Charles Chaplin, um dos maiores cineastas da história do cinema, estreou em um filme pela primeira vez em 1914, aos 25 anos. Mesmo com uma constituição familiar difícil – com uma mãe doente e sem ter conhecido o pai, sendo mandado para um asilo de pobres com o irmão – aos 17 anos, Chaplin entrou para a companhia de comédia pastelão de Fred Karno, percorrendo alguns países com o grupo, até que decidiu ir para os Estados Unidos, onde foi contratado pela Keystone, e onde começou a trajetória do eterno Carlitos, sua personagem mais famosa, e a mais icônica do cinema.
Entretanto, a partir da década de 40, Chaplin partiu para uma conquista mais séria, com uma crítica social mais feroz em seus filmes, o que iniciou uma campanha anticomunista contra ele. A partir daí sua carreira começou a ser prejudicada, pois com a relação com os EUA comprometida e conflitos na vida pessoal escandalizados pela imprensa, os filmes de Chaplin passaram a refletir essas questões, Carlitos perdeu espaço e assim Chaplin também perdeu a popularidade. Só anos mais tarde, quase no fim de sua vida, os EUA reconheceram publicamente sua falta para com um dos artistas que mais contribuíram para o cinema, com um Oscar honorário em 1972.
Nesse especial, o Minha Visão homenageia a carreira deste grande cineasta, que tanto nos fez rir como também nos emocionar e refletir, com os 10 melhores filmes de sua carreira. Confiram abaixo e esperamos que gostem!
10 – Luzes da Ribalta (Limelight, 1952)
Neste filme, Chaplin interpreta Calvero, um velho comediante que no passado fizera sucesso no vaudeville e music hall. Mas, anos mais tarde, Calvero foi esquecido e isto o deixou muito próximo de se tornar alcoólatra. Luzes da Ribalta é uma autobiografia, pois Calvero é Chaplin. Como Calvero, também Chaplin fora acusado de haver perdido a imaginação. No filme, Calvero prova que foi o público que se esgotara, embora ele continuasse a fazer as mesmas graças que antes causaram tanto riso. E também Chaplin mostra que a sua arte de se exprimir cinematograficamente não chegara ao fim.
9 – O Circo (The Circus, 1928)
Em mais uma aventura do Vagabundo, Carlitos é confundido com um ladrão e para fugir da polícia se refugia num circo, onde acaba fazendo parte do espetáculo e, sem querer, conquista o sucesso do público. Isso faz com que o dono o contrate, para logo em seguida se aproveitar dele. Aqui está presente uma das muitas críticas de Chaplin à sociedade capitalista: o trabalhador sendo explorado pelo patrão, que faz sucesso às suas custas.
As famosas gags de Carlitos têm destaque também em O Circo, como na sequência inicial da fuga no parque; na sala de espelhos, que o multiplicam e o confunde; a imitação de bonecos para despistar a polícia, a tensa entrada na jaula do leão e a sequência em que anda sobre uma corda bamba com macacos subindo nele, tampando sua visão e mordendo-o.
8 – Carlitos nas Trincheiras (Shoulder Arms, 1918)
Em um dos seus curtas de início de carreira, Chaplin nos mostra Carlitos como recruta na França durante a Primeira Guerra Mundial. Atabalhoado, como de costume, ele não se adéqua de imediato às roupas pesadas que tem de usar, entre outras dificuldades.
Com muito humor, relatou as precárias condições em que os soldados viviam nos bastidores da Guerra. Somente um gênio, uma mente brilhante como a que possuía Chaplin para tratar de tal tema através do riso e obter êxito. Uma das maiores preocupações de Hollywood, inclusive, era a de que o curta fosse um fracasso justamente por fazer humor a partir da Guerra. Mas, longe disso, tornou-se um dos mais populares de Chaplin.
7 – Monsieur Verdoux (1947)
A história desse filme foi baseada em uma personagem real, Henry Landrú (1869-1922), que foi condenado à morte na guilhotina por ter assassinado mais de 10 mulheres e seduzido outras tantas. Monsieur Verdoux foi lançado no período mais amargo da vida de Chaplin: além da campanha difamatória sofrida por conta da caça às bruxas do macartismo, foi obrigado a reconhecer juridicamente um filho que não era seu, sendo desacreditado pela imprensa.
Durante o tempo em que o roteiro levou para ficar pronto (de 1944 a 1946), Chaplin compreendeu que precisava de uma nova voz, diferente da de Carlitos. Mas foi um filme mal recebido. Tudo porque, ao invés de se limitar a uma comédia macabra, Chaplin falou satiricamente do mundo contaminado pela paixão do poder econômico e militar: “um só crime de morte, e sois um bandido”, fala Verdoux na prisão, “um milhão de crimes, e sois um héroi. A quantidade santifica!”.
6 – Vida de Cachorro (A Dog’s Life, 1918)
Este curta, escrito, produzido e dirigido por Chaplin, foi também o primeiro a ser produzido pela First National Films. Nele, uma singela e encantadora amizade é estabelecida entre Carlitos e um cachorro de rua. Logo após salvar o cão de uma briga, ambos se tornam inseparáveis: o Vagabundo faz dele seu travesseiro ao deitar-se na sarjeta, divide com ele a comida roubada e chega até mesmo a colocá-lo em seu bolso quando entra num salão de baile.
