Crítica: Jogos Vorazes: A Esperança – O Final (2015, de Francis Lawrence) – A saga chega ao fim!

A franquia Jogos Vorazes sempre sofreu certo preconceito, devido à má fama que a saga Crepúsculo trouxe para os filmes voltados ao público adolescente. Mas contrariando esta fama, a saga se mostrou sólida, com grandes bilheterias, críticas favoráveis e fez fãs ao redor do mundo. E o grande trunfo da saga é justamente ter elementos contrários aos de Crepúsculo. Aqui temos um roteiro que traz uma crítica político-social, temos boas cenas de ação, temos uma história interessante e convincente, além do principal: uma protagonista forte.

Se nos dois primeiros filmes vemos o horror das arenas, uma forma do governo distrair e pôr medo na população, e no terceiro vemos toda trama política, nos preparando para a guerra, aqui neste capítulo final vemos a guerra, bem menos explícita do que imaginávamos. Muitos se decepcionaram pelo fato de não haver grandes cenas de ação e lutas. Mas a verdade é que Jogos Vorazes sempre focou mais nos bastidores do que nos eventos em si. Acompanhamos Katniss, a garota propaganda da guerra e da rebelião e como ela acaba tornando-se mais do que um tordo, um símbolo. Vemos o crescimento da personagem, as mudanças da visão dela sobre política e sobre dever. Ela aceita seu lugar no tabuleiro.

Claro que o filme poderia ter tido um embate a mais no final. Outro ponto que muitos reclamam é a relação de Katniss com os dois rapazes, dividia até o fim. Isto realmente poderia ter se resolvido mais rápido, mas como estamos diante um filme para o público em geral, é normal termos alguns clichês. Outro defeito que para mim foi o maior é a pouca importância que a morte de determinada personagem tem. Tudo é muito rápido e não vemos sofrimento suficiente por parte dos próximos a ela. Fora estes derrapes que impedem do filme ser perfeito, ainda assim é um grande entretenimento.

Há cenas de ação extremamente sufocantes e bem elaboradas, como a da armadilha de piche e a intensa sequência nos esgotos, onde há várias criaturas mutantes no melhor estilo Nêmesis de Resident Evil. Os efeitos sonoros aqui estão estarrecedores, os efeitos especiais são ótimos e melhores que nos filmes anteriores. O designe de produção dos cenários, os figurinos, maquiagens e penteados nos atores estão extremamente bem executados. O contraste de cores em várias cenas (como o vermelho se destacando no branco) são de encher os olhos e há significados implícitos.

O elenco é um grande trunfo. Liam Hemsworth é o único elo fraco. Já Josh Hutcherson está a vontade e bem no papel. Temos coadjuvantes de luxo, como Elizabeth Banks, Woody Harrelson, Stanley Tucci, o saudoso Philip Seymour Hoffman e a grande Julianne Moore. Natalie Dormer (da série Game of Thrones) e Jena Malone são duas jovens atrizes de respeito, que tem desenvoltura e estilo próprio em cena. Apesar de todos estes mandarem muito bem, no final das contas o filme é mesmo dela, Jennifer Lawrence. A jovem atriz que já tem um Oscar pelo seu papel em O Lado Bom da Vida prova por que merece aquele prêmio, atuando simplesmente com o olhar em diversas cenas, muitas delas sofridas. Ela é de fato a grande jovem atriz da atualidade.

Jogos Vorazes poderia ter se vendido para o megalomaníaco. Mas o final foi contido, com reviravoltas, tristes perdas e sacrifícios. Neste desfecho agridoce, o que mais fica é uma sensação obscura. A jornada de uma heroína sofrida, um mártir em prol do povo e do bem maior. Fica também a tenebrosa ideia de que qualquer um que se envolva na política seja corruptível, podre e capaz de tudo pelo poder. E mesmo que seja uma perspectiva negra, é realista. No fundo é disto que a saga trata.

Em uma era onde tudo é de fácil acesso virtual e todos se acham revolucionários nas redes sociais, as coisas mais básicas e importantes ainda são inacessíveis. Traçando um paralelo, a saga sempre trouxe um texto contra o governo autoritário, o entretenimento que distrai as massas (reality shows são como “pão e circo” do Império Romano) e diversas discussões político-sociais bem atuais. Vivemos inclusive em um momento de crise, onde de maneiras diferentes e sutis acontecem “jogos” por assim dizer com o povo, que está com a mente entorpecida. E quando um filme com teor adolescente levanta estas discussões, merece certa atenção. Este foi um final agridoce decente, realista na medida do possível. E realmente Jennifer Lawrence é uma das grandes atrizes da atualidade, uma protagonista forte, bem diferente da maioria das sagas adolescentes. Uma saga que deixou sua marca no cinema, que fugiu do simples e do vazio. Que fez sua parte em deixar uma mensagem de alerta para todos nós. E que nós façamos nossa parte de sermos como Katniss e não sermos coniventes com os problemas que nos cercam.

Direção: Francis Lawrence

Elenco: Jennifer Lawrence, Natalie Dormer, Gwendoline Christie , Elizabeth Banks, Elden Henson, Julianne Moore, Sam Claflin, Liam Hemsworth, Jena Malone, Josh Hutcherson, Woody Harrelson, Stanley Tucci, Philip Seymour Hoffman, Michelle Forbes, Willow Shields.

Sinopse: com a nação de Panem em uma guerra de grande escala, Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) enfrenta o Presidente Snow (Donald Sutherland) em um confronto final. Junto de um grupo de seus amigos mais próximos – incluindo Gale (Liam Hemsworth), Finnick (Sam Claflin) e Peeta (Josh Hutcherson) – Katniss sai em uma missão com a unidade do Distrito 13, a medida que eles arriscam suas vidas para libertar os cidadãos de Panem, e encenar uma tentativa de assassinato contra o Presidente Snow, que se tornou cada vez mais obcecado com a destruição dela. As armadilhas mortais, os inimigos e as escolhas morais que esperam por Katniss irão desafiá-la mais do que qualquer arena que ela enfrentou.

Trailer:

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