O que não falta são filmes sobre poder, corrupção, tribalização, sistema penal e inúmeros outros aspectos que abordam essa temática ética-jurídica e sociedade corrompida. Mas, pouco temos sobre experiências reais sobre algo que engloba todos esses assuntos, e O Experimento de Aprisionamento de Stanford é o filme que faltava na nossa bagagem cinéfila sobre os temas. Se você nunca ouviu falar sobre o filme ou o experimento em si, irá se surpreender e querer assisti-lo imediatamente.
Não se pode dizer que a ideia do filme não é novidade, afinal, não é todo dia que estão fazendo estudos e experimentos aniquiladores de psicológico e personalidade para ter-se a oportunidade de chegarem a produzir um filme sobre isso, logo, é novidade sim e é aterrorizante sim. Se fosse para dar-lhe um gênero, o perfeito seria terror, e não biográfico/documentário/drama, pois o que as pessoas são capazes de fazer e de se tornar acaba dando mais medo que qualquer alma penada. Afinal, é os vivos que devemos temer!
O objetivo do experimento é analisar o comportamento humano enquanto vivem em sociedade e como tais pessoas se comportam nessa sociedade vivendo em determinados grupos, e, para isso, foram escalados os voluntários que mais se pareciam com folhas de papéis branquinhas, não podiam ter quaisquer transtornos psicológicos, resquícios de maldade, vícios de qualquer tipo e passagens criminais. Tinham que estar completamente limpos como folhas jamais usadas, para que nada deturpasse o decorrer da análise comportamental dos sujeitos. Como o próprio nome do filme já diz, o experimento é feito dentro de uma prisão simulada na Universidade de Stanford, onde os jovens são divididos em dois grupos, os guardas prisionais e os prisioneiros. E a partir daí começam as loucuras que você jamais esperaria que aqueles bondosos rapazes fossem capazes de cometer. O roteiro é completamente claro e bem objetivo. Não há cenas desnecessárias. Se fosse arrancado qualquer take, com certeza faria falta. Além de não possuir furos, está longe de ser clichê.
Incrivelmente dirigido por Kyle Patrick Alvarez, que é um dos diretores da recente série polêmica da Netflix, Os 13 Porquês. Pode-se dizer que, às vezes, a tragédia é a linha tênue entre beleza e arte, e é em partes o que Kyle nos trouxe na direção desse filme. Tudo feito com muito primor desde a escolha do figurino até os atores. O uniforme dos guardas tinham a finalidade de lhes fazerem sentir, de alguma maneira, poderosos, então, foi permitido que fosse escolhido por eles mesmos; uma farda estilo militar na cor bege, com óculos de sol para evitar o contato visual e cassetetes. Já os prisioneiros não tiveram o mesmo privilégio, foi escolhido um figurino para causar-lhes completo desconforto, foram obrigados a usar um roupão, sem roupas íntimas, chinelo de borracha e uma meia de nylon apertada na cabeça para simular o cabelo raspado dos presos.
O visual do filme, diga-se de passagem, é outro esmero em meio a muitos. Você sentirá que a fotografia é como um maestro em uma orquestra, com muita simplicidade e simetria, lhe guiará a tudo que você não poderá perder com um piscar de olhos sequer, embora queira em alguns momentos fechar os olhos para descansar de tanto terror psicológico. Mas uma coisa é fato, em todos os momentos a fotografia lhe proporcionará shows de beleza, até nas cenas mais horripilantes!
Na verdade, o filme inteiro foi como uma orquestra! A fotografia foi o maestro e os atores foram os músicos indispensáveis para tal apresentação. Tudo tão unificado e bem encaixado. Não existem avaliações individuais para os atores (e olha que temos muitos rostos conhecidíssimos por aqui, como Ezra Miller, Michael Angarano, Johnny Simmons, Ki Hong Lee, entre outros…) é como se todos os guardas e prisioneiros fizessem parte de um só todo. Afinal, esse é o objetivo de Alvarez, analisar a tribalização. E conseguiu, foi executado com sucesso! Muito sucesso!
A instrução de Philip Zimbardo aos guardas, além da vedação da violência física, foi:
“Vocês podem gerar nos prisioneiros sentimentos de tédio, de medo até certo ponto, transmitir-lhes uma noção de arbitrariedade e de que suas vidas são totalmente controladas por nós, pelo sistema, por vocês e por mim, e não terão privacidade alguma… Nós vamos privá-los de sua individualidade de diversas maneiras. De um modo geral, isso fará com que eles se sintam impotentes. Isto é, nesta situação nós vamos ter todo o poder e eles nenhum.”
O Experimento de Aprisionamento de Stanford não é somente um estudo acerca da influência das tribalizações, mas é também uma crítica aos sistemas carcerários defasados, é uma crítica a falta de humanidade dos seres humanos que por alguma contradição sarcástica, são chamados de humanos.
O que acontece quando você coloca boas pessoas em um lugar infernal? A humanidade sobressai, ou o mal triunfa? Assista e saberá.
Título original: The Stanford Prison Experiment
Direção: Tyler Patrick Alvarez
Elenco: Billy Crudup, Ezra Miller, Gaius Charles, Ki Hong Lee, Logan Miller, Moises Arias, Nicholas Braun, Tye Sheridan, Aidan Sussman, Alberto Malafronte, Alec Holden, Armand Vasquez, Benedict Samuel, Brett Davern, Callan McAuliffe, Chris Sheffield, Danielle Lauder, Fred Ochs, Harrison Thomas, Jack Foleym Jack Kilmer, James C. Victor, James Frecheville, James Wolk, Jesse Carere, Jim Klock, Johnny Simmons, Kate Butler, Keir Gilchrist, Matt Bennett, Michael Angarano, Miles Heizer, Nelsan Ellis, Olivia Thirlby, Thomas Mann.
Sinopse: Vinte e quatro estudantes do sexo masculino são selecionados para um experimento na Universidade de Stanford. No porão do campus, uma prisão simulada é construída. Tudo para provar a teoria do professor de psicologia Philip Zimbardo (Billy Crudup) de que os traços de personalidade dos prisioneiros e guardas são a principal causa de comportamentos abusivos entre eles. Por 15 dólares ao dia, os jovens ganharam funções, de forma aleatória. Porém, após a rápida desistência de dois estudantes que ficaram como prisioneiros, o experimento é interrompido após seis dias. Agora, uma investigação é feita para saber as causas desse conflito.
Trailer:
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