Crítica: Sala Verde (Green Room, 2016, de Jeremy Saulnier)




‘Sala Verde’, ou no nome original ‘Green Room’ (como prefiro chamar) era um dos suspenses que mais prometiam desde o fim do ano passado, quando suas primeiras exibições chamaram a atenção. O filme indie e de baixo orçamento foi ovacionado pelos críticos por ser inteligente, forte, crítico e ter uma “pegada” que lembra vagamente os longas de Quentin Tarantino. Recentemente foi anunciada a morte do jovem ator Anton Yelchin, esmagado pelo próprio carro. O astro deixou vários filmes a ser lançados daqui pra frente, incluindo este – uma das últimas oportunidades de conferir este talento que se foi precocemente. Estes aspectos por si só já dão vontade de conferir o filme. Finalmente assistido, chegou a hora de avaliá-lo.


Dirigido pelo pouco conhecido cineasta Jeremy Saulnier, podemos dizer que o cara tem futuro. Vindos de filmes de baixo orçamento, como o bom ‘Blue Ruin’, suas produções trazem um clima noir escuro, drama íntimo minimalista e um estilo lento no início da produção, para depois entregar um final elétrico e tão pesado quanto um bom terror. Aqui, o ótimo roteiro acompanha uma banda independente de rock punk, que pega a estrada fazendo shows. Entre algumas paradas e algumas conversas existencialistas, o longa se apresenta como um particular drama “road movie”. Mas em uma dessas paradas para um show, uma situação foge de controle, o que leva a uma tragédia. A partir daí revela-se que onde eles estão, atuam ali um grupo de skinheads, seguidores dos nazistas, que os tentam matar a todo custo.




Entre várias reviravoltas, um tanto sutis mas inesperadas, temos um verdadeiro show de horror. As cenas de morte e gore são muito cruas, frias e chocantes, mesmo que não totalmente explícitas. Não é um ‘O Albergue’, que exagera no terror para chocar. É tudo mais natural e com ferimentos realistas, mas me atrevo a dizer que filmes mais realistas provocam mais. E aqui é o caso. Dentre bandeiras da suástica e pitbulls treinados para matar, o filme inteligentemente escancara o ódio sem razão que o grupo extremista nazista possui. Confesso que é assustador que há jovens ao redor do mundo que se envolvem neste submundo.




A bela fotografia privilegia os ambientes escuros e sujos, em um estilo underground, com paletas de cores escuras na maior parte, em outras de tons verdes, para combinar com a tal sala verde do título, onde a banda fica confinada. Além do verde contrastante, o início do filme mostra os jovens na estrada sempre com cores quentes, combinando com o sol, as paisagens e identificando que está tudo bem. No momento que o filme adentra no horror, propositalmente as cores se tornam sujas, sombrias e frias. Os personagens encontram-se na escuridão. Encontram-se na pior demonstração de ódio sem sentido. Anton Yelchin tem como sempre uma atuação boa, sempre contida e humilde, nunca brilha mais do que o necessário e esse era o grande talento do jovem, papéis simples e sinceros. Sempre sérios. A bela Imogen Poots também se sai bem, o melhor papel dela até aqui, mostrando força. E quem diria que o sempre amável Patrick Stewart (o eterno Professor Xavier – o velho) estaria tão assustador?


‘Green Room’ é um filme para corações e mentes fortes. Não agradará a todos e não passará por todos cinemas, o que é uma pena. É cinema indie puro, daqueles poucos conhecidos e de festivais. Mas é sem sombra de dúvidas, um dos thrillers mais provocantes do ano. Altamente elogiado pela crítica, é um dos melhores filmes do ano. Usa um clima de tensão crescente e cenas chocantes para tecer uma parábola, uma crítica contra o ódio discriminativo. Um filmaço, de belo visual, roteiro simples mas polêmico, com atuações sinceras e situações muito sufocantes. E aquelas cenas finais com os protagonistas e o cão pitbull são marcantes. Notamos todos ferimentos externos e internos que as atrocidades do homem causam. Palmas para um filme corajoso!


NOTA: 9






Título Original: Green Room

Direção: Jeremy Saulnier

Elenco: Anton Yelchin, Imogen Poots, Mark
Webber, Patrick Stewart, Alia Shawkat, Callum Turner, Eric
Edelstein, Joe Cole (VII), Kai Lennox, Macon Blair

Sinopse: um grupo musical de punk rock acaba testemunhando um crime e é trancafiada numa chamada sala verde. Lá eles são aterrorizados por um bando de skinheads, que pretende eliminar um a um os integrantes da banda.








Trailer:




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