Vida de Cachorro faz uma comparação do estado deplorável em que vivia Carlitos com o de um cachorro de rua: abandonado, sujo, com frio e com fome. O cão é o único que aceita se aproximar dele, é o seu único amigo. Mas como se trata de um filme de Carlitos, não poderia faltar as muitas confusões que constituem sequências originais e inteligentes de humor garantido.
5 – O Garoto (The Kid, 1921)
Foi o primeiro longa dirigido por Chaplin, no qual é contada a história de um bebê abandonado pela mãe logo após o nascimento. Solteira e pobre, a mulher não vê diante de si outra escolha a não ser deixar o recém-nascido à porta de uma casa senhorial, junto com um bilhete em que pede que cuidem da criança.
Carlitos segue em sua rotina diária vagando pelas ruas, quando se depara com o bebê, que chora abandonado à sarjeta. Inicialmente, parece acreditar que é filho de alguma das moradoras e temos a primeira sequência de gags do Vagabundo tentando devolver o bebê à casa de uma mulher, enquanto todos em volta pensam que ele é o pai do menino e que está tentando abandoná-lo.
O Garoto, ao mesmo tempo em que faz rir com as peripécias de Carlitos e do incrível garotinho, nos emociona principalmente com a intensidade do amor entre ambos, mas também pela realidade em vista da pobreza que inicialmente fez a mãe abandonar o seu filho e retratada por Chaplin no minúsculo espaço sujo que o Vagabundo e o menino dividem.
4 – Em Busca do Ouro (The Gold Rush, 1925)
Ambientado no Alasca de 1898, o filme conta a história de garimpeiros – e aspirantes, como no caso de Carlitos – que se aventuram na corrida do ouro em busca de conseguir riquezas e melhorar de vida. Sobem todos no mesmo ritmo, apenas um se destoa: Carlitos, desengonçado, perdido, apenas seguindo a multidão.
Uma das cenas mais antológicas do cinema se dá quando, isolado, com frio e principalmente com fome, sem poder buscar comida, Carlitos encontra uma solução: cozinha as próprias botas, como se fosse um verdadeiro banquete: as solas viram uma saborosa carne e os cordões, um delicioso espaguete.
Carlitos e Jim, seu companheiro, partem à procura da mina, e a cena em que eles lutam por ela reflete a crítica de Chaplin contra a degradação do homem devido à competição por capital.
3 – Luzes da Cidade (City Lights, 1931)
Embora seja um filme mudo feito numa época em que o cinema falado estava em seu auge, Luzes da Cidade obteve imediatamente um grande sucesso de público, comprovando mais uma vez a enorme popularidade de Chaplin.
A história é sobre a paixão do Vagabundo por uma pobre florista cega, mas a confusa e engraçada amizade de Carlitos com um milionário embriagado, apesar de ser uma trama paralela, se destaca pela alusão a que remete. Quando se encontra em estado de embriaguez, o milionário é o melhor amigo do pobre Vagabundo; mas, quando lúcido, ele desconhece essa amizade. Essa seria a metáfora de Chaplin para a incompatibilidade entre as classes, concebível apenas quando há uma fuga da realidade.
Da mesma forma, a relação do Vagabundo com a florista também é marcada pela mesma dicotomia. Enquanto cega, ela imagina que seu benfeitor é um homem rico. Ao recuperar a visão, depara-se com a realidade: ele não é outro senão o esfarrapado que a olha tão admiravelmente.
2 – Tempos Modernos (Modern Times, 1936)
Um dos mais famosos filmes de Chaplin, depois do qual se tem início a campanha difamatória contra o cineasta com as primeiras acusações de comunista, Tempos Modernos reproduz a vida na sociedade dita “moderna”, com uma crítica social fortemente presente.
É interessante notar que o filme é essencialmente mudo; porém, no entanto, o chefe, o rádio e a máquina são dotados de fala. Essa é a perfeita metáfora de quem, na realidade, detém o poder da comunicação na sociedade.
Confundido com um comunista, Carlitos é preso, mas ele adora a sua estadia na prisão. Afinal, tem onde dormir e tem o que comer. Ou seja, tem o que lhe é fundamental. E é nesse sentido que Carlitos não consegue se adequar à sociedade em que vive: ele é feliz e realizado porque tem o essencial.
1 – O Grande Ditador (The Great Dictator, 1940)
Primeiro filme totalmente falado de Chaplin, no qual, com sua peculiar genialidade, ousadia e coragem, foi capaz de fazer rir com uma sátira inteligente em que o nazi-fascismo e seus líderes, Adolf Hitler e Benito Mussolini, foram completamente ridicularizados. No filme, Chaplin interpreta dois papéis: em um deles, um barbeiro judeu, reconhecemos o velho Carlitos; no outro, porém, nos deparamos com o ditador da fictícia Tomânia, Adenoyd Hynkel.
Assumindo a identidade do ditador, o barbeiro é levado para a Tomânia, onde esperam que ele dê um discurso para comemorar a vitória. Ao começar a falar, no entanto, não vemos mais o barbeiro nem tampouco o ditador: vemos o próprio Chaplin, durante os seis minutos finais do filme, num emocionante discurso em que ele fala da importância de sermos, cada vez mais, humanos. É disso que o mundo realmente precisa, diz Chaplin: de humanidade.
E aí, gostou da matéria? Acha que fizemos jus à filmografia deste eterno cineasta? Deixe seu comentário! 🙂