Crítica: Era Uma Vez no Oeste (1968, de Sergio Leone)



Sergio Leone foi um renomado cineasta italiano, a quem é atribuído, principalmente, a popularidade do gênero western spaghetti – termo dado a filmes do gênero western realizados por cineastas italianos – quando o cinema italiano, então na década de 60, estava voltado para um gênero completamente diferente: as comédias.

Leone começou a trabalhar com cinema ainda muito jovem, aos 18 anos, como assistente de direção e segundo diretor, até assinar seu próprio nome na realização de seu primeiro filme, O Colosso de Rodes (1960). Quatro anos depois, com a “trilogia dos dólares” – como ficaram conhecidos os filmes lançados em sequência: Por um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito, que traz um novato Clint Eastwood – ganha reconhecimento internacional.




Então, em 1969, fecha um contrato com a Paramount para realizar mais um filme de faroeste: Era Uma Vez no Oeste, que daria início a mais uma trilogia faroeste – desta vez sobre a América, seguido por Quando Explode a Vingança e Era Uma Vez na América (1984). Leone então resolveu levar bastante a sério seu projeto de realizar coisas diferentes do que já tinha feito até então. Era Uma Vez no Oeste, muito provavelmente, é um dos filmes pelos quais ele é mais reconhecido, um marco dentre os filmes do gênero faroeste.



Para começar, é o primeiro filme de Leone a colocar a violência em um contexto verdadeiramente político. Na história, um magnata ferroviário, no intuito de se apossar das terras adjacentes à rota da estrada de ferro que está para ser construída, contrata assassinos para executar os colonos que resistirem em deixá-las. Um desses atiradores, Frank (Henry Fonda), planta falsas evidências a fim de incriminar Cheyenne (Jason Robards), um atirador profissional da região. No entanto, Jill (Claudia Cardinale) passa a ser a nova dona das terras. Ela conta com a proteção de Cheyenne, que procura meios de provar a sua inocência, e com a de um homem com uma gaita, a quem chamam de Harmonica (Charles Bronson). Ao longo da projeção, percebe-se que Harmonica é movido pela vingança contra Frank, cujo motivo, no entanto, só vem a ser descoberto minutos antes do confronto final entre os dois. O roteiro foi escrito em inglês e contou com os também cineastas italianos Bernardo Bertolucci e Dario Argento, e com a do roteirista italiano Sergio Donati.



Dos quatro atores escolhidos para interpretar os personagens principais da trama, alguns são conhecidos do público, como Henry Fonda, que aqui faz uma interpretação épica como o vilão; e outros nem tanto, como Charles Bronson, cujo personagem é um dos que mais desperta a curiosidade do espectador ao longo da projeção – ao invés de ter escolhido Clint Eastwood, a quem havia descoberto e com quem trabalhara em sua primeira trilogia faroeste, o que provavelmente teria tirado boa parte do mistério que envolve o personagem. Os outros dois atores são Jason Robards e a bela Claudia Cardinale, ambos em atuações memoráveis.



Com a ajuda do compositor italiano Ennio Morricone, que já havia trabalhado com Leone na trilogia dos dólares, e que também escreveu composições para filmes como Cinema Paradiso (1988) e Bastardos Inglórios (2009), Leone fez de Era Uma Vez no Oeste “uma sinfonia, como se uma música de imagens”, como escreveu certa vez o crítico de cinema André Setaro. De início, Morricone compôs para cada um dos quatro personagens principais um tema próprio, que Leone fazia questão de tocar nos sets para inspirar os atores antes de entrar em cena. Da mesma forma, antes mesmo da aparição de um dos atores na tela, a música já era tocada, o que deixava o público de sobreaviso da sua entrada, e na expectativa do que ela acarretaria.


Expectativa essa que, inclusive, foi muito bem construída e desenvolvida desde a primeira cena, que é opinião praticamente unânime dentre os críticos, como uma das sequências iniciais mais antológicas da história do cinema. Como na abertura não há ainda a presença de nenhum dos quatro personagens principais, mas três secundários, nenhum dos temas fundamentais é, portanto, tocado. Mas há o pré-anúncio de que aqueles homens estão esperando por algo, ou alguém, e é então que Leone consegue transmitir toda a tensão da cena para a plateia, sem, no entanto, utilizar de nenhum diálogo nem música propriamente dita. Ao invés disso, dá o máximo de importância aos sons naturais que cercam o ambiente que rodeia aqueles homens – como o som cada vez maior da gota d’água que cai em cima do chapéu de um deles, o zumbido irritante da mosca, o barulho do moinho, o apito do trem ao longe – fazendo, dessa forma, com que a tensão e a expectativa, no público, seja esticada a um nível máximo.


Aliado ao destaque que Leone deu às partituras musicais encontram-se também neste filme as suas marcas características, como os close-ups, principalmente nos atores centrais da história que também dão todo um ar de mistério sobre a ação seguinte, além de dar também maior destaque à personagem de Claudia Cardinale (em seus filmes anteriores, as personagens femininas não tinham muito destaque). Desta maneira, Sergio Leone conseguiu realizar um western que ficou marcado por ser completamente diferente e inovador do que já tinha feito até então – e do que seria feito posteriormente.




Título Original: C’era una Volta il West/Once Upon a Time in the West


Direção: Sergio Leone


Elenco: Aldo Berti, Aldo Sambrell, Al Mulock, Antonio Molino Rojo, Benito Stefanelli, Bruno Corazzari, Charles Bronson, Claudia Cardinale, Claudio Mancini.


Sinopse: Em nome de uma disputa por terras por onde passaria futuramente uma estrada de ferro, quatro protagonistas terão seus destinos cruzados em uma violenta trama: uma ex-prostituta, um bandido, um pistoleiro de aluguel e um homem misterioso.


Trailer:


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