Crítica: Julieta (2016, de Pedro Almodóvar)



Julieta, novo filme de Pedro Almodóvar, é baseado na adaptação de três contos da escritora canadense Alice Munro. Inicialmente o filme se chamaria Silêncio, silêncio este, que tem papel fundamental no filme.


Julieta é interpretada por Adriana Ugarte quando jovem e por Emma Suárez na meia idade. Adriana faz uma Julieta jovem, apaixonada, ao mesmo tempo que demonstra traços de insegurança em relação ao casamento, e após a tragédia que irá marcar sua vida, vemos a personagem se deprimir e afundar em sofrimento. Emma dá um tom mais contido à Julieta mais velha, é possível sentir o sofrimento que a personagem vive, através do olhar triste da atriz. As duas atrizes estão em sintonia, de forma que quase não percebemos a mudança de atriz após a passagem do tempo.

O filme se inicia com a personagem título escrevendo uma carta para a filha Antia (Blanca Pérés) após 12 anos sem se verem, toda a história é contada através de lembranças do passado de Julieta, e é criado um certo suspense em torno do motivo de Antia ter se afastado da mãe.

As principais características do cinema de Almodóvar estão presentes: a direção de arte é impecável, as famosas ‘cores de Almódovar’ (em Julieta a paleta é composta principalmente por vermelho, laranja e azul e isso está presente em quase todas as cenas), é há muitas estampas nas paredes do cenário e no figurino das atrizes.

É interessante observar os movimentos da câmera que utiliza muito “planos detalhe” focando em partes do corpo da personagens e objetos, que sinalizam o estado emocional da personagem, a mudança de penteado de Julieta ou as cores de sua vestimenta quando focadas, por exemplo, traduzem seus sentimentos.

Assim como na maioria dos filmes do diretor há o protagonismo feminino, e uma história contada em torno de uma tragédia.

Porém falta a ousadia tão característica do diretor, falta intensidade. Apesar da ótima atuação das duas atrizes principais, são atuações muito contidas, não vemos por exemplo, e principalmente, não sentimos na Julieta jovem e apaixonada, aquela paixão intensa sempre presente nas personagens femininas do diretor.

Contido, talvez seja o melhor adjetivo para descrever esse filme, no final fica a sensação de que faltou algo. Julieta fala sobre culpa, dor, das consequências que algo não dito pode trazer com a passagem do tempo e principalmente fala sobre a relação mãe-filha.

O diretor deixa o final do filme em aberto, porém as personagem se mostram distantes em relação ao espectador, o que impede de gerar identificação e torcer pelo destino delas.



Título Original:Julieta 

Direção: Pedro Almodóvar

Elenco: Emma Suárez, Adriana Ugarte, Daniel Grao, Inma Cuesta, Dario Grandinetti, Michelle Jenner, Rossy de Palma, Blanca Perés.

Sinopse: Julieta (Emma Suárez/Adriana Ugarte) é uma mulher de meia idade que está prestes a se mudar de Madri para Portugal, para acompanhar seu namorado Lorenzo (Dario Grandinetti). Entretanto, um encontro fortuito na rua com Beatriz (Michelle Jenner), uma antiga amiga de sua filha Antía (Blanca Parés), faz com que Julieta repentinamente desista da mudança. Ela resolve se mudar para o antigo prédio em que vivia, também em Madri, e lá começa a escrever uma carta para a filha relembrando o passado entre as duas.

Trailer:

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