Crítica: Assassin’s Creed (2016, de Justin Kurzel)


Sempre que um filme baseado em games é lançado, já ficamos com aquele olhar desconfiado e nosso lado gamer em estado de emergência. Depois de
pequenos traumas aqui e ali por conta de fracas adaptações, quando
Assassin’s Creed foi anunciado a situação não foi
diferente. Sabendo disso e querendo mudar essa velha história, os produtores do
primeiro longa dos assassinos procuraram um elenco com nomes de peso e
diretores talentosos para manter a seriedade da icônica história da empresa Ubisoft. Com 
despretensiosidade e seus próprios deslizes, Assassin’s Creed não se apresenta como uma adaptação incrível, mas consegue entreter até mesmo aqueles que mais temiam o longa.

Callum Lynch (Michael Fassbender) é um
homicida condenado que está prestes a morrer. No entanto, mal ele sabe que sua
linha ancestral interessa à poderosa corporação Abstergo, liderada por Alan Rikkin (Jeremy Irons) e sua filha Sofia Rikkin (Marion Cotillard), que já tem
planos guardados para Callum. Controlada por Templários, a corporação está em
busca da perigosa Maçã do Éden, prova intacta da primeira desobediência do ser
humano com poderes incontestáveis de manipular o livre-arbítrio. Mas sua
localização é mantida em segredo e só poderá ser revelada através das memórias
de um ancestral de Lynch, o assassino Aguilar, utilizando a máquina Animus, que
possibilita à uma pessoa reviver as memórias de seus ancestrais por meio de sua
genética.


Mantendo-se fiel às histórias originais,
mas ao mesmo tempo criando um enredo paralelo com personagens novos, Assassin’s Creed consegue compactar a complexa trama
dos games envolvendo a Maçã do Éden.
As mudanças e diferenças – apesar de carecerem explicações – fazem sentido para a dramatização
cinematográfica que preza cenas visuais. Como por exemplo, a mudança drástica na aparência e
mecanização da máquina Animus. Em contrapartida, seu roteiro explica em demasia o básico da história para ajudar aqueles que não conhecem previamente o enredo, o que resulta num aspecto ao menos tempo positivo e negativo.


A ambientação do século XV espanhol
quando Callum revisita as memórias de seu ancestral – o guerreiro Aguilar –
dentro do Animus, é extremamente bem-feita e de dar orgulho aos fãs dos games. O figurino é impecável, parecendo
que literalmente saltou das telas dos jogos para o filme. A fotografia de Adam
Arkapaw (Macbeth: Ambição e Guerra e
A Luz Entre os Oceanos) auxilia
muito nas cores da ambientação, destacando desde as cores das roupas dos
assassinos ao gélido amarelo queimado da areia. E a maquiagem também está
excelente, principalmente as dos assassinos.


No entanto, poucas vezes o filme
revisita cenas em terras espanholas dentro do Animus, procurando explorar mais
a trama fora dele, ao contrário do que acontece no jogo. Poderiam ter abusado
mais dessa excelente ambientação e explorar as aventuras do misterioso Aguilar, mas optaram pelo contrário, talvez para dar mais
aparição ao elenco de peso contratado. Sua trilha sonora é um pouco exagerada,
principalmente nas cenas de ação, quando qualquer movimento dos personagens
parece gerar sons cada vez mais altos. Os assassinos agem nas sombras e furtivamente, mas no longa, é totalmente o contrário disso.



A ótima fotografia também funciona
fora do Animus, ao destacar as cores pálidas passando o aspecto exageradamente
limpo (que até chega a incomodar) do ambiente da Abstergo. A direção de Justin
Kurzel (Macbeth: Ambição e Guerra e The Turning) é bem trabalhada,
sobretudo nas cenas de ação. Seus takes
são ambiciosos, mas perde um pouco de sua grandiosidade com as paisagens
claramente feitas por efeitos especiais. As cenas de luta são engenhosas,
rápidas e impressionantes. No entanto, quando essas cenas são situadas dentro
do Animus, elas são cortadas e alternadas por cenas fora dele, mostrando Callum
conectado na máquina, cortando muito do potencial das lutas nas terras da Espanha em 1492.


A montagem e a edição seguem juntas na medida, sem inovações, mas um pouco exageradas nas cenas de fuga. São tantos cortes e movimentos de câmera diferentes ao mesmo tempo que deixa o espectador pensando para onde foram todos os personagens. Os bons efeitos especiais estão presentes em grande parte do longa, tendo seus melhores momentos nos devaneios de Callum com Aguilar, que remetem muito às características dos games. Vale ressaltar que o uso do 3D no filme é extremamente dispensável, poucas cenas são
aproveitadas na tecnologia tridimensional. Uma águia voando para cá, uma lâmina lançada para lá. Pouquíssimas coisas.



Michael Fassbender é bem convincente
como Callum Lynch, incrível como o ator consegue entregar múltiplas facetas completamente diferentes uma da outra. Marion Cotillard como Sofia pareceu um pouco fora dos
eixos e com pouca expressividade, lembrando sua fraca atuação em Batman:
O Cavaleiro das Trevas Ressurge
. Jeremy Irons impecável, como de fetiche do
ator, que apesar de aparecer menos do que os outros dois atores, rouba as cenas
em que aparece.


Apesar de ter ao todo uma história – no mínimo – satisfatória, seu
desfecho é levemente decepcionante. De uma narrativa interessante, se perdeu
após a cena da convenção dos Templários, onde uma mudança extremamente brusca e
ligeira acontece na personalidade de um personagem sem explicações coerentes.
Dando um final incompleto para deixar uma clara deixa para uma sequência. O
que, convenhamos, não precisava à essa altura. É um passo enorme uma produção dessas ter o sucesso que tanto almeja. E estragar seu final forçando uma continuação é um erro grave demais.



No fim, Assassin’s Creed não é a adaptação dos sonhos que os fãs mais ávidos esperam. Mas mesmo com seus errinhos aqui e ali, consegue entregar uma trama despretensiosa que entretém o espectador. Exatamente aquilo que prometia. E exatamente aquilo que tantas outras adaptações de games tentam e não conseguem. Então antes de ir ao cinema, desligue seu lado cinéfilo mais exigente, compre um baldinho de pipoca e vá com o mantra da Ordem dos Assassinos na ponta da língua, que não irá se decepcionar. Só preciso indagar uma coisa. Faltou um leap of faith decente, não?


Título Original: Assassin’s Creed

Direção: Justin Kurzel

Elenco: Michael Fassbender, Marion Cotillard, Jeremy Irons, Brendan Gleeson, Michael K. Williams, Charlotte Rampling, Denis Ménochet, Ariane Labed

Sinopse: Callum Lynch (Michael Fassbender) descobre que é descendente de um membro da Ordem dos Assassinos e, via memória genética, revive as aventuras do guerreiro Aguilar, seu ancestral espanhol do século XV. Dotado de novos conhecimentos e incríveis habilidades, ele volta aos dias de hoje pronto para enfrentar os Templários.

Trailer:


E você, já conferiu a adaptação para as telonas do game Assassin’s Creed? Não esqueça de deixar seu comentário!

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