Crítica: No Coração do Mar (2015, de Ron Howard)


No Coração do Mar traz a história real do naufrágio do navio Essex, que posteriormente originaria o livro Moby Dick, um marco na literatura mundial e que já ganhou alguns filmes antigos. Aqui acompanhamos Chris Hemsworth (o Thor) numa boa atuação como o suboficial do Essex, que junto com o ganancioso capitão e sua tripulação, tentam sobreviver após o encontro com a grande criatura. O filme que estreou em Dezembro não fez muito sucesso, possivelmente por sair logo após o último Jogos Vorazes e um pouco antes do novo Star Wars, o que acabou deixando-o em um período de forte concorrência. Muito se disse que poderia chegar no Oscar, algo que também não ocorreu. Mas julgar este filme como ruim é um engano.


A sua trama tem seus clichês, é verdade. Mas tem grandes momentos também. O longa parece uma mistura de As Aventuras de Pi, Náufrago e Moby Dick. Embora o embate contra a baleia seja tenso, a sobrevivência em alto mar também é um grande desafio para os personagens. Embora nada explícito, algumas questões como fome, desidratação e até mesmo canibalismo são mostradas. Apesar que eles queiram matar o animal, a loucura e obsessão aqui retratados é em busca do dinheiro, do óleo da baleia (que servia como combustível na velha Inglaterra) e do chamado “avanço”. Estas questões são realistas e plausíveis.



Ao longo da jornada acompanhamos junto com o protagonista a mudança de visão. O animal é uma força da natureza, uma forma de dizer que a matança desenfreada destes animais é algo cruel. Ironicamente, ao mesmo tempo em que sentimos pena dos animais mortos friamente, torcemos para que os personagens sobrevivam às situações extremas. Assim a moral e o roteiro do filme se tornam ambíguos, trazendo à tona a questão do que é preciso para sobreviver.




Visualmente, mesmo que às vezes exagerado, o filme cumpre muito bem este requisito. A baleia digital é muito bem feita, conseguimos sentir sua ira, força e nas cicatrizes perto do olho, sua tristeza e vontade de proteger as outras. A fotografia quase sempre azul é linda, com breves momentos avermelhados (cenas de sol ou de incêndio) contrastando assim nas lentes da câmera. A ação é empolgante e muito bem dirigida pelo competente e eclético Ron Howard. Alguns ângulos de câmera são muito inspirados e ousados, o cineasta filma de jeitos não muito usuais, principalmente nas cenas em alto mar, algo similar em As Aventuras de Pi. A criação, design, direção de arte, figurino e maquiagem de época estão ótimos. Embora não mostre tanto, a caracterização dos homens em alto mar, magros e com longa barba; também é convincente. A trilha sonora também é boa e se torna mais marcante na hora final do filme.


No Coração do Mar passou despercebido pelo público e crítica, esnobado pelo Oscar. Uma pena. É um belo épico em alto mar, eletrizante e emocionante. Algumas situações são fortes e a atuação coadjuvante do Cillian Murphy em determinada cena é espetacular. Dentre tantos filmes lançados de 2015, este é um não tão lembrado, mas que é ótimo. Um belo entretenimento, que ao mesmo tempo nos traz uma história de sobrevivência e faz-nos refletir sobre o respeito que devemos ter pelos animais. Especialmente as baleias, muito mais inteligentes e fortes do que imaginamos. E mesmo nas partes mais fantasiosas, que podemos chamar de “histórias de pescador”, o filme cumpre seu objetivo de entreter.

Direção: Ron Howard

Elenco: Chris Hemsworth, Benjamin Walker, Cillian Murphy, Ben Whishaw, Paul Anderson, Tom Holland, Charlotte Riley, Joseph Mawle, Jamie Sives.

Sinopse: no inverno de 1820, o barco baleeiro da Nova Inglaterra Essex foi atacado por algo em que ninguém podia acreditar: uma baleia de imenso tamanho e determinação, e um sentido de vingança quase humano. O desastre marítimo que ocorreu na vida real inspiraria Melville a escrever Moby-Dick. Entretanto, o livro contou apenas metade da história. No Coração do Mar revela as terríveis consequências do encontro, à medida que a tripulação sobrevivente do barco é levada aos seus limites e forçada a fazer o impensável para permanecer viva. Enfrentando tempestades, fome, pânico e desespero, os homens serão levados a questionar suas crenças mais profundas, do valor de suas vidas à moralidade de sua atividade, enquanto seu capitão busca orientação no mar aberto e seu primeiro suboficial ainda tenta derrotar a grande baleia.


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