Crítica: La La Land: Cantando Estações (2016, de Damien Chazelle) – Um Filme para os Corações Sonhadores

“La La Land homenageia e resgata a boa música e o bom cinema clássico, mas também mistura elementos novos. É um tipo de filme que não se faz mais, para um público que talvez não se encontre mais: corações apaixonados e sonhadores.”



Primeiramente, queria agradecer a Paris Filmes, que me concedeu ingressos para ver a esta obra em pré-estreia, e assim poder escrever esta crítica. Um muito obrigado a esta grande distribuidora, que tem feito um belo trabalho ao trazer ótimos filmes ao Brasil.



Os tempos são outros. É uma era moderna, onde a maioria vive em torno de seus celulares, comendo fast foods, indo aos cinemas conferir blockbusters carregados de efeitos especiais. Algumas coisas que ficaram para trás deixaram seu ar nostálgico, mas outras coisas simplesmente envelheceram e talvez já não exista mais um público para isso. É aí que entram os musicais, um estilo de obra datada, onde a maioria acaba “torcendo o nariz”. Musicais trazem uma leveza e certa ingenuidade, onde a vida é colocada em paralelo com belos números musicais e um toque de magia. Mas hoje, isso é encarado como chato, irreal e cafona. E não pode-se condenar quem pensa assim, o mundo moderno criou e moldou as pessoas desta forma. O próprio público dos cinemas foi moldado assim, procurando soluções escapistas aos finais de semana no shopping, com obras de ação e efeitos especiais, que não exijam muito do cérebro ou de uma visão artística.


De olho neste cenário mundial, o jovem diretor Damien Chazelle decidiu ousar, sem necessariamente trazer algo novo, mas resgatando algo datado e inserindo alguns novos elementos. La La Land: Cantando Estações traz o melhor do clássico musical, com romance e toques de humor. Mas também situa-se nos nossos dias e traz algo muito necessário no cenário mundial: falar – mesmo que brevemente – de consequências. Chazelle surpreendeu a todos em 2014 quando seu primeiro filme, Whiplash: Em Busca da Perfeição, trouxe uma união de drama (quase psicológico) com música, numa obra onde discute-se até onde vale a pena ir para alcançar o sucesso. Foi um filme extremamente surpreendente e eletrizante, mesmo que com um conceito simples. Caminhando novamente no terreno da música, Damien Chazelle abraça de vez a causa, entregando um musical completo. Inicialmente rejeitado por vários estúdios, foi somente após o reconhecimento de Whiplash com a crítica e o Oscar, que o cineasta ganhou aval para filmar este musical. E se mesmo que na sua sinopse, apresente-se algo levemente banal, esta história da garçonete aspirante a atriz e do músico defensor do clássico jazz, encontra-se camadas que não se vê muito no cinema moderno. Não é atoa que o filme abocanhou os principais prêmios do Globo de Ouro e já desponta como grande favorito ao Oscar 2017. Vamos falar um pouco disso.


A direção de Damien Chazelle é de uma segurança que poucas vezes se vê. O uso de plano-sequências, sejam realmente inteiras ou editadas e manipuladas, apresentam um cuidado especial e uma maestria ao manipular as lentes da câmera. Existem avanços rápidos, que mostram ambos os lados de um ambiente, podendo assim deixar o público acompanhar tudo que acontece. Como há muita música, o casal principal, muitos figurantes, toda uma direção de arte caprichada feita para encantar os olhos, tudo isso torna importante e difícil da câmera nos mostrar tudo com clareza. Mas Chazelle consegue acompanhar todos os movimentos, com takes que sabem exatamente que tempo durar, sejam longos mostrando todo cenário, ou curtos para dar dinâmica nas cenas. Algumas sequências são de causar espanto, como a abertura musical, muito bem coreografada e filmada, ininterrupta e que impressiona não apenas pela beleza, mas pelo clima contagiante, onde dá vontade de que a vida vire um musical. Outras sequências também são muito bem orquestradas, como uma em que figurantes pulam na piscina, ou toda a belíssima sequência final.

