Crítica: Westworld – 1ª Temporada (2016, de Jonathan Nolan, Richard J. Lewis e outros)

Westworld está de volta após 40 anos e dessa vez, de uma forma bem diferente (em todos os sentidos). Seguindo a mesma premissa da história original, mas com diversas diferenças e uma pegada mais moderna, a série de TV vinha prometendo sua qualidade muito antes de seu lançamento. Divulgando imagens, trailers e teasers que só serviam para aumentar a expectativa e deixar todos nós muito ansiosos. E os inúmeros boatos de que a série era a escolhida pela emissora para ser o substituto da famosa série Game of Thrones, só aumentava cada vez mais a pressão sobre ela. Com um elenco recheado de atores de peso, Westworld aborda vários temas ao mesmo tempo e entrega uma trama muito complexa, extremamente bem construída e cheia de reviravoltas. Inteligente, visualmente belo e cheio de pequenos detalhes que enchem os olhos de quem está assistindo. É um dos melhores e mais interessantes seriados que passou este ano, e o melhor de tudo isso: ela apenas começou e muita coisa ainda está por vir.

Foram dois filmes que deram origem ao novo seriado da HBO, Westworld e Futureworld, de 1973 e 1976, respectivamente. A história original de Westworld (do filme de 73) foi escrita por Michael Crichton, que também dirigiu o filme. Crichton já é um conhecido do mundo cinematográfico, escreveu também a história do clássico Jurassic Park, e foi criador e produtor executivo da série ER – Plantão Médico, sucesso dos anos 90. Futureworld não é exatamente uma sequência apropriada, não foi escrito por Crichton e nem dirigido. É uma sequência realizada sob medida em cima do sucesso do primeiro. No entanto, é um filme interessante para quem gosta do mundo de Westworld. Em 2014 foi anunciado o início da produção da série que se baseava no filme de 73, que foi recebida com muita animação. Exibido pela HBO e produzida por J.J. Abrams (criador da série Lost e diretor de Star Wars: O Despertar da Força), Westworld foi criado por Jonathan Nolan e Lisa Joy, que em parceria com outros roteiristas, são os responsáveis pela maioria dos roteiros. E Nolan também foi diretor de alguns episódios.



A trama de Westworld é engenhosa e complicada, no melhor sentido possível. Ela não é explicada de maneira rápida e imediata na série. O enredo se desenvolve e se desenrola gradativamente com um ritmo estável, sem acelerar nem desacelerar. A boa quantidade de personagens e diferentes arcos que se entrelaçam são cuidadosamente construídas, graças ao excelente roteiro de cada episódio. Não é uma série difícil de ser entendida, apenas há muitas perguntas sem respostas pairadas pelo ar. E tais perguntas tomam seu próprio tempo para serem respondidas, e suas respostas são esmiuçadas no decorrer dos episódios, fragmentadas em uma cena aqui e ali. Muitas respostas podem até passar despercebidas a primeiro instante, por serem colocadas como pequenos detalhes e só “pescadas” por olhos mais atentos. Isso é um ponto muito positivo, pois fica chato quando um personagem de um filme ou seriado precisa literalmente explicar em um diálogo o que está acontecendo. Mas em ‘Westworld’ tudo é entregue na tela e o espectador precisa de atenção para captar, entender e digerir tudo. Muitos devem ter ficado horas divagando depois de assistir um episódio. Isso abre muito espaço para os fãs debaterem sobre a série e criarem suas próprias teorias, que foram inúmeras. E esse é outro ponto muito positivo, quando a série foge do convencional e entrega uma história que não está toda “mastigada” para o público. Onde o espectador pode pensar além daquilo que assistiu, o que só deixa a série cada vez mais intrigante. ‘Westworld’ tem uma trama inteligente e muito interessante, deixando qualquer um impressionado com sua qualidade. E claro, deixando todos boquiabertos com tantas reviravoltas surpreendentes.



Agora, vamos explicar um pouco sobre o parque (não é exatamente spoiler, afinal não conta o enredo mas explica bastante sobre a série, fica o aviso). Westworld é um mundo manipulado, uma espécie de parque turístico imenso que simula a vida no Velho Oeste. Ele é populado pelos “anfitriões”, robôs construídos minuciosamente para se parecerem, agirem e falarem como seres humanos. As pessoas normais, apelidadas de “convidados”, podem pagar para visitar esse mundo e ter experiências únicas lá dentro, que não teriam ou não conseguem ter na vida real. Mas para ter acesso a tal luxo, só pagando o elevado preço de quarenta mil dólares por dia. Esse lugar é controlado por uma grande empresa de mesmo nome, onde um vasto número de funcionários é responsável por construir e programar os robôs, mantê-los funcionando, além de inventar e manipular as pequenas histórias que eles devem exercer. Esses funcionários são separados por setores, por exemplo, o setor da Narrativa adiciona um histórico aos anfitriões (inventam histórias sobre os passados deles, para dar conteúdo ao robô), além de aumentar ou diminuir as características das personalidades de cada um, como “agressividade”, “lealdade” e “inteligência”, enquanto o setor do Comportamento precisar analisar minuciosamente cada robô, decidindo qual está em bom funcionamento para entrar no parque e qual não está, são os funcionários desse setor que são responsáveis por verificar se a programação de cada um está em perfeito estado, para não correr risco de um anfitrião sair do controle e machucar um convidado. Há também o setor de Qualidade que verifica qual robô está pronto e em boas condições para ser ativado e qual precisa ser desativado por conta de danificações externas ou internas.



