Crítica: Os Dez Mandamentos (2016, de Alexandre Avancini) Filme nacional é sucesso de bilheteria mas vergonha para nosso cinema!



A novela bíblica de enorme sucesso da Record ganhou um filme. Ainda acho o nosso cinema muito fraco e sou entusiasta sobre produções diferenciadas e que o Brasil não costuma fazer. Esta seria a chance do nosso país fazer um épico de qualidade. Porém a chance é desperdiçada com “louvor”. Não julgarei a novela pois não vejo novelas. Só sei que fez um grande sucesso e acredito que ela tenha alguma qualidade ao longo dos seus capítulos, mesmo que arrastada. Porém ao conferir o filme, não tem como não jogar pedras. Não sou contra filmes bíblicos. Eu mesmo tenho uma fé e como cinéfilo já vi bons filmes com esta temática, uns mais fiéis à Bíblia e outros não, porém com qualidade cinematográficas boas. Julgando o caráter cinematográfico desta produção, já vou dizendo que de cinema não há nada. Não existe sétima arte aqui.



O maior de todos problemas encontra-se na edição. Infelizmente não é um
filme, me nego a chamar de filme. É um amontoado de retalhos, cenas recortadas
das centenas de capítulos da novela. Tudo retalhado e embutido em 2 horas. Os
cortes são grotescos, sem lógica e absurdos. Até diálogos são cortados afim de
avançar logo a narrativa, percebe-se explicitamente de que há muita coisa
(diálogos, personagens e acontecimentos) não mostrados e descartados. As
atuações também não ajudam, são péssimas na verdade.
 Guilherme Winter como Moisés é muito fraco. Até que depois quando ele fica com barba melhora um pouco, acho que a barba tapou a falta de expressão dele. Mas quando jovem é de uma falta de sentimento apavorante. Um protagonista sem carisma, sem sal. O péssimo Sérgio Marone (sempre com rímel) como Ramsés é uma piada. Caricato ao extremo, tentou imitar Rodrigo Santoro como o Xerxes dos ‘300’, mas não tem força em cena. Sem falar na Giselle Itié, simplesmente não sabe atuar. Parece que recém saiu do Big Brother Brasil. O restante do elenco até tenta, mas não consegue. Quando temos alguma cena mais bem atuada e com algum bom diálogo, temos no final um discurso religioso pregado pela Universal, tentando forçar quem está assistindo o filme a ir na igreja deles. Temos claramente uma tentativa de fazer discípulos usando o filme. É brega, piegas e feio.




A caracterização de época até convence em poucas cenas. Mas aí vemos alguns penteados e utensílios modernos demais para aquele tempo. E quando temos atores e figurantes de peito depilado e malhadões vemos a palhaçada e falta de cuidado com a produção. Os efeitos especiais seriam bons para os padrões brasileiros nos anos 90, se bobear 80. Não sei o quanto pagaram para um estúdio americano (o mesmo de ‘The Walking Dead’) fazer aquelas computações, mas está na cara que gastaram dinheiro em vão. Não é culpa de quem produziu os efeitos, mas sim da equipe do filme, que não cobrou ou investiu em algo de qualidade. As cenas são risíveis. Os efeitos sonoros e a mixagem de som é terrível. Tem momentos em que não se entende o que falam. Ironicamente, justamente nas falas de Deus a mixagem se perde e quase não ouvimos o que se diz, tiraram a voz divina!




Vemos que a novela copiou descaradamente muita coisa da ótima animação ‘O Príncipe do Egito’, baseada em uma peça musical da Broadway. Copiou também um pouco do estilo visual de ‘Game of Thrones’ e mais uma vez copiou algumas cenas de luta em câmera lenta dos ‘300’. Porém tudo feito com classe C. O único ponto a favor do filme é a trilha sonora, que remete a algo épico, epicidade que o filme não possui. E para um filme de uma igreja que “prega” sobre Deus, é muito diferente da Bíblia. Está certo que ‘O Príncipe do Egito’ também é diferente, mas se trata de uma animação musical baseada em uma peça que tem como objetivo mostrar a relação fraterna de Moisés com o Faraó. Aqui em ‘Os Dez Mandamentos’ eles se preocupam tanto em pregar tentando trazer o povo para a Universal, que esquecem até de pregar da maneira correta. Exemplos: segundo a Bíblia, Moisés age conforme Deus manda, estendendo o bastão e outras coisas. Mas Arão, o irmão de Moisés é quem fala, é o porta voz, já que Moisés tinha problemas na fala (timidez, gagueira ou língua presa). No filme, vemos Moisés falando sem parar, enquanto que Arão faz os milagres, estende bastão e faz pose que parece filme de super herói. Arão agora virou um ‘X-Men’. Sem falar em diversas outras incoerências. A direção de Alexandre Avancini … bem nem existe direção aqui.


Quer ver bons filmes sobre Moisés? Veja o clássico ‘Os Dez Mandamentos’ de 1956 e vencedor do Oscar de Melhores Efeitos Visuais. Assista ao tão comentado ‘Príncipe do Egito’, uma animação emocionante e rica em detalhes. Veja até mesmo o mediano e político ‘Êxodo: Deuses e Reis’. Mas fuja da perda de tempo que é este retalho aqui. Parece um trailer de duas horas da novela. É péssimo em cada detalhe. E o pior é saber do recorde de bilheteria que o filme bateu com … salas vazias. Os próprios investidores da Universal compraram todos os ingressos e distribuíram aos crentes, lotando as poltronas na teoria. Mas poucos foram ver, com ingressos ganhos. Lavagem de dinheiro? Sempre tive a opinião de que a igreja Universal é uma empresa mafiosa e usa a Record como fachada e meio de entreter e cegar as pessoas. E o pior é que a novela acaba de ganhar uma segunda temporada (virou série?) e foram anunciados não apenas o segundo filme, mas a divisão Record Filmes. Medo do que virá. O Brasil não tem um histórico de filmes de terror. Mas de tempos em tempos lança um ‘Cinderela Baiana’, ‘Xuxa e os Duendes’ ou este ‘Os Dez Mandamentos’, filmes que botam medo em qualquer um. Disparado o pior filme do ano e um dos piores que vi na vida. Vergonha nacional.


NOTA: 0,5 (de 0 a 10)




Direção: Alexandre Avancini

Elenco: Camila
Rodrigues
, Denise Del
Vecchio
, Gabriela
Durlo
, Giselle
Itié
,
Guilherme Winter, Juliana Didone, Larissa Maciel, Mel Lisboa, Paulo
Gorgulho,
Pérola
Faria,
Petronio
Gontijo,
Roberta
Santiago, Sérgio Marone, Sidney Sampaio, Tammy Di Calafiori, Vera Zimmermann, Victor
Pecoraro
 e Zécarlos
Machado.


Sinopse: adaptação cinematográfica baseada na Bíblia e na célebre novela homônima da Rede Record, um dos maiores fenômenos de audiência dos últimos tempos da televisão brasileira. A épica e emocionante saga de Moisés, retratada na novela, que cobre mais de cem anos de história e adapta livremente quatro livros da Bíblia, ganhará cenas inéditas e um final diferente do veiculado na televisão.

Trailer:










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