ILUSÕES BRASILEIRAS ESPELHADAS PELA ALMA FEMININA DEVASSADA PELO OLHAR MASCULINO

Valendo-se de referências pasolinianas, glauberianas e surrealistas de Buñuel, Das tripas coração (1982), terceiro longa-metragem de Ana Carolina Teixeira Soares, é obra transgressora, considerando-se principalmente o momento da realização, quando o regime de 1964 chegava ao fim. Extremamente alegórico, alimenta-se de imagens românticas e modernistas misturadas na carnavalização da realidade. Aparentando explorar de forma cirúrgica os desvãos da alma feminina a partir de um devaneio masculino, também enfoca o Brasil, situando-o metaforicamente na encruzilhada de suas possibilidades e frustrações numa época perpassada por otimismo e perplexidade. O comentário é de 1984.





Título Original: Das tripas coração 


Direção: Ana Carolina Teixeira Soares

Produção: Veze Zahram, Jacques Eluf

Distribuidora: Crystal Cinematográfica, Taba Filmes, Embrafilme

País/Ano: Brasil — 1982

Elenco: Dina Sfat, Xuxa Lopes, Maria Padilha, Antônio Fagundes, Cristina Pereira, Ney Latorraca, Christiane Torloni, Nair Belo, Myrian Muniz, Eduardo Tornaghi, Othon Bastos, Ana Maria Abreu, Solange Alfane, Bibi Amaral, Vera Barbosa, Patricio Bisso, Nereide Bonamico, Clotilde Borges, Cláudia Damácio, Isadora de Farias, Emile Edde, Cristina Ferreira, Denise Franco, Alvaro Freire, Stela Freitas, Rita Galvão, Sandra Ghiraldini, Silvana Ghiraldini, Janini Goldfeld, Jobelsina Gomes, Nícia Guerreiro, Maria Guimarães, Mira Haar, Célia Helena, Iacov Hilel, Isa Kopelman, Suzana Lakatos, Carla Leirner, Margareth Lemos, Marli Levin, Vera Souza Lima, Lúcia Machado, Noêmia Mandelbaum, Lucélia Maquiavelli, Eliza Monteiro, Edna Meire Moraes, Rosaly Moreno, Zica Neiame, Áurea Novaes, Carmen Pereira, Thelma Rebello, Ivete Rocha, Noeli Santisteban, Noêmia Scaranelli, Isabela Secchim, Lúcia Segall, Ilana Sherl, Raquel Silber, Maria do Carmo Sodré, Renata Sofredini, Simone Sofredini, Wilma So So, Carmem Tavares, Deborah Zilber.

Um colégio tradicionalista, de orientação católica, voltado exclusivamente ao ensino de moças é o cenário único à ação de Das tripas coração — terceiro longa-metragem de Ana Carolina Teixeira Soares, ou simplesmente Ana Carolina, como costuma ser registrada. A instituição — há muito operando no vermelho, com suspeitas de desvios de recursos —, prestes a fechar as portas, recebe a visita de um interventor (Fagundes). O local, transferido a uma incorporadora, dará lugar a moderno e eficaz empreendimento comercial — antecipa o personagem para a aluna curiosa e inconveniente que se adianta para recebê-lo à entrada do estabelecimento.

Enquanto aguarda a reunião com as responsáveis pela instituição, o interventor adormece durante breves cinco minutos — tempo suficiente para um devaneio surrealista, anárquico e visceral. Sonha que é o professor Guido. Como tal, envolve-se sem meias medidas com alunas, diretoras, inspetoras, professoras e faxineiras por salas de aula, gabinetes, corredores e espaços religiosos. No delírio, todo o colégio, em seus aspectos humanos e geográficos, é devassado. O ambiente explode na exposição e liberação de desejos reprimidos no campo da sexualidade feminina a partir do ponto de vista masculino. A irracionalidade impera. Padrões de decoro, códigos elementares de conduta, o respeito à autoridade e a reverência que cerca os símbolos, rituais e discursos religiosos são submetidos à implacável transgressão e revirados pelo avesso.

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