Os anfitriões são inteiramente responsáveis pelo entretenimento dos convidados. Ajudar um idoso que tropeçou na rua ou pegar um pôster de um fugitivo procurado, desencadeia uma pequena aventura para o convidado (algo bem parecido com as side quests, que muitos estão acostumados a ver em jogos de videogame). Mas no entanto, aqueles que pagam para vagar nas terra de Westworld estão em busca de basicamente as mesmas coisas no faroeste: transar, beber e assassinar os anfitriões. Isso acaba fazendo com que muitos robôs estraguem com o tiro de uma bala ou uma facada, tendo que ir para o conserto frequentemente. Os anfitriões são programados para não lembrarem dos ocorridos, como se nada tivesse acontecido para eles. E com a memória sendo apagada tanto, eles vivem em um loop infinito. Vivendo o mesmo dia, fazendo as mesmas coisas, todos os dias. Só à espera de um convidado chegar e interagir com eles. Mas de alguma maneira, por um erro de programação ou algo desconhecido, alguns robôs estão tendo acesso às lembranças apagadas e começando a ter ideias sobre o mundo artificial em que vivem.



Além da trama principal (que na verdade é um emaranhado de pequenos arcos que se conectam por um ponto em comum, sem se focar em um personagem específico), ‘Westworld’ tem outro ponto forte: os diálogos e questionamentos. É incrível como no meio de tantas coisas acontecendo, os roteiristas ainda aderem com sucesso na história questões filosóficas ligadas aos seres humanos, a humanidade, os robôs e a inteligência artificial. E ainda levantam implicitamente a questão do uso excessivo da tecnologia, algo que lembra um pouco a premissa da série ‘Black Mirror’, agora da Netflix. E então, ‘Westworld’, além de ter uma história interessantíssima que mantém nós todos vidrados na tela, também abre espaço para excelentes pensamentos, poesias, divagações e leves doses de filosofia. Hora estamos empolgados com algum acontecimento drástico no parque de faroeste, hora estamos ouvindo palavras sábias e poéticas de Robert Ford sobre evolução, divindade e outros assuntos. A empatia que sentimos pelos robôs é outro ponto interessante do seriado. Sabemos que eles são programados e não são humanos, mas impossível não sentir algo em relação a eles. E mais impossível ainda, não sentirmos nada quando vemos o modo que cada convidado trata um anfitrião. Algo que inclusive, é discutida entre os personagens da série, gerando interessantes questionamentos. Essa dualidade do homem em relação aos robôs, nos lembra o clássico filme de Steven Spielberg, ‘A.I. – Inteligência Artificial’, de 2001. Sem contar que a série também tem vários easter eggs ligados aos filmes anteriores, que servem para alimentar mais e mais teorias.


Em relação ao elenco, há muito a dizer. São vários atores de peso que estão arrebentando no papel. Evan Rachel Wood (Across the Universe e O Lutador) como a anfitriã Dolores é um dos papéis de mais destaque. A atriz aparece constantemente na série e é um dos robôs de maior importância para o desenvolvimento da trama. A atriz está ótima no papel e consegue transmitir todos os pensamentos e dúvidas de Dolores para quem está assistindo, e acabamos presos nas divagações dela. Completando o elenco de anfitriões, temos Thandie Newton (À Procura da Felicidade e Missão Impossível 2), no papel da meretriz Maeve, dona de um dos arcos mais interessantes do seriado. E do já conhecido James Marsden (Hairspray e Encantada), no papel do cavaleiro Teddy, um anfitrião que parece fadado a sofrer. E ainda temos uma bela representação brasileira, Rodrigo Santoro impressiona como o misterioso antagonista do mundo de Westworld, Hector. O brasileiro já é conhecido por participar de produções internacionais, como o filme 300 e a aclamada série de TV, Lost, e não decepciona. As cenas em que os anfitriões conversam com os funcionários são interessantíssimas, vale destacar a ótima atuação do elenco dos robôs, que oscilam de sentimentos extremos à indiferença conforme a cena avança. E além disso, os diálogos são impecáveis, mostrando bem a dominação (e em outros casos, a falta de dominação) do homem sobre a máquina.



