estevam, Guil Silveira.


Sinopse: Uma ingênua aposta entre amigos transforma Máiquel (Murilo Benício), um homem comum, em um assassino e herói de toda uma cidade. Deixando-se levar pelos acontecimentos, Máiquel torna-se respeitado por bandidos e pela polícia, sendo também amado por duas mulheres. Até que comete seu primeiro erro e é obrigado a tomar de volta o controle do seu destino.


Trailer:


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