Crítica: A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (2017, de Rupert Sanders)



É interessante como o cinema e outras formas de arte são um ciclo, cheio de voltas. O livro de Philip K. Dick originou o clássico cult Blade Runner, O Caçador de Androides (com Harrison Ford, de Ridley Scott, 1982). Isto gerou uma tendência de produções sobre o assunto, aproveitando-se do medo da tecnologia evoluir a ponto das máquinas se rebelarem ou substituírem os humanos, onde destaca-se também os dois primeiros O Exterminador do Futuro (1984 e 1991) e RoboCop (1987). Eis que em 1989, foi lançado o mangá (HQ japonês) Ghost in the Shell, extremamente aclamado e que gerou em 1995 um anime (desenho japonês) – de mesmo nome e igualmente elogiado. Matrix, em 1999, bebeu de várias fontes para criar sua mitologia, inclusive do anime Ghost in the Shell, de 1995. Afinal, Matrix é um apanhado de várias culturas e referências, especialmente elementos sci-fi, orientais e cyberpunks. Depois de diversas continuações, remakes e imitações de todas estas obras citadas acima, chegamos em 2017, com o longa em live-action (atores reais) de Ghost in the Shell. Com ninguém menos do que Scarlett Johansson no papel principal, o filme erra em não inovar, mas acerta em representar a mitologia.


Se você já viu ou leu as obras citadas, de certa forma já sabe o que acontece aqui. O roteiro é básico deste tipo de obra. Temos Scarlett como a Major, meio humana e meio ciborgue, que precisa deter os ataques de um hacker. Claro que nesse meio tempo teremos reviravoltas, mudanças de lado, conspirações, dilemas existenciais e muita cultura cibernética. Eis que aqui está um pequeno problema para quem espera algo inovador: é um filme que até aparenta complexidade, mas na verdade é bem simples e clichê. O roteiro não é ruim, apenas comum, com diálogos didáticos e simples, às vezes expositivos e explicativos demais. 




A direção de Rupert Sanders é boa, mas nada especial. Sanders repete aqui o que já havia feito no primeiro Branca de Neve e o Caçador, em 2012: dirige muito bem a ação, efeitos especiais de última geração e cenas com câmera lenta (slow-motion). Ele também sabe dar destaque para a protagonista, fazendo Major (Scarlett) brilhar a todo instante, seja pela beleza, pela boa atuação (a moça sempre se entrega de cabeça a estes papeis) ou pelo empoderamento feminino. Major quebra tudo, defendendo o atualmente comentado #girlpower no cinema. E Sanders explora bem isso, com sua câmera sempre focando e centralizando Scarlett, muitas vezes colocando ela em ângulos superiores aos demais personagens.




O grande trunfo da obra é, deveras, a ação e os efeitos visuais. As cenas não chegam a ser intensas como em Matrix ou até mesmo no mais simplista John Wick, mas são suficientemente empolgantes. Especialmente as sequências da primeira hora de projeção. Há após, uma leve queda de ritmo, uma “barriguinha” na trama e ação, mas nada gritante. Os cenários computadorizados; as máquinas; os cabelos, figurinos e maquiagens; a fotografia cinza e azulada; a direção de arte; tudo é bem criado e consegue passar a ideia de um futuro frio e robotizado, com hologramas que remetem muito ao já citado Blade Runner, O Caçador de Androides. Até a atmosfera investigativa urbana e noir se faz bem presente. A trilha sonora é um ponto ambíguo: quando aparece, é boa, bem sintetizada e que remete a cultura cibernética, porém muito pouco se apresenta, somente em algumas poucas cenas. 


Por fim, Ghost in the Shell é uma obra que se sustenta pela forte atriz protagonista e uma bela criação visual futurista. O longa flerta com questões psicológicas (afinal ela é uma máquina ou um ser vivo?) e filosóficas (irão as máquinas substituir os humanos?). Merece ser visto e quem é fã do anime original e de Matrix irá curtir bastante o estilo. Mas de alguma forma, faltou algo para ser maior, mais impactante, mais ousado. Tinha tudo para tal, mas no fundo, faltou coragem, mostrando que o estúdio contentou-se com o que já havia se apresentado lá em 1982. O cinema é um ciclo e ele continua. Se Ghost in the Shell não teve boa bilheteria e pode ter encerrado a franquia, em Outubro teremos a continuação Blade Runner 2049, que poderá enfim consagrar a mitologia, o medo e as reflexões sobre a inteligência artificial. Aguardemos o ciclo se completar …






Título Original:Ghost in the Shell



Direção: Rupert Sanders



Elenco: Scarlett Johansson, Michael Pitt, Michael Wincott, Juliette Binoche, Pilou Asbæk, Chin Han, Rila Fukushima, Chris Obi, Peter Ferdinando.



Sinopse: o longa é baseado na famosa série mangá homônima e inspirado na obra escrita e ilustrada por Masamure Shirow para a Kodansha Comics. Sua trama acompanha Motoko Kusanagi – conhecida como Major (Scarlet Johansson), uma híbrida de humano e ciborgue, que lidera um esquadrão de elite: a Seção 9. Dedicada a perseguir os mais perigosos criminosos e extremistas, ela precisa aniquilar um hacker, cujo objetivo é deter os avanços da tecnologia cibernética.



Trailer:






Imagens:












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