Agora, liderando o elenco de funcionários de Westworld, está Anthony Hopkins em um papel brilhante. Dr. Robert Ford é um dos criadores do parque, além de chefe da programação e presidente de Westworld. Foram duas pessoas responsáveis pela criação do “mundo” turístico, Ford e Arnold, mas apenas um deles continua vivo e trabalhando no parque. Há poucas informações sobre Arnold, apenas de que morreu dentro do parque há algum tempo, mas alguns acontecimentos dentro de Westworld parecem estar ligados a ele, o que o torna um dos principais mistérios da série. E completando o elenco de funcionários, temos ótimas atuações de Jeffrey Wright como Bernard Lowe, Shannon Woodward como Elsie Hughes e Sidse Babett Knudsen como Theresa Cullen. E agora para fechar o elenco de seres humanos, os convidados. Ed Harris é o Homem de Preto (seu nome é outro mistério da série), o convidado mais experiente de Westworld que cultiva a obsessão de conhecer todos os cantos do parque turístico e que agora está em busca do “labirinto”, um lugar que ninguém encontrou ainda e que está ligado a Arnold. Jimmi Simpson como William e Ben Barnes como Logan, formam uma dupla que busca aventuras em Westworld. No entanto, com interesses bem diferentes causando uma certa divergência entre eles. Como pode perceber, são muitos personagens e vários arcos, que só enriquecem mais e mais esse mundo. Mas vale lembrar que, no mundo de Westworld, nada é o que parece ser. Em cada episódio, há uma revelação a ser mostrada. E com cada uma delas, temos uma nova peça de um quebra-cabeça gigante que devemos montar.



Outro ponto forte em Westworld é a trilha sonora, tão peculiar e única quanto a série. A maioria é composta por covers de músicas conhecidas e todas são instrumentais tocadas em piano. Diversas foram tocadas e todas foram cuidadosamente colocadas em uma cena, assim quem prestar atenção, pode ver que as letras dela podem servir de significado para um determinado momento. Coveres de Radiohead, The Rolling Stones, Amy Winehouse, The Cure e Soundgarden foram as que mais se destacaram. Vale destacar que alguns foram tocadas por Ramin Djawadi, um velho conhecido da HBO por ser o responsável pela intro de Game of Thrones. É, com certeza, uma trilha sonora extremamente memorável. Além de combinar completamente com a série. Claro que não podemos deixar de falar sobre a intro de Westworld. Simples e objetiva, demonstra a montagem dos robôs, e ainda com uma cena interessante: a em que o piano se toca sozinho, uma metáfora aos anfitriões (e de certa maneira, de toda a série).





A adaptação da trama para os tempos atuais é interessante, tanto na história em si como nos efeitos especiais. Às vezes algumas séries pecam nos efeitos (por excesso ou por simplesmente ser mal feito), mas isso não é o caso de Westworld. A série tem excelentes efeitos especiais, além de vistas maravilhosas (que vale ressaltar, não são CGI). Visa um aspecto futurístico, mas sem se perder no exagero. Como era esperado, tem um plot maduro e sem receio de apresentar uma linguagem pesada, nudez e sangue. Westworld é uma série incrível, com qualidades muito marcantes. Não há queda alguma entre os episódios, todos são excelentes, em um equilíbrio perfeito. E mais ainda, com uma season finale de tirar o fôlego. Aqueles que experimentaram um pouquinho do mundo de Westworld, já se viciaram nos “devaneios” dessa série. Westworld com apenas um ano de vida já conquistou seu lugar como uma das melhores séries atualmente, com apenas dez ótimos episódios. É uma série diferente de todas as outras, que com certeza, continuará fazendo um imenso sucesso. Algumas fontes afirmaram que Jonathan Nolan e Lisa Joy escreveram material o bastante para cinco temporadas, então já podemos ficar animados que se depender da emissora, teremos muito mais Westworld! Que venha a segunda temporada!





Título Original: Westworld


Elenco: Evan Rachel Wood, Anthony Hopkins, Ed Harris, Thandie Newton, James Marsden, Jeffrey Wright, Shannon Woodward, Rodrigo Santoro, Angela Sarafyan, Luke Hemsworth, Simon Quarterman, Sidse Babett Knudsen, Ingrid Bolso Berdal, Jimmi Simpson, Ben Barnes, Tessa Thompson, Clifton Collins Jr.

Sinopse: O mau-funcionamento de um robô provoca destruição e terror para um grupo de pessoas que passa férias no Westworld, um parque de diversões futurístico para adultos. O Dr. Robert Ford (Anthony Hopkins) é o brilhante, taciturno e complicado diretor criativo, chefe de programação e presidente do parque, que tem várias ideias para melhorar o local – e métodos difusos de alcançá-las. Dolores Abernathy (Evan Rachel Wood) é uma típica garota de fazenda que vive na fronteira do parque, e está prestes a descobrir que toda a sua existência não passa de uma muitíssimo bem elaborada e arquitetada mentira.


Trailers:





“Esses prazeres violentos têm finais violentos.”



E você, o que achou de Westworld? Não esqueça de deixar seu comentário e suas teorias sobre a série!

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