O maior de todos problemas encontra-se na edição. Infelizmente não é um
filme, me nego a chamar de filme. É um amontoado de retalhos, cenas recortadas
das centenas de capítulos da novela. Tudo retalhado e embutido em 2 horas. Os
cortes são grotescos, sem lógica e absurdos. Até diálogos são cortados afim de
avançar logo a narrativa, percebe-se explicitamente de que há muita coisa
(diálogos, personagens e acontecimentos) não mostrados e descartados. As
atuações também não ajudam, são péssimas na verdade. Guilherme Winter como Moisés é muito fraco. Até que depois quando ele fica com barba melhora um pouco, acho que a barba tapou a falta de expressão dele. Mas quando jovem é de uma falta de sentimento apavorante. Um protagonista sem carisma, sem sal. O péssimo Sérgio Marone (sempre com rímel) como Ramsés é uma piada. Caricato ao extremo, tentou imitar Rodrigo Santoro como o Xerxes dos ‘300’, mas não tem força em cena. Sem falar na Giselle Itié, simplesmente não sabe atuar. Parece que recém saiu do Big Brother Brasil. O restante do elenco até tenta, mas não consegue. Quando temos alguma cena mais bem atuada e com algum bom diálogo, temos no final um discurso religioso pregado pela Universal, tentando forçar quem está assistindo o filme a ir na igreja deles. Temos claramente uma tentativa de fazer discípulos usando o filme. É brega, piegas e feio.
A caracterização de época até convence em poucas cenas. Mas aí vemos alguns penteados e utensílios modernos demais para aquele tempo. E quando temos atores e figurantes de peito depilado e malhadões vemos a palhaçada e falta de cuidado com a produção. Os efeitos especiais seriam bons para os padrões brasileiros nos anos 90, se bobear 80. Não sei o quanto pagaram para um estúdio americano (o mesmo de ‘The Walking Dead’) fazer aquelas computações, mas está na cara que gastaram dinheiro em vão. Não é culpa de quem produziu os efeitos, mas sim da equipe do filme, que não cobrou ou investiu em algo de qualidade. As cenas são risíveis. Os efeitos sonoros e a mixagem de som é terrível. Tem momentos em que não se entende o que falam. Ironicamente, justamente nas falas de Deus a mixagem se perde e quase não ouvimos o que se diz, tiraram a voz divina!
Vemos que a novela copiou descaradamente muita coisa da ótima animação ‘O Príncipe do Egito’, baseada em uma peça musical da Broadway. Copiou também um pouco do estilo visual de ‘Game of Thrones’ e mais uma vez copiou algumas cenas de luta em câmera lenta dos ‘300’. Porém tudo feito com classe C. O único ponto a favor do filme é a trilha sonora, que remete a algo épico, epicidade que o filme não possui. E para um filme de uma igreja que “prega” sobre Deus, é muito diferente da Bíblia. Está certo que ‘O Príncipe do Egito’ também é diferente, mas se trata de uma animação musical baseada em uma peça que tem como objetivo mostrar a relação fraterna de Moisés com o Faraó. Aqui em ‘Os Dez Mandamentos’ eles se preocupam tanto em pregar tentando trazer o povo para a Universal, que esquecem até de pregar da maneira correta. Exemplos: segundo a Bíblia, Moisés age conforme Deus manda, estendendo o bastão e outras coisas. Mas Arão, o irmão de Moisés é quem fala, é o porta voz, já que Moisés tinha problemas na fala (timidez, gagueira ou língua presa). No filme, vemos Moisés falando sem parar, enquanto que Arão faz os milagres, estende bastão e faz pose que parece filme de super herói. Arão agora virou um ‘X-Men’. Sem falar em diversas outras incoerências. A direção de Alexandre Avancini … bem nem existe direção aqui.
Quer ver bons filmes sobre Moisés? Veja o clássico ‘Os Dez Mandamentos’ de 1956 e vencedor do Oscar de Melhores Efeitos Visuais. Assista ao tão comentado ‘Príncipe do Egito’, uma animação emocionante e rica em detalhes. Veja até mesmo o mediano e político ‘Êxodo: Deuses e Reis’. Mas fuja da perda de tempo que é este retalho aqui. Parece um trailer de duas horas da novela. É péssimo em cada detalhe. E o pior é saber do recorde de bilheteria que o filme bateu com … salas vazias. Os próprios investidores da Universal compraram todos os ingressos e distribuíram aos crentes, lotando as poltronas na teoria. Mas poucos foram ver, com ingressos ganhos. Lavagem de dinheiro? Sempre tive a opinião de que a igreja Universal é uma empresa mafiosa e usa a Record como fachada e meio de entreter e cegar as pessoas. E o pior é que a novela acaba de ganhar uma segunda temporada (virou série?) e foram anunciados não apenas o segundo filme, mas a divisão Record Filmes. Medo do que virá. O Brasil não tem um histórico de filmes de terror. Mas de tempos em tempos lança um ‘Cinderela Baiana’, ‘Xuxa e os Duendes’ ou este ‘Os Dez Mandamentos’, filmes que botam medo em qualquer um. Disparado o pior filme do ano e um dos piores que vi na vida. Vergonha nacional.
NOTA: 0,5 (de 0 a 10)
Rodrigues, Denise Del
Vecchio, Gabriela
Durlo, Giselle
Itié, Guilherme Winter, Juliana Didone, Larissa Maciel, Mel Lisboa, Paulo
Gorgulho, Pérola
Faria, Petronio
Gontijo, Roberta
Santiago, Sérgio Marone, Sidney Sampaio, Tammy Di Calafiori, Vera Zimmermann, Victor
Pecoraro e Zécarlos
Machado.