Talvez seja o roteiro um dos alvos de críticas para muitos. Talvez não haja um impacto, uma urgência no seu enredo central, algo que em épocas de premiações é importante. Não traz uma pesada crítica social ou carga dramática mais opressora, como Moonlight ou Manchester à Beira-Mar. É um filme que traz um roteiro mais simples, banal e leve, o que pode afastar a quem procura algo mais maduro. Porém, o mesmo não indica que seja um roteiro preguiçoso. Longe disso, dentro de sua limitação, consegue-se algo incrível. Embora não hajam grandes coadjuvantes sendo desenvolvidos, é na dupla protagonista onde desenvolve-se questões pertinentes ao contexto da obra. Além de indagar sobre a busca dos sonhos, ao estilo de vida da iluminada e artística Los Angeles, deixa-se perguntas sobre até que ponto vale a busca do sucesso, que sacrifícios merecem ser feitos e se hoje não estamos deixando estilos de arte morrer por causa da modernização de tudo. O script ainda insere toda uma homenagem ao jazz, ao cinema clássico e claro, aos musicais. Se não há um grande coadjuvante humano, a própria cidade de Los Angeles serve como uma personagem secundária, assim como alguns pontos turísticos cinéfilos, a música, as pinturas de figuras clássicas da sétima arte, as lembranças de outros tempos, de uma outra Hollywood; além de obras como Juventude Transviada, Casablanca e Cantando na Chuva. Estes elementos acabam sendo os verdadeiros coadjuvantes, assistindo a história dos protagonistas. E em alguns momentos a própria câmera deixa isso evidente, colocando estes elementos quase que em uma posição de voyeurismo.

A atuação de Ryan Gosling é ótima. Mesmo que desafinando brevemente, não por culpa dele, que está totalmente entregue, mas por seu timbre de voz, outrora seu papel convence. Enxergamos ele como um pianista e músico de jazz. Já Emma Stone acerta algumas notas a mais. Quando aparece, domina a câmera, entregando seu melhor desempenho cênico até aqui. Quase no fim, há uma cena em que ela se entrega por completo. Nesta cena específica, o diretor gruda a câmera no rosto dela, em um tour de force que justifica de maneira bem explícita a razão da moça vir estar ganhando prêmios. Talvez eles não levem o Oscar, devem haver atuações mais pesadas que levarão os prêmios, mas se levarem, é justo, especialmente ela. E a química entre eles – algo crucial neste tipo de filme e é onde justamente a maioria dos romances modernos erram – acaba sendo a “cereja do bolo” definitiva. Seu entrosamento é natural, quase surreal, um tanto ingênuo, bobo e contagiante.


O final pode dividir opiniões. Um pessoal da minha sessão não gostou. Como disse no início do artigo, entendo esta posição, o entretenimento moderno moldou as pessoas a esperarem algo específico e a rejeitar o que não lhe convém. Mas não se engane, o final até pode ser corajoso, realista e azedo, mas ainda guarda sua magia, ela está ali, porém ambiguamente diz-se que a vida não é aquele sonho que esperamos. Mas certamente ainda vale a pena sonhar, cantar e se apaixonar. La La Land é lindo, com uma trilha sonora contagiante e um figurino e direção de arte de encher os olhos, cheio de cores contrastantes a todo momento. Os números musicais dão vontade de viver a vida de maneira mais leve, o que não deixa de ser uma inteligente jogada escapista, para livrar-nos do fardo do dia a dia. Um filme que carrega coração e alma, que fornece uma ode a Hollywood e a vida. Mas que mesmo elogiando estes elementos clássicos, insere sangue novo, uma dose de realismo e momentos agridoce. E o maior presente é que La La Land triunfa justamente onde afundaria; um filme que representa um estilo de obra que já não se faz mais, destinado a um seleto público que talvez já não exista mais: corações apaixonados e sonhadores.




Título Original: La La Land


Direção: Damien Chazelle


Elenco: Ryan Gosling, Emma Stone, Finn Wittrock, Sandra Rosko, Sonoya Mizuno, Rosemarie DeWitt, J.K. Simmons.


Sinopse: o filme acompanha dois jovens sonhadores – a aspirante a atriz Mia (Emma Stone) e o carismático pianista Sebastian (Ryan Gosling) – que se apaixonam na cidade de Los Angeles.

Trailer:





Bônus:




Canção Another Day of Sun







Canção City of Stars







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