Crítica: Transformers: O Último Cavaleiro (2017, de Michael Bay)


Primeiramente, reservarei os primeiros parágrafos para falar da contextualização da saga e da polêmica “crítica vs Michael Bay”. Então se você não gosta de filmes puramente de ação, do Michael Bay, desta franquia aqui e adora escrever comentários negativos idênticos aos dos sites americanos, reclamando do mesmo de sempre e fazendo a repetitiva piada “buummm” referente as explosões dos filmes, nem perca tempo lendo a matéria ou vendo o filme, até porque tais reações já são tão genéricas e clichês quanto o próprio cinema blockbuster moderno em geral (é um fato). E se você por acaso faz parte da turma que sentiu tonturas vendo algum filme anterior da saga, também nem continue. E recomendo fortemente a procurar ajuda médica ou psiquiátrica, você pode ter algum problema como epilepsia (lembra das crianças que passavam mal vendo Pokémon?), ou só está no time da geração “leite com pera” ou “Nutella” mesmo. Ainda, o filme e a matéria também não são recomendados para quem fez stories no Instagram dizendo ser fã do Michael Bay e fazendo entrevistas com a equipe do filme, que esteve no Brasil uns dias atrás para divulgação; mas não aguentou 30 minutos de filme e escreveram várias críticas “Ctrl+c e Ctrl+v”. Bem, acaba aqui o bom humor e vamos aos fatos.

Contextualizando, a franquia comemora 10 anos com este quinto filme. Em 2007, o primeiro longa marcou época (no público e parte da crítica), pois foi um ano bastante decepcionante em blockbusters: Eragon, Motoqueiro Fantasma, A Bússola de Ouro, Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, Shrek 3°, Homem-Aranha 3, Piratas do Caribe: No Fim do Mundo e outros, deixavam um gostinho amargo na grande maioria dos fãs. Com isso, Transformers chegava com direção de Michael Bay e produção do mestre Steven Spielberg, trazendo os melhores efeitos especiais, sonoros, ação e diversão daquele verão. O filme foi bem recebido na época, faturou alto, concorreu a 3 Oscar, tirou a Paramount de uma fase ruim (o que garantiu investimentos de filmes maiores dentro do estúdio, como Homem de Ferro) e deu um impulso em novos efeitos especiais. A trama de um jovem tendo contato com seus primeiro carro, envolvido numa batalha alienígena, remete a produções da Amblin, com uma construção mais natural, encontrando seu clímax numa imensa batalha, muito bem executada. Porém, do segundo em diante, foi ladeira abaixo com a crítica (devido a roteiros ruins), destruindo de vez a imagem do cineasta Michael Bay (nada querido por críticos e cinéfilos exigentes e/ou conservadores e preconceituosos). 



Corta para 2017 e temos este O Último Cavaleiro, misturando no seu roteiro duas vertentes: elementos épicos envolvendo a lenda do Rei Arthur e uma espécie de Guerra Civil, ambos dentro da possibilidade de se criar um universo expandido. O problema do roteiro é justamente misturar tantos elementos, tantas informações ao longo de 2 horas e meia, que tudo poderia ser facilmente dividido em 2 filmes de 2 horas, ficaria menos confuso. Adicione a isso muitos, mas muitos personagens, com pouco desenvolvimento deles. E com esta falta de desenvolvimento, acabamos nos importando pouco quando surgem as ameaças. Tanto a direção de Bay quanto a edição e montagem, são rápidos demais, deixando diversas cenas com poucos segundos, lembrando vídeo clips surtados. Com estes cortes rápidos, excesso de história/personagens e milhões de dólares em computação gráfica voando o tempo todo, tudo isso por duas horas e meia, ficará na maioria uma sensação de confusão. 

Porém, o roteiro teve uma melhora com relação aos anteriores. Há diversas referências aos outros filmes, desde objetos até participações do elenco. Para quem não sabe ou conhece, a trama remete muito a um arco da série animada original, o que deverá agradar os fãs (nem todas maluquices são do Bay, mas oriundas da própria mitologia do desenho). Temos um cuidado maior em alguns pontos criticados anteriormente: há ferimentos, a roupa branca suja, há um pouco mais de sentimentos nas expressões dos robôs e na morte de personagens, as cenas de batalha corporal são mais fáceis de entender, há uma exploração de um lado imperfeito de Optimus Prime, uma boa utilização de Bumblebee (melhor personagem e verdadeiro herói da saga), uma pequena representatividade de minorias no elenco, etc. Há um esforço de um elenco melhor, com bons nomes e onde ninguém “paga vergonha alheia”. Anthony Hopkins está bem, com uma presença imponente em cena. Como resposta pelas acusações sexistas, Bay traz um reforço feminino duplo e interessante. De um lado, Laura Haddock é tão bela quanto Megan Fox, mas um pouco mais carismática, sua personagem é inteligente e foge de alguns clichês que a própria saga trouxe. De outro lado, a jovem Isabela Moner é uma revelação, extremamente carismática e com tons dramáticos que prometem, torço para vê-la em filmes mais maduros futuramente, foi uma grata surpresa. 


De referências a Star Wars, passando por cenas que lembram Stranger Things e piadas com os próprios clichês de Michael Bay, roteiro e direção cambaleiam entre o bom e o ruim o tempo todo, conforme exemplificado nos parágrafos acima. As piadas no geral não funcionam, mas algumas são engraçadas (tais quais o são em filmes da Marvel e DC). Ter um Mago Merlin beberrão e charlatão, cujos poderes advém dos Transformers, assim como a exemplificação da tênue linha entre magia/tecnologia; foram boas sacadas. Temos ainda o retorno da bela trilha sonora original. Michael Bay continua um diretor especificamente de visual. Não escolhe bons roteiristas, não sabe dirigir elenco e edita freneticamente demais seus filmes. Mas como manipulador visual, ele é único. Sempre com fotografias quentes, desérticas e praianas, seus filmes são estimulantes visuais. Faz um uso de computação gráfica exagerado, mas bom, de última geração, com cenários grandiosos palpáveis e imersivos. As cenas de ação são embasbacadas, caóticas, destrutivas. Quanto a isso sempre imagino que uma guerra ou um tiroteio de verdade não devem ser fáceis de ver e absorver, e Bay meio que passa isso nos seus filmes. Filmar tudo isso com novas câmeras IMAX e 3D dão uma maquiagem bela a fita, com sequências visuais realmente impressionantes. E ao contrário de 98% dos filmes atuais, o 3D e o IMAX não são apenas bons, como fundamentais, a obra toda foi feita em cima disso. Como criador de cenários gráficos exuberantes e apoteóticos, Michael Bay sabe muito bem o que faz e o que o público quer. Algumas produtoras de blockbusters e filmes de heróis que fazem sucesso por aí poderiam aprender um pouco disso, para fugir do de sempre.

Para quem procura assistir a filmes de cabeça aberta, gosta de ação eletrizante e gosta de Michael Bay, vá logo ao cinema. Longe de ser o melhor do ano, mas longe de ser o pior, o filme cumpre a proposta. Apesar de termos pelo menos 1 hora inteira que parece ser o clímax o tempo todo, ao menos entretém, não cai no perigo de ser chato (como Esquadrão Suicida e o novo A Múmia, que deixaram na expectativa). Realmente está na hora de Bay deixar a saga, novos diretores e roteiristas assumirão as continuações e filmes derivados (em breve teremos o filme solo do Bumblebee). Isso trará o frescor que a maioria pede. A mitologia da saga é gigante e tem muito potencial, precisa de novos no comando e de um roteiro mais coeso, talvez com filmes mais simples. Mas Bay conseguiu deixar seu recado, pelo menos no público, as bilheterias expressivas provam isso. À prova de críticas e falatórias, Transformers: O Último Cavaleiro é como praticar um esporte radical e insano. Não muda sua vida, não é para todos, mas tira seu fôlego. 



Título Original: Transformers: The Last Knight

Direção: Michael Bay

Elenco: Mark Wahlberg, Laura Haddock, Anthony Hopkins, Isabela Moner, Stanley Tucci, Josh Duhamel, Santiago Cabrera, Jerrod Carmichael, Omar Sy, Peter Cullen, John Goodman, Ken Watanabe, Frank Welker, John DiMaggio, Liam Garrigan, John Turturro, Gemma Chan, Sophia Myles, Gil Birmingham, Mark Ryan, Andy Bean, Glenn Morshower.

Sinopse: os humanos estão em guerra com os Transformers, que precisam se esconder na medida do possível. Cade Yeager (Mark Wahlberg) é um de seus protetores, liderando um núcleo de resistência situado em um ferro-velho. É lá que conhece Izabella (Isabela Moner), uma garota de 15 anos que luta para proteger um pequeno robô defeituoso. Paralelamente, Optimus Prime viaja pelo universo rumo a Cybertron, seu planeta-natal, de forma a entender o porquê dele ter sido destruído. Só que, na Terra, Megatron se prepara para um novo retorno, mais uma vez disposto a tornar os Decepticons os novos soberanos do planeta.

Trailer: 





Imagens: 


  





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